O Vicente Calderón já conheceu muitos jogadores portugueses. Paulo Futre, claro, e antes dele Jorge Mendonça, o primeiro a atravessar a fronteira e a jogar na Liga espanhola, no final dos anos 50. Houve também Hugo Leal, Dani, Maniche, Costinha, Simão, Zé Castro, Sílvio, Pizzi. Nesta altura resta uma referência lusa: Tiago. O médio vai na quinta temporada com a camisola «colchonera» e já é o segundo capitão de equipa. Aos 32 anos, a jogar na quinta grande Liga da sua carreira, Tiago mantém-se no topo. Na última semana foi capitão de equipa frente ao Osasuna e titular no dérbi com o Real Madrid, que o Atlético venceu.

Tiago chegou a Madrid em janeiro de 2010, por empréstimo da Juventus. Fez 23 jogos nessa meia temporada, mesmo não podendo jogar na Liga Europa, que o Atlético venceria, por já ter jogado pelos italianos nas competições europeias. Na época seguinte, após um longo período de indefinição que durou até meados de agosto, voltou a rumar a Madrid. Pelo meio chegou Diego Simeone, que manteve a confiança no português. No verão de 2011 assinou em definitivo com o Atlético, por duas épocas. E no verão de 2013 prolongou o vínculo por mais uma temporada.

As negociações prolongaram-se e a insistência de Simeone na continuidade do português foi fundamental, escreveu a imprensa espanhola. Meses antes de terminar a época, em março, o treinador tinha deixado claro que o português era um dos seus. «O Tiago é importantíssimo. É um miúdo muito querido pelos companheiros, muito trabalhador, um jogador que soube esperar o seu momento na primeira parte do campeonato e depois respondeu da maneira que eu sempre imaginei, tal como já tinha feito na temporada passada. Tiago dá-nos muito boa concorrência», disse o argentino.

Tiago é um jogador de equipa e encaixa na perfeição na lógica de rotatividade do treinador. Esta época, no meio de um problema físico que o afastou durante alguns dias, jogou quatro das sete partidas do Atlético Madrid na Liga. É alternativa regular para o meio-campo, e até tem faturado. Já marcou dois golos, um ritmo bem acima da sua média habitual. Na época passada marcou os mesmos dois em toda a temporada.

Dani, ex-jogador do Atlético Madrid e atual comentador da TVI, destaca em Tiago a segurança que oferece ao técnico. «É uma opção válida. Não faz muitos jogos, mas quando sai um jogador é uma opção segura para o treinador», nota Dani ao Maisfutebol: «É um jogador com experiência, que certamente faz bom ambiente no balneário. Importante por tudo o que dá, dentro e fora do campo.»

Tiago tinha 19 anos quando se estreou na Liga portuguesa, com a camisola do Sp. Braga. Ao fim de duas épocas e meia no Minho rumou ao Benfica, junto com Ricardo Rocha. Despediu-se da Luz em 2004, depois da época mais goleadora da sua carreira, 10 golos com a camisola encarnada, e de vencer a Taça de Portugal. Seguiu com José Mourinho para o Chelsea. Só ficou um ano em Stamford Bridge, o suficiente para ser campeão de Inglaterra, seguiu-se França e o Lyon, duas épocas e dois títulos de campeão. Em 2007 rumou à Juventus, mas a mudança para Itália ficou muito aquém das expectativas: dos adeptos, dos críticos e do próprio jogador.

Voltou a ser feliz em Madrid, desde 2011 em exclusivo. Depois de ter representado Portugal no Mundial 2010, disse adeus à seleção. Tinha apenas 29 anos, invocou razões pessoais e o fim de um ciclo, acrescentando de caminho que tinha «chegado o momento de dar oportunidade a que novos valores do futebol português tenham o seu espaço». 

Já lá vão quase três anos e Tiago continuou a carreira. Concentrou-se no At. Madrid, já leva mais de 140 jogos com a camisola «colchonera» e já juntou troféus ao palmarés: a Liga Europa em 2012, a Taça do Rei em 2013. Na altura em que Tiago se prepara para regressar a Portugal e jogar no Dragão, esta terça-feira, para a Liga dos Campeões, aproveite para recordar aqui uma carreira de 14 anos que tem dentro um palmarés invejável.