Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que acredite, não é?

O Famalicão ousou desafiar a história e a lei do mais forte. Não se importou com as probabilidades nem se assustou com o oponente. Enfim, fez pela vida e o Jamor esteve ali tão perto. Chegou a vê-lo no horizonte, mas um pontapé fortíssimo de Otávio (golo incrível) fez ruir o sonho minhoto aos 120+1.

Já com o adversário de rastos, os portistas dissiparam quaisquer dúvidas quanto ao vencedor da eliminatória com um golo de Evanilson no último lance da partida (3-2).

O FC Porto chega à final da Taça de Portugal pela segunda vez seguida e pela quarta em vez em seis anos desde que Sérgio Conceição é treinador do clube. Esta noite, o técnico entrou para a história dos portistas (mais uma vez) ao igualar José Maria Pedroto em número de jogos no banco (322).

A final da Taça é um dia de festa, cheio de sorrisos e animação. Enfim, é tudo o que o jogo do FC Porto não foi.

O campeão nacional e detentor do troféu fez uma exibição cinzenta. Sem grande inspiração e acima de tudo, qualidade. Salvou a face no prolongamento, contudo.

Mais do que sonhar, o Famalicão acreditou que era possível virar a eliminatória em pleno estádio do Dragão. Percebeu-se essa crença desde o pontapé de saída, aliás. Sem permitirem nada ofensivamente ao adversário, os minhotos abriram o marcador aos 21 minutos num golpe de cabeça de Cádiz.

O FC Porto empatou praticamente no lance seguinte, o primeiro em que finalizou na área contrária. Uribe desviou para as mãos de Luiz Júnior, mas foi carregado em falta por Dobre. Após recurso ao VAR, Manuel Mota apitou o penálti que Galeno tratou de converter em golo – 2-1 azuis e brancos na frente da eliminatória.

Embalada pela vantagem, a equipa portista ficou perto de consumar a reviravolta antes do intervalo em duas ocasiões. Na primeira, Luiz Júnior travou o remate de Toni Martínez e depois, foi o adiantamento do espanhol a impedir que o Dragão celebrasse o golo de Galeno.

Por sua vez, o Famalicão voltou a ameaçar o 1-2 num pontapé na passada de Cádiz que Cláudio Ramos susteve com dificuldade. A desvantagem na eliminatória ao intervalo não criou dúvidas nos famalicenses que voltaram a entrar bem no segundo tempo.

Esperava-se, por outro lado, uma melhoria substancial do FC Porto. Não aconteceu, porém. Conceição decidiu mexer depois de Cláudio Ramos ter defendido para o poste um remate de fora de área de Iván Jaime, mas sem efeitos práticos.

Irreconhecíveis, desligados, lentos e com deficiências na definição, os dragões fizeram, quiçá, uma das piores exibições da época. Por isso, pairava no ar a sensação de surpresa (ou não, para quem viu o que as duas equipas tinham feito até então).

O 1-2, que empatou a eliminatória, surgiu à entrada para os dez minutos finais. Iván Jaime (quem mais?) fugiu pela esquerda e só parou de correr depois de colocar a bola no fundo da baliza portista. E a surpresa só não foi maior porque Cláudio Ramos evitou o 1-3 de Penetra a três minutos dos noventa. 

Com os ânimos quentes (Pepe queixou-se de alegado insulto racista de Colombatto), o jogo seguiu para prolongamento. Após 31 minutos de tempo extra, Otávio arrancou um pontapé de raiva, indefensável para Luiz Júnior. O Dragão explodiu de euforia, o banco saltou todo para celebrar com o internacional português e Sérgio Conceição acabou expulso depois de uma altercação junto ao banco contrário.

Por isso, o treinador portista já não viu o golo que fechou o marcador anotado por Evanilson. 

Ufa, suspirou o FC Porto. O Famalicão caiu como os maiores normalmente caem: de pé.