Octávio Martins tem 89 anos, tantos quantos os que soma como sócio do Barreirense. Foi e continua a ser o sócio número um de um clube, que abraçou desde nascença e que ainda hoje é um dos amores da sua vida. «O Barreirense é uma coisa sagrada para mim», afirma emocionado, enquanto as lágrimas lhe espreitam nos olhos.  

Confessa que é difícil falar em tudo o que passou e viveu na sua segunda família, mas revela que arrastou consigo a mulher, filhos e netos. «O meu único filho tem 50 anos e foi feito sócio na mesma noite em que nasceu», afirma orgulhoso. Mas este é um sentimento não só incutido pela família, mas acima de tudo vindo de dentro. «O meu filho fez questão de casar nas instalações do clube por vontade própria». 

Nem mesmo o trabalho ou o cansaço o impediram de se dedicar de alma e coração ao clube. Funcionário dos caminhos-de-ferro portugueses durante 41 anos, foram poucos os dias em que falhou o ritual: depois de largar o posto, dirigia-se ao Barreirense e encontrava-se com os amigos. Fazia e ajudava no que fosse preciso. A mulher não se incomodava com as escapadelas diárias porque ela própria via o clube como uma segunda casa. 

As marcas dos passar dos anos apagam-se quando fala dos velhos tempos. Dos tempos em que levava toda a família aos jogos e «roía as unhas até ao sabugo». Da altura em que «as bancadas do estádio ainda eram de madeira», da época em que o seu clube «precisou de três partidas para eliminar o Belenenses para a Taça de Portugal». 

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