Angústia, sofrimento e, por fim, libertação. O Rio Ave esteve agrilhoado, sofreu duas vergastadas inclementes, pareceu física e emocionalmente devastado, até que, sem se saber bem como, renasceu. Fez dois golos por obra e graça de Christian Atsu, o caçador das savanas, e depois resolveu tudo no prolongamento. 5-2 é o resultado final e um maquilhador de sentimentos e dificuldades.

Se a equipa da III Divisão tivesse gerido melhor as emoções e a superioridade numérica (expulsão de Tiago Pinto), se tivesse a mesma capacidade física do adversário de Vila do Conde, se Norinho tivesse feito golo nas duas oportunidades de ouro que usufruiu, podíamos estar embalados numa narrativa épica.

Na verdade, o heróico Sousense merecia muito mais do que um amontoado de «ses». Merecia, pelo menos, o prémio de levar a discussão da contenda até às grandes penalidades. Não o conseguiu, mas deixou uma imagem de estoicismo e competência. A prova, mais uma, de que há muita gente a trabalhar bem nos escalões inferiores. Em Portugal, com jogadores portugueses.

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Da parte do Rio Ave, a primeira vitória da temporada faz-se acompanhar de alívio e preocupação, cada um de mão dada. Alívio pelo escape a uma situação confrangedora, talvez dramática, e preocupação pela forma como o conseguiu.

Apesar da qualificação para a IV Eliminatória, ninguém no balneário do Rio Ave poderá esquecer que o Sousense esteve a ganhar, e bem, por 0-2. Até aí, o quadro não podia ser mais negro para os de Vila do Conde. De um lado uma equipa ansiosa, sôfrega, preocupada com o que lhe estava a acontecer; do outro, um conjunto extremamente organizado e habilitado pela qualidade técnica de Chico e Norinho, dois avançados estonteantes.

O golo de Chico é, de resto, uma obra-prima. Um «chapéu» primoroso, executado ainda de fora da área, com Huanderson a voar, voar, voar e acabar estatelado no chão. Logo depois, grande penalidade, expulsão de Tiago Pinto e Paulinho a fazer o segundo do Sousense.

Daqui em diante, com as bancadas a agitarem protestos e indignação, Christian Atsu e Kelvin decidiram pegar no jogo e tornarem-se assombrosamente decisivos. A recuperação partiu dos pés destes dois dragões emprestados e acabou num prolongamento já influenciado pelo esgotamento do Sousense. Os bravos da Foz de Sousa, insista-se, mereciam mais.

Nota final para Jorge Ferreira: quatro expulsões, duas delas exageradas. Não havia necessidade.

FICHA DE JOGO

ESTÁDIO: Estádio do Rio Ave FC, em Vila do Conde, três mil espectadores

ÁRBITRO: Jorge Ferreira, auxiliado por Tomás Santos e Inácio Pereira

RIO AVE: Huanderson; Zé Gomes (Jean Sony, 59), Jeferson, Éder Monteiro (Wires, 42) e Tiago Pinto; Vitor Gomes, Tarantini e Jorginho (Pateiro, 66); Christian Atsu, João Tomás e Kelvin.

Suplentes não utilizados: Rafa, Mendes, Dinei e André Dias

SOUSENSE: Ricardo; Daniel, Bruno Cunha, Salvador e Vitor Hugo; Paulo Freixo (Pedro Sales, 78), Cláudio e Paulinho; Filipe Cândido (Marcos, 74), Norinho e Chico (Telmo, 106).

Suplentes não utilizados: Fábio, Fernandes, Marcos, Cristiano e Pires

AO INTERVALO: 0-0

DISCIPLINA: cartão amarelo a Daniel (24m), Filipe Cândido (35), Paulo Freixo (43), Paulinho (67), Bruno Cunha (69), Jean Sony (78 e 105), Cláudio (100), Norinho (102 e 108); cartão vermelho para Tiago Pinto (60), Daniel (103) e Jean Sony (105).

MARCADORES: 0-1, Chico (51m); 0-2, Paulinho (61, g.p.); 1-2, Kelvin (71); 2-2, Pateiro (74); 3-2, João Tomás (101); 4-2, João Tomás (105, g.p.); 5-3, Kelvin (115).