«É tão fácil ser dos “grandes”. Mas é tão mais bonito ser do Caldas.»
A mensagem estava preparada e surgiu na zona da claque do Caldas logo após o Benfica chegar ao golo.
Mas antes, já o público das Caldas da Rainha mostrara que era realmente bonito apoiar o clube da terra.
Ao contrário do que seria de esperar, o Benfica não jogou em «casa» no Campo da Mata. Porque a maioria das pessoas que estava nas bancadas do pitoresco estádio puxou pelo Caldas.
E é impossível isso não ser nota de destaque numa cultura em que os ditos «grandes» são quase sempre donos e senhores do futebol cá do burgo.
Talvez se houvessem mais Caldas.
Mais clubes com identidade e a jogar de peito feito com um «gigante».
Porque quem viu o jogo, não notou que estavam no mesmo campo o líder da Liga e um clube que joga dois escalões abaixo.
Isso é a festa da Taça.
Uma festa que podia ter-se tornado ainda maior se aquele remate de João Silva, aos 38m, não tivesse esbarrado no poste depois da palmada de Helton Leite.
Numa altura em que o vice-líder da Liga 3 encostava o ainda invicto Benfica à sua área.
E do outro lado não estava uma equipa assim tão diferente da que tem sido aposta mais frequente de Roger Schmidt.
O alemão lançou Helton Leite, Brooks e Rodrigo Pinho. Mas manteve na equipa inicial nomes como Grimaldo, Enzo, Florentino ou João Mário.
A base estava lá, portanto. Aquilo com que o Benfica talvez não contasse era com a coragem deste Caldas.
É que a brava equipa de José Vala nem quando se apanhou em desvantagem se encolheu.
Musa entrou ao intervalo na equipa do Benfica para revolucionar o jogo das águias, marcou aos 53m após uma bela jogada, e ainda obrigou Wilson, o guarda-redes do Caldas, a tornar-se herói com uma mão cheia de defesas.
Este Caldas é alma, também. E coração!
E que melhor forma de o mostrar a todo o país do que com um golo de um menino que só conheceu a camisola do Caldas?
«É tão mais bonito ser do Caldas.»
Gonçalo Barreiras. O menino de 20 anos que começou a jogar futebol no Caldas aos oito anos; que foi apanha-bolas até não o deixarem mais; e que é, acima de tudo, adepto do clube da terra.
Foi ele quem, aos 73m, soltou a festa no Campo da Mata. E depois bateu no peito. Bateu no peito com sentimento até ser embrulhado no abraço dos companheiros e na ovação de um estádio que para ele é casa.
Ora, o jogo podia ter acabado ali. Não era preciso mexer mais na história. Era bonito aquilo que acontecera na «Mata mágica» como os adeptos do Caldas, carinhosamente, apelidam o estádio.
Mas o jogo foi para prolongamento. E nem sinal de o Caldas a fraquejar, mesmo perante a pressão cada vez maior do Benfica.
E o jogo seguiu para o desempate por penáltis. E só Clemente falhou, logo à primeira tentativa. No Benfica marcaram todos e a águia, depois de quase se perder na Mata Mágica, lá se encontrou rumo à próxima fase da Taça.
«Ninguém passa na Mata, ninguém passa na Mata!», ouviu-se tantas vezes. O Benfica passou. A festa da Taça só volta à Mata no próximo ano.
Mas uma coisa é certa: quem passa na Mata, não esquece a Mata.