Pode parecer absurdo para quem acompanhou a transmissão do Superbowl, pela madrugada dentro, mas as medições de audiência nos Estados Unidos dizem que, contrariando as evidências, Beyoncé goleou Obama mas não ganhou a Madonna na noite do Superbowl.

Os valores divulgados pela CBS, nesta segunda-feira, acabam por deixar alguma margem para deceção, já que o guião da final, com vitória tangencial (34-31) dos Ravens sobre os 49ers, era perfeito para colar espectadores ao ecrã. O mesmo pode ser dito das histórias que o rodearam, desde o confronto de irmãos entre os treinadores John e Jim Harbaugh, à despedida do linebacker Ray Lewis, passando pela chegada ao palco supremo de Michael Oher o tal cuja vida deu um filme.

Mas os 108,4 milhões de espectadores registados no terceiro programa mais visto na história da televisão americana, ficam aquém das duas edições anteriores do troféu, transmitidas respetivamente pela FOX (111 milhões) e pela NBC (111,3). Foi o fim de um ciclo de três anos consecutivos em que o Superbowl bateu recordes, superando o histórico último episódio da série televisiva MASH, em fevereiro de 1983.

A CBS optou por valorizar o facto de o rating da transmissão, fixado em 48,1, com 71% de share, ser o melhor de sempre, superando os 47,8 de há um ano. Mas bem pode lamentar a prolongada falha elétrica que atingiu o Superdome de Nova Orleães e levou a uma interrupção do jogo no início do terceiro quarto, que durou 34 minutos. Pode também lamentar (mas não é crível que o faça publicamente) a falta de agilidade para manter a programação viva, nos intermináveis minutos de escuridão.

Madonna-Beyoncé, 114-100

Mais surpreendente é a análise ao habitual espectáculo de intervalo, desta vez protagonizado por uma muito elogiada Beyoncé. Apesar da espectacularidade da actuação, com uma reunião das Destiny Child como bónus, os números finais da cantora texana (100 milhões de espetadores e 71 de share durante a «sua» meia hora) não superam o resultado obtido pela performance polémica de Madonna há um ano (72 por cento de share e 114 milhões de espectadores, mais três milhões do que o próprio jogo).

Ainda assim, mesmo sem bater recordes, a noite acidentada confirmou o Superbowl como a maior instituição anual da TV nos Estados Unidos, com as três últimas edições a ocuparem o pódio dos programas mais vistos de sempre.

A título de comparação, o número estimado de espectadores que acompanharam a cobertura noticiosa das últimas eleições presidenciais não foi além dos 77 milhões, no conjunto das 13 emissoras com programação especial.

Atrás da final da Champions

Porém, e mesmo que o futebol americano seja um fenómeno de popularidade crescente fora dos States, o âmbito relativo restrito do evento (mais de 90 por cento da sua audiência reside nos Estados Unidos) deixa-o bem atrás na comparação com as audiências de fenómenos ocasionais como as cerimónias de abertura dos Jogos Olímpicos (em 2008, só na China, houve 393 milhões de espectadores a acompanhar a transmissão) ou a final do Campeonato do Mundo (audiência global de 715 milhões, para a de 2010, segundo a FIFA).

Mesmo no que se refere a acontecimentos desportivos anuais, o Superbowl perde sistematicamente na comparação com a final da Liga dos Campeões, que tem um impacto muito superior no mercado televisivo da Ásia e atinge facilmente valores acima dos 200 milhões. Já para não falar de fenómenos como o críquete, muito distantes para os telespectadores não britânicos, mas de números globais impressionantes: o recorde vai para a meia-final do último campeonato do Mundo, entre a Índia e o Paquistão, que em março de 2011 terá reunido, segundo o Guardian, um pouco menos de mil milhões de espectadores na audiência global, com os 1200 milhões de indianos garantindo a parte de leão.