A advogada de três dos brasileiros que se naturalizaram e jogaram pela seleção de Timor-Leste garantiu que os seus clientes não estavam cientes de estar a cometer qualquer ilegalidade. Cíntia Ruiz Nicolau assegura que os seus clientes Júnior Aparecido, Patrick Fabiano e Rodrigo Silva foram apanhados de surpresa por todo este imbróglio. A Confederação Asiática de Futebol suspendeu a seleção de Timor por ter, alegadamente, falsificado documentos de naturalização e o caso está a ser investigado também pela FIFA

«Eles foram apanhados de surpresa. Quando ficaram a saber da investigação, na hora procuraram ajuda jurídica. Não tem esquema nenhum com jogadores. Foram contactados pelas autoridades do país, obtiveram a cidadania e o passaporte. Eles não tinham nem remuneração para defender Timor-Leste, faziam isso pelo sonho de jogar numa seleção», disse Cíntia Ruiz Nicolau ao jornal brasileiro Estadão.

O caso já tinha sido contado pelo Maisfutebol em outubro de 2015, sendo que na altura o processo estava a levantar suspeitas mas sem qualquer investigação ou sanção oficial, com agora acontece. Ao todo, foram utilizados 12 jogadores brasileiros em jogos de apuramento para a Taça Asiática 2019 e Mundial 2018.

Além dos três jogadores representados por Cíntia Ruiz Nicolau, estão também envolvidos os jogadores brasileiros Ramon Saro, Paulo Helber, Diogo Rangel, Paulo César Martins, Jairo Neto, Felipe Santos, Jaime Celestino Bragança, Heberty de Andrade e Thiago dos Santos Cunha.

A advogada salientou ainda que os seus clientes «não cometeram nenhum crime». «Os passaportes deles são válidos, oficiais. Timor-Leste achou que os atletas preenchiam as condições para ter a cidadania», explicou.

De facto as normas no país são diferentes das admitidas pela FIFA. O órgão que tutela o futebol mundial obriga, entre outros aspetos, a um período de residência no país no mínimo de cinco anos para poder representar a seleção, algo que não é necessário em Timor. Ou então a ser descendente direto de um cidadão local.

As regras na antiga colónia lusa permitem dar a nacionalidade timorense a quem falar português (o que habilita qualquer brasileiro) e possa vir a prestar «um serviço de relevância ao país».

Porém, a investigação comprovou que os jogadores brasileiros foram registados com certidões de nascimento falsas, que alegavam que um ou ambos os pais tinham nascido em Timor-Leste, o que os tornaria elegíveis para representar a seleção, segundo as leis da FIFA.

A situação levou não só à suspensão de Timor-Leste, mas também ao pagamento de uma multa de 20.000 dólares (cerca de 18 mil euros), a uma multa e suspensão por três anos do secretário-geral da Federação, Amândio de Araújo Sarmento, e a uma multa a Gelásio da Silva Carvaçho, também funcionário do organismo timorense.