Depois do empate frente ao México na estreia, em Kazan, a seleção portuguesa prepara-se para um jogo vital na luta por um lugar de acesso às meias-finais da Taça das Confederações.

Em Moscovo, no Spartak Stadium, a equipa de Fernando Santos defronta a anfitriã Rússia, com a certeza de que a derrota a deixa praticamente afastada do objetivo e qualquer outro resultado mantém a equipa na discussão.

De todas as formas, será altamente improvável chegar aos quatro melhores na base de empates (tal como aconteceu em França no ano passado), por isso o melhor mesmo é que os campeões europeus tratem de impulsionar o caminho rumo às vitórias.

O adversário desta quarta-feira, porém, faz adivinhar tudo menos facilidades. Apesar das muitas dúvidas geradas pelas exibições e registo estatístico mais recentes, adindo as lesões importantes e a mudança geracional implementada pelo selecionador Stanislav Cherchesov, esta Rússia não deixa de ser uma equipa perigosa, com armas suficientes para impor respeito ao detentor do título mais importante de seleções da UEFA.

Além disso, importa recordar o registo negativo da equipa das Quinas em solo russo: nem uma vitória em quatro desafios e zero golos marcados nesse mesmo número de encontros. Então, o que poderão fazer Cristiano Ronaldo e companhia para finalmente quebrar o enguiço em terras bolcheviques?...

Uma seleção em renovação e com traços de instabilidade

Os últimos meses têm sido relativamente conturbados para a seleção russa. Depois da desilusão no Euro 2016, o experiente Stanislav Cherchesov foi o escolhido pela Federação daquele país para orientar a equipa nacional até ao tão ansiado Mundial, mas para já o arranque de preparação tem sido hesitante.

Em dez encontros disputados com Cherchesov ao leme (apenas o jogo frente à Nova Zelândia teve caráter oficial), a Rússia somou apenas quatro vitórias, o que aumentou as dúvidas sobre as reais capacidades do grupo russo em vésperas do «verdadeiro» grande teste para o Campeonato do Mundo.

Cherchesov, 53 anos, antigo guarda-redes que foi figura do Spartak Moscovo, vai procurando cimentar as bases para atacar 2018 com a força e a audácia do passado, apesar do mundo de distância que separa a formação atual das míticas equipas da União Soviética, que fizeram furor em grandes competições internacionais.

Stanislav Cherchesov

O selecionador russo (que já passou enquanto treinador, entre outros, por clubes como o Spartak, Dinamo Moscovo ou Legia Varsóvia) tem tentado semear um sistema com três defesas (3-5-2, com variante 5-3-2), depois de vários anos em 4-2-3-1 nos clubes que treinou (e mesmo nos primeiros jogos em que orientou esta equipa). Além desse sistema, que agora parece prevalecer, esta Rússia pode ainda atuar no tal 4-2-3-1, num 5-4-1 (mais conservador) ou num alternativo 3-4-2-1.

Será de esperar neste embate uma equipa russa num registo mais pragmático do que aquele que vimos no embate de estreia frente à Nova Zelândia. Nesse duelo, o conjunto de Stanislav Cherchesov aproveitou a procura de uma pressão alta (ineficaz) e as naturais fragilidades defensivas dos «kiwis» para garantir a vitória. Para o embate frente a Portugal, o plano estratégico do selecionador russo poderá sofrer algumas alterações.

Esta Rússia é uma equipa que privilegia o equilíbrio a nível defensivo, de forma a não expor as fragilidades próprias de quem ainda não assentou em definitivo os processos delineados pelo treinador. Parece quase seguro que se irão manter os três defesas, que serão escolhidos de uma lista de quatro: Dzkhiya, Vasin, Kudryashov e Kutepov. Este último não esteve presente no primeiro encontro, mas pode merecer uma chamada para o embate desta quarta-feira.

