Novak Djokovic deixou escapar a defesa do título em Roland Garros e foi derrotado como há muito não era num encontro do Grand Slam, confirmando um dos piores momentos da sua carreira.

O tenista sérvio, que eliminou o português João Sousa na segunda ronda do torneio francês, perdeu na quarta-feira o último dos quatro títulos nos Majors que detinha ao ser afastado nos quartos-de-final pelo austríaco Dominic Thiem por três sets a zero, com o concludente parcial de 7-6 (7-5 no tie-break), 6-3 e 6-0 (um pneu, gíria do ténis para um set sem qualquer jogo ganho).

Num torneio do Grand Slam, Djokovic não perdia sem vencer qualquer set há quatro anos e não sofria um 6-0 desde 2005.

Colocando o resultado na sua devida perspetiva, ainda há três semanas, Djokovic eliminou no Masters 1000 de Roma o austríaco n.º 7 com retumbantes 6-1 e 6-0.

Mais do que pela derrota pesada e o fracasso na defesa do título no torneio francês, que havia conquistado pela primeira vez na edição anterior, «Nole» (alcunha pela qual é conhecido), de 30 anos, vive um ciclo negativo bem mais profundo, que se segue a um ano repleto de êxitos.

Poderá dizer-se que a queda de Djokovic já vinha de trás, até se consumar agora no pó de tijolo de Roland Garros.

Entre julho de 2015 e junho de 2016, Djokovic conquistou consecutivamente Wimbledon, Open dos Estados Unidos, Open da Austrália e Roland Garros, completando o Grand Slam. Igualou 47 anos uma façanha alcançada pelo australiano Rod Laver, mas desde aí a carreira do sérvio caiu abruptamente.

Agora, depois de perder o último título do Grand Slam, Djoko deixará (a partir de segunda-feira) de ser o n.º 2 Mundial e pela primeira vez desde março de 2011 não será líder ou vice-líder do ranking ATP – podendo até cair para quarto, ultrapassado pelo Rafael Nadal e pelo suíço Stan Wawrinka.

Troca de treinador e influência do guru Pepe Imaz

Após a eliminação desta quarta-feira, em Paris, o tenista ponderou publicamente uma pausa na época:

«Pensei muito nos últimos tempos. Cabe-me a mim saber o que é melhor para mim. Houve muitas mudanças na minha equipa. Não é fácil tomar esse tipo de decisão (de fazer uma paragem).»

Depois de há um mês, antes do Masters 1000 de Roma, afastar o seu treinador de longa data Marian Vadja, o preparador físico Gebhard Phil Gritsch e o fisioterapeuta Miljan Amanovic, Djokovic passou a ser orientado pelo ex-tenista norte-americano Andre Agassi.

Estava decidido a fazer o que na altura considerou uma «terapia de choque» para recuperar a liderança do ranking ATP perdida em novembro para o britânico Andy Murray.

A decisão, porém, ainda não deu frutos. Antes pelo contrário, e a verdade é que, apesar de Djokovic ter defendido Agassi já depois da eliminação em Roland Garros, Boris Becker, que deixou de trabalhar com o sérvio em dezembro, defendeu que ele precisa de um técnico a tempo inteiro e mais presente.

Isto porque Agassi não estava sequer presente na box, junto ao court, para assistir ao confronto frente a Thiem.

Thiem cumprimenta Djokovic após a vitória de quarta-feira em Roland Garros 

Além da troca de treinador, têm sido habituais as críticas sobre a influência na carreira do sérvio por parte do guru Pepe Imaz, que foi poupado à «terapia de choque» que varreu toda a equipa técnica.

O ex-tenista espanhol, que tem assumido o papel de mentor espiritual de Djokovic, possui uma academia em Marbella onde defende uma abordagem à modalidade assente num lema de «amor pela modalidade» e em métodos pouco ortodoxos de telepatia e telecinesia.

Há quem defenda que esta relação, que se estreitou no último ano, e a consequente alteração radical dos hábitos alimentares de Djokovic estarão na base da quebra de forma do antigo n.º 1 do ranking e vencedor de 12 títulos do Grand Slam.

Depois de perder o último dos seus cetros, Djokovic entra agora num período de reflexão que pode levar à sua paragem.

Encontrará em breve o caminho para sair da sua maior crise de resultados desde que chegou ao topo do ténis mundial?