A poucos dias da Supertaça entre Benfica e Sporting, Bruno Lage e Marcel Keizer trocaram passes para uma conversa em moldes diferentes dos habituais no Canal 11.

Os técnicos de águias e leões questionaram-se a propósito de vários assuntos. O troféu de abertura da temporada 2019/20 foi o pano de fundo de uma conversa sobre futebol, mas que não se ficou apenas pelo jogo agendado para domingo no Estádio Algarve.

Lage e Keizer foram, inclusive, desafiados a eleger os jogadores que mais admiram no rival e cada um optou por escolher dois.

«Gosto muito de médios, porque os médios são os jogadores da equipa que conseguem fazer mais coisas. Não são especialistas em nada, mas são regulares. O Bruno Fernandes, a par do Herrera, eram para mim os dois melhores médios na época passada. O Bruno é muito forte a ligar o jogo na construção, baixa para ligar jogo, é forte entre linhas, sabe rodar e ocupar os espaços nas costas do médio para ficar de frente para os defesas. É forte no remate e ataca bem a profundidade», começou por apontar o técnico dos encarnados, que identificou ainda um jogador do setor defensivo leonino.

«Gosto muito do Mathieu. O pé esquerdo, a maneira como constrói jogo. É uma coisa que o adepto não nota muito a olho nu. (…) Com ele, a linha defensiva tem outro comportamento», frisou.

Keizer dividiu os elogios entre Grimaldo e Pizzi. «Jogadores assim são úteis para uma equipa», apontou o holandês acerca do espanhol, que disse ter a capacidade de se tornar num médio extra para a equipa em que atua. «Acho o mesmo do Pizzi. Um jogador que joga fora e dentro», disse.

Os dois técnicos partilharam ainda a visão que têm sobre o adversário da Supertaça e com base naquilo que experienciaram nos últimos meses, durante os quais se defrontaram em três ocasiões.

«Se me disseres o onze, posso comentar», brincou Keizer antes de seguir em frente. «Penso que a filosofia do treinador e do clube [Benfica] é clara. Muitos movimentos entre linhas, ao estilo do futebol moderno. É claro que é uma nova época, com novos jogadores, e temos de ajustar um pouco.»

E acrescentou: «No ano passado, a equipa [do Benfica] era boa, a melhor do campeonato.»

«Ainda não sei bem que tipo de Sporting posso encontrar, mas por aquilo que vimos no ano passado e que tentamos ver agora, será um Sporting igual ao do ano passado, com o objetivo de ter a bola, controlar o jogo, procurar a baliza adversária e jogar de forma agradável. Um pouco o registo do treinador», destacou Lage, manifestando ainda algumas dúvidas acerca do esquema que o técnico holandês vai escolher quando as equipas entrarem em campo.

«Sendo um treinador holandês, essa linha de jogar com cinco jogadores atrás é uma linha mais ofensiva. Essa será a grande questão. Só no dia do jogo iremos saber. Só se o Marcel [Keizer] disser alguma coisa [risos].

A conversa teve sorrisos e momentos de partilha de valores, sobretudo quando o assunto ultrapassou o retângulo de jogo. Confidências – «Nunca imaginei que poderia chegar a este nível como treinador, eventualmente sim como treinador adjunto», disse Lage – partilhas de angústias e a família sempre acima do futebol, ainda que o desporto seja, para eles, indissociável de tudo o resto.

Já perto do final da conversa, que foi dividida em três atos, Keizer perguntou sobre a importância que Jaime Graça, glória do Benfica e do futebol português, teve no percurso de Lage. «Talvez tu tenhas uma pessoa assim para além das pessoas da família: alguém de fora que te tenha marcado. Foi com o Jaime Graça que dei alguns passos importantes na minha evolução como treinador. Curiosamente foi ele que me emprestou as cassetes VHS sobre o Ajax», disse, comprovando uma história já partilhada com o Maisfutebol por Cláudio Saúde, amigo e antigo companheiro de equipa de Bruno Lage e hoje vice-presidente da Associação Nacional dos Treinadores de Futebol.

«Enquanto jogador, treinador e homem foi uma pessoa que me marcou muito. Pela sua simplicidade. Tinha a característica de ser um homem simples que não deixavam de ser um homem ambicioso. E quem foi o teu Jaime Graça?», devolveu o treinador do Benfica.

«Tenho alguns exemplos de treinadores holandeses holandeses. A filosofia de Cruyff… Conheci-o por pouco tempo, quando eu era jogador do Ajax e ele era treinador. Tinha 18 anos, mas consigo lembrar-me. Depois, mais tarde, com o Van Gaal foi a mesma coisa. Eram muito bons a treinar, mas também excelentes pessoas. Esses dois treinadores tiveram um grande impacto para mim.»