Dérbi eletrizante na pedreira. De cortar a respiração. Aos oitenta minutos o Vitória tinha o jogo perfeitamente controlado e uma vantagem de dois golos. Em apenas cinco minutos, na reta final do encontro, a equipa de Artur Jorge escreveu uma daquelas páginas que a história encarregar-se-á de lembrar por muito tempo, ao dar a volta ao jogo (3-2).

Crença inabalável dos arsenalistas, nunca se renderam mesmo numa batalha que aparentava estar perdida. Fizeram eclodir a pedreira com um bis de Abel Ruiz, com Vitinha a igualar pelo meio. Os guerreiros estão nos quartos-de-final da Taça de Portugal, marcando encontro com o Benfica depois de um triunfo saboroso sobre o rival.

Os dois emblemas chegaram a este desafio da Taça de Portugal em situações antagónicas. Após a paragem para o Campeonato do Mundo os bracarenses somaram dois triunfos, tiraram a invencibilidade ao Benfica, marcando sete golos sem encaixar nenhum. O Vitória de Moreno ainda não se tinha encontrado, tendo perdido em Vizela e empatado na receção ao Rio Ave.

Clã Silva domina primeira parte

À flor da relva tudo foi diferente. O estigma desfez-se e, mesmo num dérbi sem a intenção de outros duelos entre os dois emblemas, um Vitória personalizado entrou a sobrepor-se a um Braga atónito. Um exemplo disso mesmo deu-se logo aos quatro minutos: Jota Silva pegou na bola pelo corredor central, deixou vários adversários para trás e apenas Mateheus com uma mancha assombrosa evitou o golo.

Golo que chegaria aos dezassete minutos. Contragolpe bem desenhado, passe de André Silva para Jota Silva finalizar na passada e adiantar os vimaranenses no marcador. Tinha mais clarividência o conjunto de Moreno, que surpreendeu ao jogar com dois pontas de lança, ainda que nos sistema habitual.

Demorou a encontrar-se o Sp. Braga, Celton Biai não foi mais do que um mero espectador até à fase final da primeira metade, altura em que o Sp. Braga deu sinais de vida. Carregou, conseguiu subir no terreno e ameaçar a, até então, tranquilidade da equipa vimaranense. Foi surpreendido com o segundo golo do Vitória. Uma vez mais André Silva, a ser mais agressivo do que Racic, lançou Anderson. Do meio campo o avançado partiu isolado – ganhou em velocidade aos centrais bracarenses – e só parou com um chapéu a Matheus.

A meio da eliminatória, a perder por dois golos, Artur Jorge reforçou o ataque, introduzindo  Vitinha no jogo por troca de Racic. O figurino foi diferente. Porque o Sp. Braga entrou com os indíces de agressividade mais elevados, e porque o Vitória perdeu capacidade de luta ainda na primeira parte, com a saída de Tiago Silva, lesionado.

Cinco minutos à Braga, o derradeiro vira minhoto

Carregou o Sp. Braga, impôs sentido único ao jogo e os vimaranenses agarraram-se à vantagem, preparados para sofrer. Sempre com o contragolpe debaixo de olho. Este cenário arrastou-se no tempo até ao minuto oitenta, com Artur Jorge a apostar tudo: jogou a última meia hora com três pontas de lança. A partir do minuto oitenta o jogo foi outro. Seis minutos à Braga definiram o jogo com a cambalhota no marcador.

Num ápice, com muita crença aliada à qualidade os arsenalistas viraram o jogo. Abel Ruiz deu o primeiro golpe no Vitória, ao aparecer esquecido nas costas da defesa. Fez eclodir a pedreira para o que aí vinha. Apenas dois minutos depois, de pronto, num gesto técnico fantástico Vitinha atirou de pé esquerdo sem hipóteses para Celton Biai.

Tremeu o Vitória, teve mais forças do que nunca o Sp. Braga. Diferença de forças abismal, crença desmedida e o terceiro bracarense efetivou o vira minhoto num final épica, para mais tarde recordar, por parte dos guerreiros. Num lance confuso, com várias cortes à mistura, Abel Ruiz estava talhado para ser o homem da noite: cambalhota no marcador em cinco minutos.

Triunfo arsenalista com uma grande dose de vira minhoto. Viraram o resultado quando poucos esperariam. Muito mérito para o Sp. Braga, demérito para o Vitória pela forma como esmoreceu em apenas cinco minutos, não tendo estofo para segurar o jogo. É o Sp. Braga que avança para os quartos-de-final. Marca encontro com o Benfica.