A criação da Superliga Europeia encontra algumas semelhanças na Euroleague Basketball. Não só pelo movimento dos clubes mais ricos, mas também por todas as consequências e decisões jurídicas que daí vieram e podem vir.

O anúncio dos 12 clubes que chocou o futebol mundial é muito parecido com o que os emblemas mais ricos do basquetebol europeu [alguns deles, os mesmos da Superliga] fizeram em 2000. Tiveram sucesso, diga-se, apesar de todas as ameaças e tentativas de exclusões.

A fuga dos ricos

A Euroliga era uma prova da FIBA Europa [o equivalente à UEFA]. No entanto, a 1 de julho de 2000, os clubes mais ricos formaram a Euroleague Basketball [entidade] à rebelia da organização que tutelava o basquetebol europeu e, por consequência, à FIBA. A Euroleague Basketball tornou-se, assim, uma organização própria e criou duas provas: a Euroleague [a principal] e a Eurocup [o equivalente, vá, à Liga Europa].

Passados quatro anos e uma tentativa falhada de criar uma competição própria, a FIBA Europa validou as duas provas da Euroleague Basketball: a também denominada Euroleague e a Eurocup.

A tentativa de reaver controlo e os tribunais

Quinze anos depois da fuga dos ricos, a FIBA tentou reaver algum do controlo. A FIBA não só tentou convencer o regresso de alguns desses clubes, num esforço em vão, como arrancou com uma nova prova: a Basketball Champions League.

Começou uma nova disputa, com ameaças incluídas. A primeira diretamente às federações dos clubes que optaram e se mantiveram na Euroleague: em causa estava a participação no Eurobasket 2017, ou seja, o europeu da modalidade.

Aqui reside uma diferença para o que sucede no futebol, pois as federações nacionais já concordaram com uma posição conjunta com a UEFA.

No basquetebol, vários responsáveis federativos contestaram a posição da FIBA e a Euroleague Basketball foi para os tribunais pedir uma providência cautelar para impedir as sanções.

A 2 junho, um juiz deferiu essa providência. Ou seja, a FIBA e a FIBA Europa não puderam sancionar direta ou indiretamente clubes, ligas ou federações nacionais caso os seus clubes participassem na Euroleague ou Eurocup, assim como excluir as seleções de torneios organizados pela própria FIBA e FIBA Europa.

Volte-face na decisão

A providência cautelar não afetou, porém, a decisão final e 21 dias depois, um Tribunal de Munique levantou a suspensão o que permitiu à FIBA sancionar clubes, ligas e federações. A Euroleague Basketball defendeu que essa decisão não teve por base a questão principal em si, mas sim elementos processuais, nomeadamente a data da queixa.

A FIBA respondeu e argumentou que, de qualquer modo, a decisão do Tribunal vinculava os argumentos da FIBA Europa: de que eram a suprema autoridade no basquetebol do continente.

Mais ameaças

Tentativas de aproximação falharam e a FIBA até argumentou que a providência serviu apenas para que os clubes se registassem nas provas antes de uma decisão. Porém, voltou à carga e algumas federações europeias suspenderam clubes das provas domésticas e os italianos saíram da Eurocup.

Para além disso, tentou uma espécie de acordo com a Euroleague Basketball: o vencedor da Champions League da FIBA teria acesso à Euroleague dos ricos. A Euroleague Basketball rejeitou esta ideia. O argumento? Seria passar do terceiro escalão europeu para o primeiro, ignorando a Europcup. A Euroleague Basketball foi mais longe até, dando a ideia de que aceitaria de volta os clubes italianos à Eurocup.

Em 2017, a federação italiana deu liberdade de escolha aos seus clubes, o que foi uma vitória para a Euroleague Basketball. 

Quanto às seleções? A Euroleague Basketball afirmou, com todas as letras, que os seus jogadores não seriam obrigados a participar em jogos de qualificação de seleções.

Apesar do braço de ferro constante, hoje, as duas principais provas europeias são a Euroleague e a Eurocup. A fuga dos ricos continua a resultar.