Todos eles apresentam qualidades ao nível do jogo aéreo e argumentos físicos, mas são notórios alguns problemas no controlo da profundidade e de adversários mais tecnicistas e rápidos. Kudryashov por vezes parece não ter grande velocidade de reação, por isso os avançados portugueses poderão procurar a antecipação. Atenção ainda à mais valia ofensiva do central Vasin (notoriamente perigoso no aproveitamento aéreo da bola parada ofensiva ou de uma segunda bola) e à consistência entre os postes do experiente Igor Akinfeev.

À partida, teremos a Rússia num 5-3-2 (que em fase ofensiva é convertível num 3-5-2), mas há a possibilidade de Cherchesov lançar uma estrutura com três defesas (mais dois laterais), quatro médios e apenas um atacante. Perspetivando que irá manter o sistema, restam algumas dúvidas quanto aos laterais titulares.

Se no jogo de estreia, perante um adversário que convidava ao ataque à profundidade, foram lançados os velozes e incisivos Samedov (à direita) e Zhirkov (no corredor esquerdo), para este embate há a possibilidade de o técnico russo recorrer à entrada de Smolnikov ou Shishkin para a lateral direita, privilegiando um melhor preenchimento do espaço defensivo.

Na zona central do terreno, o trio Glushakov-Erokhin-Golovin deverá permanecer inamovível, dada a boa resposta no embate inicial. Apesar de a equipa apresentar alguns problemas de organização e algum défice de criação, perante a ausência de unidades como Dzagoev, Shatov ou Zobnin, estes três jogadores parecem os mais capacitados para garantir critério na saída e capacidade de envolvimento na segunda linha. Glushakov é a unidade de características mais defensivas, embora tenha boa chegada à zona de remate desde trás.

Glushakov celebra golo russo frente à Nova Zelândia

Os interiores Erokhin e Golovin possuem qualidade técnica e um toque mais refinado (em particular, o segundo), além de também surgirem em zona de remate. No entanto, e dada a fase prematura do entendimento entre estes jogadores, há momentos de descontrolo, nos quais são notórias dificuldades para «segurar o barco», taticamente falando. As alternativas diretas são os veteranos Tarasov e Samedov e ainda o dinâmico Gazinskiy e o jovem Aleksey Miranchuk, médio de características mais ofensivas e com um envolvimento perspicaz no último reduto contrário.

Finalmente, na zona ofensiva, há um nome que impera, variando apenas o parceiro do lado. Fedor Smolov, atacante de 27 anos do Krasnodar, autor de 25 golos em 31 jogos oficiais na temporada 2016/2017, é aposta indiscutível do «mister» Cherchesov. Veloz, com uma destreza considerável para a estatura, tecnicamente dotado e com facilidade de remate, Smolov apresenta características muito úteis ao modelo de jogo russo, revelando-se demolidor em situação de transição rápida.

Os possíveis complementos/alternativas ao «9» chegam do Rostov, equipa que surpreendeu na última temporada nas provas europeias: Dmitri Poloz e Aleksandr Bukharov. O primeiro, de 25 anos, possui um bom jogo associativo e maior mobilidade que o segundo, de 32 anos, experiente elemento desta equipa e que lhe empresta dimensão física na zona central da área e faculdades no jogo aéreo.

Smolov, 25 golos em 31 jogos nesta temporada

Em suma, esta é uma Rússia em modo experimental, mas numa tentativa clara de ganhar um grupo a sério para o Mundial do próximo ano. São notórias debilidades nos processos de jogo, sendo que a equipa ainda emperra quando é obrigada a defender ataques rápidos e verticais (além de nem sempre se proteger de cruzamentos laterais em condições), na transição defensiva e em momentos ofensivos nos quais os espaços para a progressão dos laterais e do avançado Smolov escasseiam. O registo exibicional está longe de ser brilhante, ou sequer consistente, mas os jogos mais recentes mostraram que, apesar de tudo, estão a ser feitos alguns processos. Logo se confirmará…