Alfredo Mousinho Esteves nasceu em Lisboa a 6 de Maio de 1976, filho de pai português e mãe timorense. Os pais conheceram-se em Timor, quando o pai estava a cumprir o serviço militar e, apesar de viverem em Portugal, não perderam a ligação ao país. Por isso, quando, em 2004, foi chamado para representar a seleção na Tiger Cup, o jogador garante: «Fui muito acarinhado e senti-me logo em casa».

Nessa altura, o defesa estava no Oliveira do Bairro e depois passou para o Desportivo das Aves, acabando por sair para o futebol norte-americano. Foi o primeiro capitão da seleção de Timor e usou a braçadeira durante vários anos, até acabar a carreira.

O antigo jogador contou ao Maisfutebol a paixão que o seu país sente pelo futebol. «Pelas ruas de Timor veem-se muitos miúdos a jogar à bola, sem sapatos, com as camisolas de grandes clubes portugueses, ingleses. E quando Portugal, ou o Benfica jogam, mesmo que seja de madrugada, as pessoas param em frente à televisão a ver os jogos. É o desporto mais importante em Timor».

E se os adeptos são assim entusiasmados, como são os jogadores? «Em Timor não há liga profissional. Há alguns campeonatos não muito organizados. Os jogadores são habilidosos, são atletas, mas depois não têm condições de treino, de saúde e de alimentação que lhes permitam estar ao mais alto nível», explica.

O capitão «faz tudo»

Alfredo Mousinho Esteves conta que essa falta de profissionalização dos jogadores também se notava na seleção. «Quando lá cheguei percebi que era muito diferente de Portugal. Os jogadores eram quase todos dos campeonatos timorenses, tinham outras profissões e na seleção não ganhavam nada, podiam mesmo perder o salário do dia de trabalho que perdiam para jogar, por isso encaravam a ida à equipa nacional de uma forma diferente. Alguns jogadores passavam dificuldades para ir à seleção».

«Treinávamos um ou dois meses em campos de terra batida, sem condições. E faltavam os apoios financeiros também para trazer os timorenses que estavam fora».

A falta de experiência também se fazia notar. «Eles tinham mais ou menos uma ideia, mas não sabiam bem como funcionavam os estágios, os horários, a alimentação. Por isso eu acabava por organizar os horários, ia acorda-los para chegarem a horas aos treinos... para eles perceberem como funcionam as coisas corretamente», recorda.

O que mudou

«Mudou muita coisa nestes 10 anos e a evolução até foi mais acentuada nos últimos dois anos. Foi construída a casa da FIFA, financiado pela instituição, onde funciona a federação. O campo de treinos já tem relva... Não tivemos nada disso durante oito anos e agora, com mais condições, penso que poderemos fazer o que outros países sub-desenvolvidos conseguiram, que aos poucos foram tendo oportunidades para marcar posição no mundo do futebol».

«Tenho a certeza de que haverá jogadores timorenses nas grandes ligas mundiais, assegura.

Mas, para Alfredo Mousinho Esteves, há ainda algo a lamentar. «Nos últimos anos, foram naturalizados muitos jogadores para representar a seleção. Isso, em si, não é mau, o problema é que os timorenses, que vivem e jogam no país, não têm oportunidade. É uma nação jovem, e essas centenas, milhares de timorenses devem também poder chegar à seleção do seu país».