Terra de pescadores, a Figueira da Foz faz neste momento o luto pelas cinco vidas perdidas na passada semana no naufrágio da embarcação Olívia Ribau. Em altura de Taça, e com a visita de uma equipa da primeira divisão, a Naval quis retribuir aos pescadores o que têm feito pelo clube. Assim, a receita de bilheteira do encontro de domingo com o Paços de Ferreira, da 3.ª eliminatória da Taça de Portugal, reverterá na íntegra para as famílias das vítimas.
 
A tragédia toca de perto a Naval. Não só por ter como adeptos e sócios pessoas que vivem da pesca, mas também porque a equipa senior é composta maioritariamente por atletas com ligações ao mar e até a algumas das vítimas mortais do naufrágio. A dor que se sente na cidade é visível também dentro das portas do clube.
 

Naval - Futebol A equipa senior da Naval , composta maioritariamente por atletas com ligações ao mar e a algumas das v...

Posted by Naval 1º de Maio on  Quinta-feira, 8 de Outubro de 2015
 



«A Naval sempre esteve ligada aos pescadores e, se eles contribuíram para ajudar o clube, agora é a nossa vez de retribuir. Queremos fazer alguma coisa para ajudar as pessoas nesta altura difícil e aproximar a Naval das suas origens», disse ao Maisfutebol Vera Azul, diretora do clube figueirense.
 
Por isso a iniciativa solidária surgiu de imediato. «Contactámos a Federação e o Paços de Ferreira, no sentido de se associarem a nós para que pudéssemos entregar a totalidade das receitas. O Paços disponibilizou-se de imediato para abdicar da parte que lhe cabia. A FPF também já disse o mesmo, embora não tenha ainda formalizado essa situação», explicou.
 
«Nós vamos arcar com as despesas inerentes à organização do jogo e a receita de bilheteira vai toda para as famílias das vítimas», disse a responsável.
 
Os bilhetes terão um valor único de cinco euros, mas inicialmente até deveria ser superior. «Como jogamos com uma equipa da I Liga, o valor estabelecido pela Federação para os bilhetes era superior aquele que costumamos praticar no CNS (Campeonato Nacional de Seniores). Considerámos que era elevado para o nosso público, ainda por cima tendo em conta a iniciativa solidária, por isso, chegámos a acordo com a FPF para que fosse fixado um preço de cinco euros», adiantou.
 
A Cruz Vermelha ofereceu já um contributo, disponibilizando a título gratuito os seus serviços no jogo. E o clube apelou então a que adeptos e empresas do concelho se associassem à causa, comprando estas últimas pacotes de 50 bilhetes (250 euros) ou de 100 bilhetes (500 euros).

Com uma lotação de 9500 lugares no estádio, caso consigam vencer todas as entradas, o valor será de 47500 euros. Mas a baixa adesão não está a agradar à direção da Naval. «Estava mais otimista, pensei que a adesão seria maior», confessou Vera Azul. «Só seis empresas do concelho se associaram até agora e cerca de 100 particulares. No total vendemos à volta de 1500 euros (300 bilhetes)».
 
A responsável reconhece que a situação económica pode não ser benéfica. «Sei que é uma altura complicada, mas queríamos que as pessoas não vissem isto como apenas uma ida ao futebol. Nós também temos dificuldades e a bilheteira não dava jeito, dava um jeitão, mas achamos que é altura de ajudar», frisou.
 
Já em 2010 a Naval criou uma iniciativa solidária, na altura com as receitas a reverterem para vítimas do temporal que assolou a Madeira e matou dezenas de pessoas, causando também prejuízos de mais de um milhão de euros. O clube figueirense angariou então 32 mil euros.
 
Agora que a tragédia bateu à porta de casa, a iniciativa já juntou 1500 euros, mas Vera Azul deixa um apelo: «Mesmo que não queiram vir ao jogo, comprem o bilhete para ajudar».