Por Adérito Esteves

Os clubes fazem-se das suas gentes. E a comunidade da Figueira da Foz é feita de gentes ligadas ao mar. Por essa razão, antes mesmo do apito inicial para a partida da 3.ª eliminatória da Taça de Portugal, já ambas as equipas tinham alcançado um resultado importante, em que todos saíram a ganhar e a solidariedade marcou mais um bonito golo no futebol.
 
A Naval 1.º de Maio quis homenagear as vítimas do naufrágio que, no dia 6 de Outubro, tirou a vida a cinco pescadores do arrastão Olívia Ribau. A instituição presidida por Aprígio Santos definiu um preço simbólico para os bilhetes (5 euros), anunciando a entrega da totalidade da receita da partida para os familiares das vítimas. Desde logo teve o aval dos pacenses e dos responsáveis federativos. A onda de solidariedade chegou também de várias empresas e de outros clubes, como o Rio Ave.
 
Na tribuna presidencial, os dois únicos sobreviventes do acidente ocorrido à entrada da barra da Figueira da Foz assistiram à partida na companhia das suas famílias, respondendo ao convite da direção navalista.
 
Alcançado este triunfo, no futebol jogado dentro do campo o Paços de Ferreira desde cedo mostrou que não veio à Figueira da Foz para brincar. Jorge Simão passou uma mensagem de seriedade com que era preciso encarar o desafio contra um adversário do CNS e os jogadores assinaram por baixo.
 
E quem melhor interpretou a mensagem do técnico foi o jovem Diogo “intensidade” Jota. Sempre ligado ao jogo, constantemente a impor a sua velocidade e a trocar as voltas aos defesas contrários. Esteve em quatro dos cinco golos da primeira parte e isso nem diz tudo o que o camisola 18 deu à partida. 

Castores destroem barragem navalista

A qualidade e superioridade do jogo dos castores demorou 18 minutos a ter expressão no marcador. Mas a partir daí não mais parou. O vocabulário do futebol é pródigo na forma de qualificar a situação que se viveu. Desde um “só custa o primeiro”, ao “ketchup” celebrizado por Cristiano Ronaldo, aquilo a que se assistiu no estádio Bento Pessoa foi uma verdadeira enxurrada de golos dos castores, sem que o conjunto figueirense conseguisse impedir o caudal ofensivo do adversário.
 
Depois de conquistar a grande penalidade que deu o 2-0 (20m) – o primeiro de quatro golos de Bruno Moreira – Diogo Jota (38m) marcou o terceiro e o quinto (44m), fazendo o que quis da defesa contrária. Após o 5-0, o intervalo chegava com algum atraso face às pretensões do conjunto de Fernando Mira, que se apresentou bastante desconcentrado nos últimos minutos do primeiro tempo.
 
A entrada na segunda parte mostrou algo que ainda não se tinha visto: o conjunto pacense relaxado. Demasiado relaxado, aliás. Numa desatenção do sector recuado, Hélder Lopes foi obrigado a recorrer à falta para parar China, que já estava dentro da área. A grande penalidade foi convertida por Luís Leite, marcando o golo de honra do conjunto da casa.
 
Após mais alguns minutos em que os pacenses se mantiveram algo sonolentos, o jogo retomou a história da primeira parte, ainda que com muito menor intensidade. Foi o suficiente, porém, para Bruno Moreira chegar ao hat-trick, enviar uma bola à barra e chegar ao poker de golos mesmo a fechar a partida.