A primeira final de sempre de uma prova nacional entre duas equipas minhotas valeu o primeiro grande título da história do Moreirense, um pequeno entre os pequenos.
O representante de uma exígua freguesia do concelho de Guimarães, com 4,72 quilómetros quadrados e cerca de cinco mil habitantes, venceu a décima edição da Taça da Liga, depois da vitória na final sobre o Sp. Braga (1-0), e tornou-se na quarta equipa a conquistar o troféu, curiosamente juntando o seu nome na lista de vencedores ao dos restantes três adversários desta final four do Algarve.
Mais: a equipa de Moreira de Cónegos é somente o décimo «não-grande» a conquistar um grande troféu do futebol nacional.
Apesar do domínio do Benfica, vencedor de sete edições, a Taça da Liga é o troféu onde é mais provável acontecer este tipo de desfecho. Em 30 por cento das ocasiões os grandes não conseguiram fazer vingar a lei do mais forte numa prova conquistada em 2007/08, logo no ano de estreia, pelo V. Setúbal e em 2012/13 pelo Sp. Braga, finalista deste ano.
Edições | Títulos dos «pequenos» | % de títulos | |
Liga | 82 | 2 | 2,4% |
Taça de Portugal | 79 | 19 | 24% |
Supertaça | 38 | 4 | 10,5% |
TAÇA DA LIGA | 10 | 3 | 30% |
Três exceções, ainda assim, num troféu recente. Apesar de os moldes da competição terem sido progressivamente adaptados em favor das equipas mais fortes, não é exagero dizer que a Taça da Liga é a prova mais propensa a surpresas.
Boavista, o quarto grande em títulos
A percentagem de vencedores entre a classe média e baixa do futebol nacional também é significativa na Taça de Portugal, vencida em 24 por cento das ocasiões por não grandes, ou seja, em 19 das 79 edições, quase um quarto das edições.
E na Taça de Portugal o quarto grande é claramente o Boavista, com cinco troféus conquistados (1974/75, 1975/76, 1978/79, 1991/92 e 1996/97), à frente do duo V. Setúbal (1964/65, 1966/67 e 2004/05) e Belenenses (1941/42, 1959/60 e 1988/89), cada um com três troféus, e de outro duo com duas Taças no palmarés: Sp. Braga (1965/66 e 2015/16) e Académica (1938/39 e 2011/12).
Atrás destes, um quarteto teve um privilégio de levantar o segundo troféu mais importante do futebol nacional: V. Guimarães (2012/13), Beira-Mar (1998/99), Estrela da Amadora (1989/90) e Leixões (1960/61).
Este registo histórico conta com todas as 79 edições da Taça de Portugal, desde a sua primeira edição em 79. Mas considerando as 17 edições do Campeonato de Portugal, entre 1921/22 e 1937/38, o leque de «pequenos» a levantarem um troféu nacional aumenta: o Belenenses somou três títulos, enquanto Olhanense, Marítimo e Carcavelinhos venceram por uma vez a prova que precedeu a Taça.
Tal como na Taça, também na Supertaça Cândido de Oliveira o Boavista é o melhor entre os não grandes, com três títulos (1979, 1992 e 1997), tendo o V. Guimarães também conseguido em 1988 um título.
Títulos dos «pequenos» | Liga Portuguesa | Taça de Portugal |
Supertaça | Taça da Liga |
Boavista | 1 | 5 | 3 | 0 |
Belenenses | 1 | 3 | 0 | 0 |
V. Setúbal | 0 | 3 | 0 | 1 |
Sp. Braga | 0 | 2 | 0 | 1 |
V. Guimarães | 0 | 1 | 1 | 0 |
Académica | 0 | 2 | 0 | 0 |
Beira-Mar | 0 | 1 | 0 | 0 |
Leixões | 0 | 1 | 0 | 0 |
Estrela da Amadora | 0 | 1 | 0 | 0 |
MOREIRENSE | 0 | 0 | 0 | 1 |
No entanto – e sublinhando que os títulos não valem todos o mesmo – é sobretudo de salientar de novo o Boavista (2000/01) e o Belenenses (1945/46) como as duas honrosas exceções na Liga a conseguirem romper com a hegemonia de FC Porto, Benfica e Sporting.
Tudo somado os axadrezados têm nove títulos nacionais, bem à frente de Belenenses e V. Setúbal, com quatro cada, e do Sp. Braga, que domingo à noite numa final à moda do Minho com 6 713 espetadores nas bancadas do Estádio do Algarve (a pior assistência de uma final da prova) deixou escapar o quarto grande título nacional da sua história – a segunda Taça da Liga que juntaria a duas Taças de Portugal. O sonho arsenalista acabou por esfumar-se aos pés do Moreirense, o seu pequeno grande vizinho.