* Por Francisco Sousa

O futebol tem destas coisas: num dia damos por nós a olhar para um vídeo do exemplar fair-play do Borussia Dortmund durante a partida frente ao Hertha do último fim de semana, no outro vemos uma equipa (e um árbitro já agora) a faturar um golo com um adversário caído, aproveitando a inferioridade numérica e uma certa apatia generalizada.

E assim o Belenenses ganhou balanço rumo aos quartos de final da Taça de Portugal, com um Camará bem definido na hora de remate, mas atirando o desportivismo às malvas. Não só ele, como os companheiros que construíram o lance do primeiro golo: de facto, houve falta de Tiago Caeiro sobre Jô, Miguel Rosa aproveitou, tentou o remate, Jorge Baptista defendeu para a frente e Abel Camará aproveitou para finalizar na recarga.

FICHA DE JOGO

Antes disso, o jogo estava a ser, de certa forma, pernicioso para o Belém: a equipa procurava muito jogo direto e bolas longas de forma a contrariar a boa organização defensiva contrária. Além do rigor na hora de fechar, o Freamunde sabia como se esticar, com Fausto, Jô e Robson muito ativos entre linhas e com Dally a usar bastante o físico para importunar a defensiva belenense.

Até que se soltou o génio, neste caso, Miguel Rosa. Não há como o negar: o «7» do Restelo é uma peça fundamental na estrutura de Lito Vidigal. Dinâmico, veloz e esclarecido na definição, empurrou a equipa para a frente e deixou o lateral-direito do Freamunde exposto ao perigo, de forma permanente. Foi muito por aí que o Belenenses forçou o andamento, até porque Camará (para lá do golo) e Deyverson estiveram bastante desinspirados durante a primeira metade.

Freamunde revoltou-se mas faltou-lhe maior eficácia…

No segundo tempo, o Freamunde continuou a visar a baliza de Matt Jones e na sequência de um lance de bola parada, Nélson desviou para a trave da própria baliza, num lance que colocou o Restelo em sobressalto.

Praticamente, de seguida, num livre direto, Jô obrigou o guardião do Belenenses a uma estirada tremenda, digna de um Lev Yashin nas noites mais inspiradas.

A equipa do Restelo estava em pânico: não conseguia conectar entre setores nas saídas para os ataques, jogava de forma desgarrada e permitia que o Freamunde fosse crescendo. Notava-se o nervosismo e a apatia e Lito Vidigal decidiu mudar, tendo lançado, de uma vez, Bruno China para trazer serenidade ao meio-campo e Fredy para espevitar o jogo.

E na verdade, o Belenenses começou a contra-atacar com mais alguma lógica, sempre com Miguel Rosa (mais à direita e bem acompanhado por Tiago Silva na segunda linha) em plano de evidência.

Lito Vidigal lançou Rodrigo Dantas para queimar tempo e ajudar a segurar a bola numa fase determinante do encontro mas o Freamunde continuava a atrever-se: teve um golo bem invalidado e já perto dos 90, Fausto falhou de forma impressionante e à boca da baliza o que seria o golo do empate e do respetivo prolongamento.

O «10» dos «capões» voltou a destacar-se num lance individual, no qual obrigou Deyverson a entrar de forma dura e a ver o segundo amarelo.

No entanto, o que parecia ser uma possível boa notícia para o Freamunde, transformou-se em pesadelo no contra-ataque seguinte: Pelé isolou-se e bateu de forma inapelável o guardião Jorge Baptista.

O jogo terminou de seguida e antes havia ficado a sensação de que o empate esteve sempre mais perto do que o 2-0. Pois, mas sensações não fazem o futebol: é mesmo a eficácia que faz a diferença.