Aos 26 anos, Tiago Silva fez as malas e rumou a Terras de Sua Majestade para a primeira aventura no estrangeiro.

Depois de um ano difícil no Feirense, o médio ofensivo impôs-se – até para surpresa do próprio – rapidamente como um dos jogadores mais importantes no Nottingham Forest, a equipa mais portuguesa do Championship e um histórico do futebol inglês.

Em conversa por videochamada com o Maisfutebol, recordou a passagem pela formação do Benfica, onde foi treinado por Bruno Lage, a admiração por Pablo Aimar, os anos no Belenenses (com histórias inusitadas de Sá Pinto), no Feirense e os primeiros tempos em Inglaterra, onde se sente acarinhado.

Tiago Silva está agora em Portugal, onde aguarda que a pandemia abrande, para poder voltar a contagiar-se por algo seguro e saudável: o futebol inglês vivido por dentro. Enquanto isso, procura manter-se em forma e faz compras para a família.

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MF – Foi operado já perto da paragem do campeonato, certo?

T.S. – Sim. Perdi os dois últimos jogos. Ganhámos ao Cardiff com um golo meu, fui para casa e no dia a seguir estava cheio de dores de barriga. No outro dia fui treinar, estava com febre e o doutor disse-me para ir para casa: eu disse-lhe que ia para o hospital, porque coincidiu com o início do coronavírus em Inglaterra.

MF – Pensou que podia ser isso?

T.S. – Estava cheio de medo que fosse isso. O doutor foi comigo e disseram-me que os sintomas não correspondiam. Era uma apendicite.

MF – Depois disso, o dono do Nottingham testou positivo por Covid-19.

T.S. – Foi assim: ele reuniu connosco no dia 5 e eu, supostamente, nem devia estar presente, porque estava a recuperar da operação, mas tive de ir ao clube. E disseram: ‘Já que estás aqui, assistes à reunião também.' Ele falou connosco um bocadinho. Estávamos todos tranquilos. Aliás, o clique deu-se mais quando o presidente foi infetado. Felizmente, não estivemos em contacto direto com ele nessa reunião. Mais tarde, quando se soube, os jogadores foram todos testados e estava tudo tranquilo. Eu não fui testado. Já estava em Portugal, porque fui autorizado a vir recuperar cá, e todos os exames deram negativo: eu também nunca tive sintomas, mas cumpri a minha quarentena. Uns dias depois foi decretado o estado de emergência.

MF – Que opinião tem sobre a forma como tudo isto foi gerido em Inglaterra inicialmente? Dá ideia que houve algum menosprezo, concorda?

T.S. – Um bocadinho, sim. Já quando eu estava em Portugal, falava com os meus colegas portugueses que tiveram de ficar lá - porque ainda estávamos em atividade - e eles diziam-me que os supermercados estavam sempre cheios e que as pessoas não estavam a ter noção do que estava a passar-se. Lá chegou um bocadinho mais tarde, mas chegou com força.

MF – Sente que o campeonato em Inglaterra parou no momento certo ou tarde?

T.S. – Sinceramente não sei. Mas os números falam um bocadinho por si e os estádios de futebol são dos maiores locais de contágio, porque as pessoas estão sempre muito próximas, festejam e abraçam-se. Não sei até que ponto é que não deveria ter sido cancelado mais cedo.

MF – E como está a passar este período de isolamento de praticamente um mês?

T.S. – Eu sou uma pessoa muito ligada à família, mas não estou próximo nem do meu pai, nem da minha mãe. Estou com a minha namorada, a minha irmã, a minha sobrinha, o meu cunhado e a minha avó. Vamos estando juntos e é ótimo, mas já estou a sentir muita falta de jogar futebol e de atividade. Saio de casa para correr, e é bom, mas não é a mesma coisa. O que eu sei fazer é jogar futebol.

MF – Disse que não está com os seus pais. Como lida com essa impossibilidade?

T.S. – É horrível. Porque era das coisas de que eu mais sentia falta quando estava fora. Só estou com eles quando faço as compras: a minha família tem muita gente que pertence a grupos de risco e sou eu quem faz as compras para todos eles. Temos um grupo da família, eles mandam-me a lista e eu vou tipo Uber Eats a casa de cada um entregar [risos]. Mas não estamos em contacto. Deixo lá e pergunto como estão, com a devida distância de segurança.

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