No carrossel deste jogo de loucos até Tom Cruise enjoaria. São voltas e voltas, descidas alucinantes e subidas dolorosas, tudo para as duas equipas (aplausos a ambas!) chegarem ao Nirvana desta Taça de Portugal: o Jamor, custe o que custar. O Sporting caiu, o Sp. Braga sobreviveu.

Paulo Fonseca evocara a Missão Impossível, dispensara o criador da Cientologia, mas deve estar arrependido. Este teria sido um jogo para super-heróis e alter-egos.

Cruise, efeitos especiais, fugas suicidas e explosões. Num grande jogo de futebol, este cocktail cinematográfico teria feito todo o sentido. Um ornamento para Sp. Braga e Sporting - competência quase religiosa a dividir pelos dois lados.

FICHA DE JOGO E A PARTIDA VIVIDA AO MINUTO

Em determinados instantes, de resto, com o talento (tanto, no Sp. Braga e no Sporting) a trasvestir-se de sorte, não foi difícil imaginar Fonseca e Jesus submersos no maravilhoso mundo do realismo mágico.

A vida, a natureza, o futebol, tudo real, embora pintado com o maravilhoso tom do fantástico. Sete golos, cambalhotas e piruetas, avanços e recuos no marcador, um filme talvez demasiado bom para ser rotulado apenas de ação.

Intriga, mistério, suspense, isso sim. Vamos em frente, há tanto para contar.

É obrigatório começar pela nota artística no golo de Bryan Ruiz – o pé esquerdo deste senhor tem veludo e fel – e pela boa neutralização feita pelo Sporting ao 4x4x2 de Fonseca durante quase toda a primeira parte.

Mas há um menino chamado Rafa que tem tiques de génio e, liberto dessa cobertura leonina, encontrou Wilson Eduardo num jogo de sombras. O ex-leão atirou com uma pontualidade assombrosa (em cima do intervalo) para o empate.

Soltou-se o Sp. Braga, soltou-se Alan e surgiu golo num pontapé de primeira. Cruzamento de Marcelo Goiano, remate do veterano Guerreiro, cada vez maior e melhor. 2-1, primeira reviravolta, e reação imediata do leão, pela cabeça do panzer Slimani: 2-2, com mais de meia hora para jogar.

DESTAQUES DO JOGO: Rui Fonte, depois de Rafa e Marcelo Goiano

Por essa altura, nem o yoda Aquilani, cérebro e bom senso leonino, tinha mão no ritmo: frenético, incontrolável, estímulos e pulsões, tudo podia acontecer.

William colocou o Sporting na frente - mais uma reviravolta -, aproximou-o da vitória, mas Marcelo Goiano não deixou. Já com os músculos pesados e as energias rarefeitas, o lateral fugiu da esquerda para o meio e disparou com a perícia de um goleador. 3-3, prolongamento.

E o prolongamento foi a Fonte da eterna juventude bracarense. Na cabeça de Rui, emprestado pelo Benfica, morou o derradeiro capítulo de uma noite fabulosa, de um jogo para contar daqui a uns anos a filhos, netos, afilhados… Reviravolta, mais uma.

A Missão era Possível, afinal. Num carrossel kamikaze, qual montanha russa de doidos, sobreviveu o que teve mais capacidade de reagir à adversidade. O mais justo, permitam-nos concluir assim, teria sido a vitória a dividir por Sp. Braga e Sporting.

Até ao final, mais sustos, mais perigo a rondar as balizas, mais coração a substituir-se a táticas e planos de jogo. Os bravos deste pelotão renovaram energias e levaram a dúvida até ao limite. Grande, grande jogo de futebol, quiçá o melhor na época 2015/16 em Portugal. 

Parabéns às equipas, aos treinadores e ao árbitro – apesar de um erro grave, ao assinalar fora de jogo a Slimani num lance que poderia dar golo. Responsabilidade do juiz assistente.