No Sport Clube de Vila Real, treinador e jogadores conciliam a atividade profissional com o futebol e concretizam, na sexta-feira, o sonho de jogar contra um dos grandes do futebol português, o FC Porto.

O treinador do SC Vila Real, Patrick Canto, disse que todas as semanas a equipa transmontana se «prepara para subir à serra do Marão e que, de repente, tem de subir ao Evereste», demonstrando, assim, a diferença entre as duas equipas que se defrontam na sexta-feira, no jogo da terceira eliminatória da Taça de Portugal.

«Nós estamos habitados a subir esta serra e agora pedem-nos que subamos a um dos picos mais altos do mundo», frisou.

A serra do Marão ergue-se a 1.415 metros de altitude, enquanto o pico do monte Evereste está a 8.848 metros acima do nível do mar.

Defrontar o FC Porto é uma motivação extra para a equipa que joga no campeonato distrital e em que treinador e jogadores conciliam o trabalho diário com os treinos e os jogos aos domingos.

Patrick Canto, 41 anos, é professor de educação física. No plantel há engenheiros, empregados de mesa, veterinários, estudantes, operadores fabris, funcionários de stands de automóveis e desempregados. A média de idades ronda os 25 anos e a paixão pelo futebol é o elo que os liga.

«É isto que nós gostamos de fazer. Muitos não percebem como andamos nesta vida, em que ganhamos um subsídio que não dá para nada, para alguns nem para o gasóleo dá», referiu o treinador.

A maior parte dos jogadores é de Vila Real, mas também há os que têm de se deslocar de Murça ou de Amarante.

«O futebol esteve sempre presente na nossa vida, é uma paixão e um vício, não podemos viver sem ele e é por isso que fazemos este sacrifício», frisou.

Patrick Canto disse que no futebol «não há quotidiano, nem rotina», que todas as semanas «são diferentes» e que, às vezes, é «possível concretizar sonhos». «Jogar contra o FC Porto era um sonho até há uma semana atrás e agora vai concretizar-se», salientou.

O capitão do Vila Real, Fred Coelho, tem 29 anos e é empregado de mesa num restaurante da cidade.

«Trabalhar e jogar é um pouco cansativo e desgastante. Tomara eu fazer da minha profissão o futebol, mas não é fácil, nos dias que correm não é fácil, então tem que se completar as duas coisas», afirmou.

É jogador do Vila Real há oito anos e disse que jogar contra o FC Porto é «uma oportunidade única», até para a cidade e, por isso mesmo, espera que seja um jogo «de Taça», ou seja, «de festa».

O capitão reconheceu que a semana vai ser de «ansiedade» e «nervosismo» e que sentiu uma «felicidade enorme» quando soube que o FC Porto era o adversário.

Michael Matos (Mika) tem 27 anos e está desempregado. Acalenta o sonho de ser jogador de futebol profissional e afirmou que este jogo «é a maior montra» que poderão vir a ter.

«O FC Porto é uma responsabilidade extra, é gratificante para nós, mas penso que, para o jogo, não precisamos de arranjar motivação extra, porque o jogo em si, o nome do adversário, já representa muita coisa», referiu.

Esta é uma semana «para desfrutar» e em que tudo vai ser diferente, desde a atenção mediática, à transmissão televisiva e à casa que se espera cheia.

Patrick Canto explicou que a equipa vai cumprir o plano de treinos normal, porque mudar a rotina poderia provocar lesões nos jogadores. Treinam quatro vezes por semana, sempre à noite.

A realidade entre as duas equipas é «completamente diferente» e, para o treinador, preparar um «jogo com uma das melhores equipas do mundo não é nada fácil».

O SC Vila Real joga em casa, no Complexo Desportivo do Monte da Forca, e estarão disponíveis, a partir de quarta-feira, cerca de 4.000 bilhetes.