A maravilhosa viagem do Benfica pelo mundo dos troféus, acabou em glória e solavancos. As águias juntaram a sexta Taça da Liga da sua história ao bicampeonato, embora sofrendo quase até ao limite, perante um Marítimo que correu mais e desejou mais o troféu.

2-1 no final, golos de Jonas e Ola John para as águias, com João Diogo a responder e a alimentar a dúvida até aos 80 minutos.  

FICHA DE JOGO E A PARTIDA VISTA AO MINUTO

Tiques de realeza do Benfica, inapropriados e de mau gosto, levaram o confronto para um esgrimir de estilos e convicções. Mais do que isso, para um dirimir de propaganda política.

O operariado insular, de fato manchado de óleo e virtuoso no trato do humilde soldo, vincou os seus deveres e obrigações.

Começou a pressionar alto, quiçá com ambição desmedida, e a afrontar o poder instalado.

Moussa Marega contra o mundo encarnado num par de ocasiões, Xavier a contornar um muro chamado Maxi num ou noutro instante.

OS DESTAQUES DO BENFICA: Jonas, desbloqueador de problemas

Mais importante, e exceção feita a uma precipitação estranha de Patrick Bauer – com Lima a isolar-se perante Salin e a atirar ao lado – o Marítimo fez um perfeito levantamento da situação e conseguiu bloquear a fortuna de meios que estava do outro lado.

De medalhas ao peito, em bicos de pé e engalanado como se de um lorde britânico – dos mais conservadores, de Downton Abbey – se tratasse, o Benfica não percebeu o que o rodeava e jogou à roleta russa sem qualquer necessidade.

Ninguém pega numa boa caneca de cerveja como se de uma chávena de chá a escaldar se tratasse. Se o faz, lá está, é porque não percebe nem a vida, nem o mundo.

Dificuldades tremendas para fugir ao colete de forças imposto ao Marítimo, vários atletas em subrendimento – Pizzi, por exemplo, nunca apareceu –, lento e desinspirado, o bicampeão nacional não cumpriu o «dress code» e trouxe o traje de gala para o local errado.

No primeiro tempo, só quando a bola se aproximava da zona de intervenção de Jonas, o Benfica ameaçava com cara de mau. Aí sim, o brasileiro recuava, recebia e rodava, antes de servir quem de direito.

E foi ele, um senhor craque, a apontar a direção às águias, em cima do descanso: livre, bola longa, toque de Jardel, cabeça de Jonas e a bola a sair fraca, mas muito colocada.

OS DESTAQUES DO MARÍTIMO: João Diogo, justo momento de glória

Com o golo, a sensação geral foi unânime: está feito o mais difícil, o Marítimo cairá de forma abrupta, mas agarrado à sua cartilha.

É então que o híper-agressivo Raul Silva vê o segundo amarelo e vai para a rua, com 40 minutos de jogo pela frente. Tudo a favor do Benfica, tudo a apontar para mais uma viagem de glória, ainda que aos solavancos.

Mas que engano! Reduzido a dez unidades e com um brio espantoso, já para não referir a qualidade e a motivação, o Marítimo chega ao empate – passe de génio de Fransérgio, finalização perfeita de João Diogo – e aguenta-se até aos 80 minutos na discussão do troféu.

Benfica: últimos 25 minutos à bicampeão

O melhor período do Benfica é, de resto, o que está entre o golo do Marítimo e o de Ola John.

Pressionado pela força popular e pelas manifestações anti-sobranceria, o Benfica passou a dominar e a criar ocasiões atrás de ocasiões. Com mais uma unidade do que o Marítimo, é bom recordar.

Nico Gaitán aparentou o golo na marcação de um livre, Jonas falhou escandalosamente na boca da baliza, Lima atirou para as nuvens, mas percebia-se que o Marítimo dificilmente iria aguentar.

E assim foi: Jesus, irritado, lançou Talisca e Ola John, com o holandês a sentenciar tudo na fase final do duelo, após mais um lance absolutamente fantástico de Jonas, o homem que não sabe jogar mal.

O Benfica não se quis sujar e só depois de despir o emblema aristocrático fez a vontade ao povão. A Taça da Liga acaba mais uma vez no espólio da Luz.