Danilo fechou o caixão do Sp. Braga na Taça e o FC Porto está na final do Jamor. Os dragões tiveram de esperar pelo minuto 74 e por um golo de bola parada – tinha de ser – para afugentar os maus espíritos do pior jogo da temporada, numa noite de sacrilégios, pecados e hipocondria azul e branca.

O funeral estava marcado desde a primeira mão. O 3-0 no Dragão soprava ventos de saúde e bonomia para o lado portista. Só um escândalo, nada menos do que isso, seria capaz de virar a eliminatória e o boletim de saúde de pernas para o ar.

Pois bem, a verdade é que o cadáver braguista foi capaz de interromper as próprias exéquias fúnebres. Levantou-se a meio do velório e, surpresa das surpresas, vinha com um ar de forças renovadas e um olhar mais vivo do que nunca. Ou isso ou a maquilhagem era de excelência.

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A pressionar desde o primeiro instante o FC Porto e a insistir no aproveitamento da profundidade, o Sp. Braga incomodou, assustou e expôs ao ridículo um dragão com medo de tudo e de todos. A começar pela própria sombra, o que nunca pode ser um bom sintoma.

Quando Paulinho fez o 1-0, aliás, o filme do jogo já tinha uma mão cheia de boas histórias para contar.

Podemos lembrar o golo bem anulado ao Sp. Braga (por fora de jogo de Ricardo Horta), três saídas da baliza completamente falhadas por Fabiano (não tem, nesta altura, nível para ser guarda-redes do FC Porto) e um cabeceamento de Claudemir que passou a rasar o poste direito.

O Sp. Braga era isto. Um morto vivo da Taça de Portugal cheio de genica e pressa para enganar a própria morte. Ironicamente, gozava as últimas horas de respiração como se não houvesse amanhã, feliz e comprometido com o plano de Abel Ferreira para o jogo.

Horta e Paulinho metidos entre os centrais e depois a procurarem as alas, sempre que a bola chegava a um dos médios. Depois, se o passe entrasse bem, um dos avançados fugia do centro e o outro aguardava a chegada do extremo do lado contrário e um dos dois médios. O FC Porto nunca se entendeu com isto e fez 45 minutos absolutamente miseráveis.

DESTAQUES DO JOGO: Danilo estragou a noite a Paulinho

Apesar do conforto do 3-0 do Dragão, e das sete mexidas na equipa, os campeões nacionais pareceram desconfortáveis, atrapalhados e com uma tendência suicida alarmante. Foram muitos os erros individuais. De Fabiano, enfim, já se falou; mas, e Felipe? Como é que o central aborda a jogada com Paulinho daquela forma, em desequilíbrio, a cair e a ficar batido? Mais tarde, perto do fim, até expulso foi.

Não foram só eles. Maxi Pereira mostrou problemas gravíssimos na cobertura dos espaços, Óliver só conseguiu ter alguma bola no segundo tempo, Danilo correu muito e nem sempre bem, Fernando Andrade foi mais útil na cobertura defensiva do que no ataque, André Pereira e Adrián passaram completamente ao lado deste filme.

Quem se salvou? Wilson Manafá, Jesus Corona e, pelo golo perto do fim, Danilo.

Não nos lembramos de um FC Porto tão desorganizado, tão errático, tão instável emocionalmente. Sem capacidade para gerir a vantagem com bola e com a solidez de uma folha de papel no capítulo defensivo.

Marafona teve uma das noites mais calmas da carreira, até Danilo lhe aparecer à frente e desviar para golo o canto batido por Corona na esquerda.   

Aí, só aí, o Sp. Braga de Abel perdeu a cor, o sangue, a esperança.

O caixão fechou com estrondo, Danilo sentou-se em cima, o FC Porto vai ao Jamor.