Aí está a 10ª. Benfica e FC Porto vão defrontar-se no Jamor pela primeira vez em 16 anos, um enorme intervalo naquela que é a final da Taça de Portugal mais vezes jogada. E que já teve de tudo, com ascendente das águias, que venceram oito das nove decisões até agora, contra uma do FC Porto. Teve goleadas, golos-relâmpago, uma final… nas Antas ganha pelo Benfica e a despedida de José Mourinho a Portugal, antes da consagração europeia.

A vitória do FC Porto sobre o Ac. Viseu, depois do empate em Famalicão que assegurou o apuramento do Benfica, confirmou o apuramento dos dois rivais e agendou mais um Clássico, que fechará a época do futebol nacional, a 24 de maio. Frente a frente, as duas equipas com mais presenças em final: o Benfica vai para a 37ª, para 26 vitórias, o FC Porto estará na 31ª final, tendo ganho 16 vezes, menos uma que o Sporting, com 17 triunfos em 29 finais.

Será o primeiro duelo na final da Taça desde 2003/04, uma história que começa muito antes. Com um ritmo singular, ciclos de várias finais na década de 50, apenas uma na década de 60, quatro nos anos 80 e um intervalo de quase duas décadas até 2003/04. Portanto, a final que aí vem será apenas a segunda entre Benfica e FC Porto em 35 anos.

Foi preciso esperar até 1953 pela primeira final entre ambos, naquela que foi também a primeira vez que o FC Porto se apurou para o jogo decisivo. Terminou em goleada do Benfica, 5-0 com hat-trick de Arsénio, entre um golo de Rogério «Pipi» a abrir e outro de José Águas a fechar.

Cinco anos mais tarde aconteceria aquela que foi até hoje a única vitória do FC Porto. A 15 de junho de 1958, um golo solitário de Hernâni pouco depois do início da segunda parte garantiu a festa portista.

Logo na época seguinte, em 1958/59, a final ficou decidida 27 segundos depois de começar: o tempo que demorou entre a saída de bola do Benfica e o golo de Cavém que sentenciou a final.

Passaram cinco anos até os rivais marcarem nova final e em 1963/64 houve golos como em nenhuma outra: 6-2, com um bis de José Augusto a adiantar o Benfica, antes de Custódio Pinto reduzir. Eusébio fez o 3-1 de penálti, Simões marcou o quarto do Benfica e Carlos Baptista ainda fez o segundo do FC Porto, mas depois Serafim e José Torres selaram a goleada.

A década de 80 teve nada menos que quatro finais entre Benfica e FC Porto e a primeira, a 7 de junho de 1980, voltou a ter apenas um golo, apontado por César, a dar de novo a Taça de Portugal às águias.

Logo no ano seguinte, em 1981, lá estavam eles outra vez. Foi dia de Nené, mesmo depois de um desvio de Veloso logo aos nove minutos ter resultado em autogolo e colocado o FC Porto em vantagem. Depois apareceu o avançado que não sujava os calções a apontar um hat-trick: 3-1.

Que embrulhada em 1983. A data da final dá uma ideia: 21 de agosto, no fim de um verão passado a discutir o palco da final, depois de uma promessa da Federação de entregar a organização da final à AF Porto, de uma mudança na direção federativa e nessa decisão e de um braço de ferro de que o FC Porto não abdicou, depois de uma Assembleia Geral em que os sócios legitimaram o clube a não comparecer na final se esta não fosse nas Antas. Foi mesmo, mas ganhou o Benfica, com um grande golo de Carlos Manuel.

Em 1985, de volta ao Jamor para a quarta final em cinco anos no período que agudizou em definitivo a rivalidade, o Benfica leva de novo a melhor, . Nunes inaugurou o marcador, depois bisou o dinamarquês Manniche, com o 3-0 a surgir logo depois do intervalo, de penálti. Para o FC Porto já de Artur Jorge, a saída de Fernando Gomes por lesão complicou ainda mais as coisas. Ainda assim, reduziu, num golo de Paulo Futre também de grande penalidade a fixar o resultado final: 3-1.

Passaram 19 anos até Benfica e FC Porto voltarem a defrontar-se no Jamor. A decisão de 2003/04 chegou depois de o FC Porto se ter sagrado tranquilamente campeão, a três jornadas do fim. E aconteceu dez dias antes de os dragões jogarem a final da Liga dos Campeões. O ambiente no Jamor foi globalmente tranquilo, ainda que com alguns incidentes entre adeptos, em campo o Benfica levou a melhor, depois de Derlei ter adiantado o FC Porto em cima do intervalo. Fyssas igualou, o jogo foi para prolongamento e aí decidiu Simão: 2-1 (recorde o jogo ao minuto no Maisfutebol). A festa das águias, depois de um jejum de títulos que durava desde 1996, foi intensa. Quanto aos dragões, focaram-se rapidamente no grande objetivo: Gelsenkirchen, onde seriam campeões europeus com José Mourinho. Para o treinador que rumaria ao Chelsea depois da conquista da Taça dos Campeões, aquela final seria o último jogo em solo nacional no banco de um clube português.

Não voltaram a defrontar-se na final da Taça, até esta época. O Benfica esteve em quatro finais desde 2004, duas ganhas e duas perdidas: o último triunfo foi em 2016/17 e desde então não tinha chegado ao Jamor. O FC Porto tem sete presenças em finais desde 2004, quatro vitórias e três derrotas. Volta ao Jamor um ano depois da final perdida para o Sporting, uma vez mais a tentar um triunfo que lhe escapa desde 2010/11 e a procurar evitar igualar o maior período sem vencer a Taça da sua história, entre 1959 e 1968.

As finais de Taça de Portugal entre Benfica e FC Porto:

1952/53, Benfica-FC Porto, 5-0

1957/58, FC Porto-Benfica, 1-0

1958/59, Benfica-FC Porto, 1-0

1963/64, Benfica-FC Porto, 6-2

1979/80, Benfica-FC Porto, 1-0

1980/81, Benfica-FC Porto, 3-1

1982/83, Benfica-FC Porto, 1-0*

1984/85, Benfica-FC Porto, 3-1

2003/04, Benfica-FC Porto, 2-1 ap

*Jogou-se no Estádio das Antas, todas as outras tiveram o Jamor como palco