O índice de sucesso das equipas mede-se através de vitórias. E o Benfica chegara ao jogo com o Famalicão na melhor sequência delas esta época: seis.

Só que as vitórias, tal como a desta noite arrancada a ferros (3-2), também podem ajudar a camuflar problemas que, ainda que estejam identificados, nem sempre são explorados com eficácia pelos adversários. Só que o Famalicão é uma equipa sagaz, diferente de muitas outras que proliferam no principal escalão do futebol português.

A construção dos golos que permitiram ao conjunto minhoto manter viva a esperança de chegar ao Jamor deixou a nu o calcanhar de Aquiles da equipa de Bruno Lage: a transição defensiva, e o espaço concedido e as abordagens macias quando o adversário fura a segunda linha de pressão e se encontra com uma longa via-rápida até ter os defesas pela frente.

Gabriel disfarça como seis, mas está longe dos índices de concentração exigidos para a posição e que Weigl, Samaris e Florentino preenchem, ainda que tenha sido com o brasileiro, Taarabt e Chiquinho no meio-campo (tal como esta terça-feira) que o Benfica apresentou a sua melhor face esta temporada. Curioso.

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A poucos dias de visitarem o Dragão, os encarnados foram obrigados a mais correrias do que o expectável. Bruno Lage promoveu quatro alterações no onze, deixando de fora nomes influentes como Vinícius e Rafa, mas também Weigl (motivos de saúde) e Ferro, que foi lançado para os segundos 45 minutos.

Depois de terem terminado o jogo com o Belenenses de semblante sôfrego, um cenário bem mais negro chegou a pairar sobre o Estádio da Luz quando a equipa de João Pedro Sousa passou para a frente do marcador.

Ao longo de todo o jogo, o Benfica consentiu espaços: muito mais do que o limite do razoável, perante uma equipa que quer e que sabe jogar futebol. De um lado, acumulação de passes falhados e incapacidade em «matar» à nascença os constantes ataques rápidos dos visitantes, muito esclarecidos no último terço.

Após uma entrada mais encolhida, o Famalicão soltou-se. Receita simples: bola a passar pelos médios e rapidamente colocada nos corredores, sobretudo o de Diogo Gonçalves (bela exibição do extremo cedido pelo Benfica).

No final da primeira parte registava-se um nulo no marcador e um empate técnico: em número de grandes oportunidades (Chiquinho para as águias e Pedro Gonçalves para os minhotos), de remates (5-5) e de posse de bola (51-49), ainda que os visitantes fossem mais esclarecidos na aplicação prática da estratégia trazida para a Luz.

Mesmo sem ser soberba, a segunda parte, que trouxe cinco (!) golos, correspondeu àquilo pelo qual anseia o comum adepto: emoção.

Aos 53 minutos, Pizzi inaugurou o marcador na conversão de um penálti assinalado após mão na bola de Riccieli.

O Famalicão, que instantes antes havia colocado em sentido a defesa encarnada duas vezes por Fábio Martins, não abanou animicamente e foi letal a aproveitar o desacerto gritante da linha média do Benfica.

Aos 60 minutos, Pedro Gonçalves foi deixando adversários pelo caminho e finalizou uma jogada fantástica após combinação na pequena-área com Diogo Gonçalves.

Por essa altura, a linha defensiva dos encarnados era já a habitual, com Ferro a juntar-se a Rúben Dias após a saída de Jardel ao intervalo.

Os alarmes soaram na Luz e Lage lançou em campo Rafa e Vinícius de uma assentada. Chegava ao fim a gestão a pensar no clássico (que o técnico das águias não assume).

A reviravolta teria também o cunho deles, mas antes disso a missão ficou mais complicada.

Os visitantes voltaram a furar com uma facilidade incrível o meio-campo e a defesa encarnada, e Toni Martínez, servido por Pedro Gonçalves, virou o jogo.

Se o público já tinha dado sinais de exaspero, pior ficou aí. Ainda assim, saiu da Luz satisfeito. Com o coração a palpitar perigosamente, mas satisfeito. Rafa, aos 78 minutos, aproveitou uma recarga a um remate de Vinícius para empatar e Gabriel, numa das poucas boas ações da noite, empatou já bem dentro da compensação na sequência de um canto.

O índice de sucesso de uma equipa medem-se pelas vitórias. Mas os sinais não são os melhores e a saúde da águia pode não ser tanta como a que aparenta.