São João da Madeira é o berço futebolístico de uma lenda do futebol nacional, ou não tivesse sido ali que João Alves, o “luvas-pretas” deu os primeiros pontapés na bola. Convidado pelo Maisfutebol a puxar a fita atrás até à época 68/69, o antigo médio criativo chuta de pronto: «As recordações são as melhores. Falar da AD Sanjoanense faz-me lembrar a primeira vez que joguei oficialmente num clube».

Sem fintas quanto ao facto de se manter «bastante ligado» às origens, João Alves aceita fazer uma abertura para «os tempos de menino» passados no norte do distrito de Aveiro, de onde saiu muito cedo para cumprir um sonho e gravar o seu nome na história do futebol nacional.
 
O talento apresentado por João Alves fez com que a criança nascida ali ao lado, no concelho de Albergaria-a-Velha, rapidamente surgisse no radar das principais equipas nacionais. Numa disputa entre Benfica e FC Porto, em que ambas mostraram vontade de o contratar, acabou por pesar a paixão que desde sempre teve pelo clube das águias.
 
«Fui observado pelos dois clubes e mesmo depois de ir treinar ao Benfica, o FC Porto tentou contratar-me», recorda, justificando em seguida a escolha. «Eu era benfiquista desde sempre e isso influencia. Eu chorava pelo Benfica. Vi jogar a equipas do Eusébio. O Benfica campeão europeu, depois bi-campeão europeu», revela.
 
Apesar de ter dado o salto para Lisboa logo no final da primeira época como jogador, aos 16 anos, João Alves conhece bem a realidade do clube onde nasceu. «Gostei muito de jogar na Sanjoanense», resume. «Na altura o clube estava na 1.ª divisão e tinha uma grande dinâmica. Era um clube temperamental, de raça, onde o futebol se vivia com bastante calor», assegura.

 
Claque da Sanjoanense (Foto Daniel Oliveira/ads.pt)

No próximo domingo, em S. João da Madeira, estarão em confronto duas equipas que dizem muito ao “luvas-pretas”. Se foi no clube da terra que se iniciou como jogador, em Coimbra João Alves viveu muito bons momentos enquanto treinador. Em duas épocas e meia, o técnico subiu os estudantes ao campeonato principal, e ainda recentemente foi distinguido pela claque Mancha Negra, que o considerou um dos melhores treinadores dos estudantes nos últimos 30 anos.
 
«Adorei trabalhar em Coimbra, onde fiz grandes amigos, e tive dois anos fantásticos em termos desportivos. Na terceira época houve alguns problemas financeiros, mas as memórias são as melhores. A Académica é uma equipa muito especial», declara.
 
Clubes «com mística especial»
 
Se a Académica é reconhecidamente um histórico do futebol português e carrega consigo a aura de ter ganho a primeira Taça de Portugal, em 1939, a Sanjoanense também tem a fama de fazer mover muitos adeptos, num sentimento bairrista que faz com que a equipa seja sempre acompanhada por várias dezenas de adeptos em todos os jogos.
 
O “luvas-pretas” reconhece semelhanças entre as duas instituições. «São dois clubes com uma mística especial», nota. «A Sanjoanense caiu numa situação complicada, mas está numa cidade com uma grande dinâmica industrial, onde há a paixão do futebol, boa formação, e condições para voltar à ribalta», realça, assumindo o desejo de ver o clube «repetir a história de outros anos».

Quanto à Briosa que se encontra numa posição delicada no campeonato, o ex-técnico dos estudantes espera que «o clube se mantenha na I Liga, que é onde pertence». E para o jogo de domingo? João Alves finta as questões de preferência e deixa um politicamente correto: «Que ganhe o melhor».
 
«Há quem pense que já me reformei»
 
Sem treinar desde que, em 2013, deixou o comando técnico do Servette, na Suíça, João Alves mantem as portas abertas a um novo desafio. «Não dei a minha carreira de treinador como terminada, mas acho que há pessoas que pensam que já me reformei», atira em tom irónico. Afirmando-se « desejoso por pegar num projeto que valha a pena em termos desportivos», o treinador afirma que vai «matando o bichinho na escola de futebol Luvas-pretas», em Santiago do Cacém, à qual se dedica há cerca de 10 anos.
 
«Estive seis anos fora de Portugal e vão-se perdendo algumas ligações», lamenta, acreditando estar «a pagar a fatura dessa ausência.»