Conhecidos como «All Whites», numa óbvia comparação com a famosíssima equipa de rugby do mesmo país, os «All Blacks», a seleção de futebol fica claramente a perder na comparação com a equipa nacional do desporto mais famoso do país (se calhar também pela decisão da FIFA de proibir o tradicional «haka» antes dos encontros). Porém, e se tivermos em conta as últimas duas décadas, são notórios os progressos do futebol neozelandês, desde o primeiro contacto com a alta roda mundial, no «Mundial do Naranjito», em 1982.

Na quarta presença na Taça das Confederações, os «kiwis», como também são conhecidos, preparam-se para completar o trajeto em solo russo num duelo frente a Portugal. As duas derrotas iniciais dos neozelandeses, associadas aos resultados dos outros embates, impossibilitam a turma oceânica de prosseguir nesta prova, mas não limitam as ambições pontuais de um grupo de «sonhadores» que quer muito evitar aquilo que parece ser uma inevitável vitória para o campeão da Europa.

Este será, por certo, o primeiro embate oficial da história entre portugueses e neozelandeses numa competição oficial de seniores. No entanto, no Mundial de sub-20 de há dois anos, precisamente discutido em território neozelandês, a seleção portuguesa derrotou a anfitriã nos oitavos de final, por duas bolas a uma. O homem que resolveu a partida à época, Gelson Martins, é um candidato ao onze no encontro deste sábado…

Gelson marcou o golo da vitória frente à Nova Zelândia, no Mundial sub-20, de 2015

O aprendiz de Mourinho e Bielsa com um toque da Velha Albion

O que faz um treinador com dupla nacionalidade, inglesa e norte-americana, de apenas 36 anos, no banco da Nova Zelândia? É uma boa pergunta, mas as raízes futebolísticas de Anthony Hudson, o selecionador dos «kiwis», remontam ao pai, Alan, médio que se destacou no Chelsea e Arsenal nos anos 70 (ao ponto de ter chegado a representar a seleção inglesa em três ocasiões) e que teve uma passagem de cinco épocas no futebol no soccer. Foi precisamente nessa etapa nos Estados Unidos que nasceu o filho Anthony, daí a dupla cidadania do atual treinador dos neozelandeses.

Como vimos, Anthony Hudson nasceu e cresceu no meio futebolístico, mas não vingou na carreira enquanto futebolista. Preferiu seguir outra via, tornando-se treinador ainda antes dos 30 anos, tendo passado pelo banco dos sub-21 do Tottenham, pelo mítico Newport County e pela seleção do Bahrein antes de ter sido recrutado como selecionador da Nova Zelândia, em agosto de 2014.

Admirador de Marcelo Bielsa e José Mourinho (com os quais estagiou, em 2012, num período em que ambos treinavam em Espanha), Hudson tem privilegiado a aposta no sistema 5-3-2 (com a variante ofensiva 3-5-2), procurando guarnecer o espaço defensivo e promovendo um jogo mais direto e recheado de passes longos para a zona ofensiva, onde aparece o possante Chris Wood e mais um complemento a descarregar os «mísseis» lançados desde trás.

No período enquanto treinador dos «All Whites», Anthony Hudson tem um registo de 21 encontros efetuados, com nove vitórias, oito derrotas e quatro empates. Além dos sistemas acima referenciados, chegou também a apostar num 4-3-3 e num 4-2-3-1 nos primeiros embates, além de ter experimentado em breves períodos uma passagem pelo 4-4-2.

Fragilidade defensiva e aposta na profundidade

Para o encontro de despedida da Taça das Confederações, é possível que Anthony Hudson possa promover uma ou outra alteração no «onze», de maneira a dar oportunidade a boa parte dos convocados de somar minutos no torneio. Apesar tudo, a estrutura-base deverá permanecer inalterada, bem como o sistema tático (perspetivando-se um registo mais cauteloso, deverá andar entre o habitual 5-3-2 e um 5-4-1 com as linhas bem juntas).

Em termos defensivos, a equipa neozelandesa apresenta algumas debilidades, tanto a nível coletivo como individual. O trio Boxall-Durante-Smith revela-se particularmente eficaz no controlo do espaço aéreo, mas possui pouca agilidade, falta de jogo de cintura e peca também por uma alguma incapacidade para controlar a profundidade. No entanto, os três são armas apontadas à baliza contrária nas jogadas de bola parada ofensiva (das quais já falaremos mais adiante).

Nas laterais, Wynne tem parecido indiscutível na esquerda, enquanto na direita, Anthony Hudson vai alternando entre Colvey e o imberbe Ingham. Como a formação neozelandesa passa grande parte dos jogos no momento defensivo, estes jogadores têm de se desdobrar em tarefas na zona mais recuada, revelando inúmeros problemas no um-contra-um (ante adversários mais técnicos e velozes) e uma certa incapacidade para acrescentar profundidade à equipa nos escassos momentos de ataque.

Na zona central do terreno, impera McGlinchey, o jogador taticamente mais relevante do meio-campo neozelandês. Com bom trato de bola e resistência física, acaba por sentir claramente a falta de outro jogador na mesma linha (embora nos momentos de maior aflição, Hudson possa recorrer ao possante Tuiloma). Os interiores Clayton Lewis e Ryan Thomas cumpriram condignamente a função no duelo frente ao México, sendo que o primeiro demonstra qualidades ao nível do passe e o segundo destaca-se na condução de bola e na meia-distância. Como alternativas, há ainda a possibilidade de Marco Rojas jogar mais recuado, como médio-interior e também o jovem Alex Rufer, médio-ofensivo que assim como Lewis esteve no grupo que defrontou a equipa das Quinas no Mundial de sub-20 em 2015.

No ataque, mora a grande referência da equipa, sob todos os pontos de vista: Chris Wood. O avançado do Leeds United, melhor marcador da fase regular do Championship, com 27 golos apontados, é o jogador que todos os companheiros buscam, quer para finalizar as jogadas, quer para servir de apoio na construção ofensiva. Forte fisicamente e com capacidade para ganhar várias bolas aos defesas contrários, este destro (que recorre esporadicamente ao pé esquerdo) possui um jogo aéreo notável, além de providenciar bons recursos de passe aos colegas e executar bons movimentos na largura. É comum vermos bolas a cair na frente ofensiva, sendo que tanto ele como o eventual companheiro de ataque (Rojas, Patterson, Barbarouses, ou o veterano Shane Smeltz) sabem também como atacar a profundidade.

Chris Wood frente aos EUA

Nota ainda para a tentativa de aproveitamento dos lances de bola parada no ataque. Livres indiretos a partir do campo próprio, livres laterais, pontapés de canto e até lançamentos de linha lateral (atenção a Boxall), tudo serve para intimidar as defensivas contrárias, aproveitando os argumentos no jogo aéreo de Wood, Smith, Durante, Boxall ou Thomas.

Tudo somado, Portugal pode esperar um adversário aguerrido, competitivo, capaz até de executar uma pressão atrevida em certos períodos do jogo, mas com várias limitações táticas e técnicas, próprias de uma equipa menos acostumada à alta roda. Sem uma ideia de jogo que privilegie o contacto com a bola, esta Nova Zelândia agarra-se aos poucos momentos em que a tem e tenta ao máximo rentabilizar as (poucas) mais-valias que possui, em particular na bola parada. Fernando Santos estará certamente alertado para o que aí vem. Não intimidam como os «All Blacks», mas merecem a devida atenção...