À terceira não foi de vez.

Não se cumpriu o ditado popular muito por culpa da qualidade de finalização superior de Rodrigo Pinho. A Oliveirense esteve a escassos minutos de fazer história na Taça de Portugal, mas ainda não foi desta que logrou eliminar o Marítimo, depois de duas tentativas igualmente falhadas nos últimos quatro anos. Sobreviveu ao tempo regulamentar, mas acabou por sucumbir no prolongamento. Um desfecho pouco condizente com aquilo que se passou no relvado do Estádio Campo de Ribes, sublinhe-se.

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Contudo, antes de falar do que se passou no relvado, permitam-me abrir um parêntesis para o cenário idílico que envolveu o jogo: adeptos sentados nos muros que delimitam o Estádio, outros encostados às grades a escassos metros do relvado da bancada e sorteio do presunto ao intervalo. Em suma, um jogo com o verdadeiro espírito de Taça.

Na antevisão da partida Daniel Ramos tinha frisado que não podia haver relaxamento da sua equipa neste jogo. Apesar do alerta deixado pelo técnico, o Marítimo entrou em campo a sofrer de uma ligeira altivez, sem retirar mérito ao conjunto da AD Oliveirense, claro.

Perante a sobranceria contrária, a Oliveirense agarrada com unhas e dentes poucas às possibilidades de seguir em frente, olhou o adversário nos olhos, sonhou e foi à luta. O facto de a partida se disputar no sintético também ajuda a explicar as dificuldades dos madeirenses.

Ainda o relógio não marcava os dois minutos e já a Oliveirense tinha esboçado duas aproximações à baliza de Amir. A tendência inicial acabou por se manter durante grande parte do jogo, portanto, quem esperava um jogo com o Marítimo em ataque organizado, a tentar furar as linhas defensivas da equipa de Famalicão, enganou-se. Muito pelo contrário.

A Oliveirense assumiu as despesas do jogo e, através de um futebol apoiado e de passe curto, camuflou as diferenças entre as duas equipas. Acabou por haver um duelo de papéis invertidos.

Com naturalidade, as oportunidades acabaram por surgir junto da baliza do Marítimo. Zola começou por desperdiçar duas ocasiões flagrantes para fazer mexer o marcador, algo que seria justo face ao que se passava no relvado. Pelo meio, o melhor que o Marítimo conseguiu foi um remate de Rodrigo Pinho à figura de Palha. Curto para um conjunto primodivisionário.

O primeiro golo da tarde, da autoria de Apolo pouco depois da meia hora de jogo, acabou por trazer justiça no marcador. Porém, esse golo teve o condão de despertar o Marítimo, que começou a jogar como nunca antes tinha feito até então. Jean Cléber, numa grande jogada individual, conseguiu isolar Rodrigo Pinho, que na cara de Palha, não desperdiçou e igualou a partida em cima do intervalo.

Urgia-se uma mudança no conjunto insular ou acentuava-se o risco de se assistir a uma surpresa. Daniel Ramos não gostava do que a sua equipa produzia, decidiu lançar Filipe Oliveira para o lugar de Fábio Pacheco e a qualidade de jogo do Marítimo deu sinais de melhoria.

Os lances de perigo junto à baliza de Palha começaram a surgir, embora a Oliveirense nunca tenha deixado de espreitar o contra-ataque, algo que, com o decorrer dos minutos se pareceu desvanecer, face à quebra física evidente e, diria até, natural.

Numa das raras ocasiões em que conseguiu repetir uma dessas saídas, chegou a nova vantagem: canto de Gil e cabeçada indefensável de Apolo. O médio ameaçava tornar-se o herói da epopeia dos homens de Emanuel Simões.

O Marítimo ensaiou o último assalta à baliza contrário com Everton e Ibson a juntarem-se a Ricardo Valente e Rodrigo Pinho. As mudanças efetuadas não surtiram, de pronto, efeitos práticos. Curiosamente, até foi a Oliveirense, numa jogada que espelha a vontade de lutar pelo sonho de continuar em prova, a estar perto do 3-1.

No último suspiro, Rodrigo Pinho, astuto, aproveitou a defesa incompleta de Palha para atirar o jogo para prolongamento. Nesse capítulo extra do jogo, o avançado brasileiro decidiu escrever o guião e dar-lhe a machadada final: assinou o hat-trick e acabou com as aspirações da Oliveirense.

A Oliveirense sai de cena de pé e acima de tudo, provou que há muita qualidade nos escalões inferiores. Por sua vez, o Marítimo chega de novo à 5.ª eliminatória da Taça de Portugal pela primeira vez desde 2014-15.

FICHA DE JOGO

Estádio Campo de Rives, Santa Maria de Oliveira 

Árbitro: Vasco Santos (AF Porto)
Assistentes: Luciano Maia e Sérgio Jesus
Quarto árbitro: Carlos Macedo

Golos: Apolo (36' e 83'); Rodrigo Pinho (41', 90+2' e 105').

AD Oliveirense: Palha, Miguel Ângelo, Ricardo Carvalho, Touré e Gil; Apolo (Rúben Teixeira 88’), Aldair e Fabinho (Ailton 85’); Caleb, Mohamed e Zola (Ítalo 90+2’)

Suplentes não utilizados: Paulo Ribeiro, Tiago Silva e Ricardo.

Marítimo: Amir, Bebeto, Dráussio (Ibson 86’), Zainadine e Luís Martins; Jean Cléber, Gamboa e Fábio Pacheco (Filipe Oliveira 45’); Edgar Costa (Everton 70’), Rodrigo Pinho e Ricardo Valente.

Suplentes não utilizados: Rafael, Erdem Sen, Diney e China.

Disciplina: Fabinho (14’) Dráussio (72’), Zainadine (74’), Miguel Ângelo (90+2) e Luís Martins (118).