A noite não estava para fogos-de-artifício. Afinal de contas, havia uma vantagem numa eliminatória para defender, mas os quase 50 mil espectadores que se deslocaram ao Estádio da Luz regressaram a casa com um misto de sentimentos.
Por um lado, com o conforto que naturalmente dá um apuramento para a próxima fase de uma competição europeia; por outro, com a sensação de que o Benfica que viram nesta quinta-feira esteve longe da equipa hiperconfiante das últimas semanas.
Pela primeira vez desde o arranque da «era-Lage», os encarnados ficaram em branco. Ao 12.º jogo e 35 golos depois.
Uma semana depois do precioso triunfo arrancado no Bósforo, os encarnados acabaram a partida da 2.ª mão com o fato-macaco vestido e cheio de marcas de óleo.
Nesta noite, os homens de Bruno Lage foram mais mundanos do que nas últimas semanas. Houve virtudes mas, agora, mais defeitos para serem apontados.
As águias apresentaram-se em campo com três alterações comparativamente com o onze da Vila das Aves: Florentino, Gedson e Cervi foram lançados para os lugares de Samaris, Gabriel e Rafa respetivamente.
Deste lote, Florentino foi aquele que cumpriu a missão com mais competência, o que talvez ajude a explicar – a meias com a qualidade do adversário – a menor saúde dos encarnados.
Gedson perdeu várias bolas em zonas nevrálgicas do terreno. É mais vertical do que o brasileiro, mas tem menos equilíbrio posicional. Cervi é voluntarioso mas define hoje pior do que Rafa no último terço.
Tudo isto sentiu-se, sobretudo para lá da hora de jogo, altura em que o conjunto turco se deixou de conservadorismos e teve forçosamente de ir em busca da felicidade que até então estava a fazer pouco para merecer.
É justo dizer que os primeiros 45 minutos até foram relativamente tranquilos para a equipa da casa. Ainda que sem a mecânica e a verticalidade habitual no último terço, os encarnados até criaram o suficiente para ir para o descanso na frente do marcador. Aos 7 minutos, Cervi dispôs de uma das melhores ocasiões de toda a partida, depois de ter sido servido superiormente por Pizzi, o melhor elemento das águias na primeira parte.
A equipa de Lage regressou para a segunda parte disposta a dar o xeque-mate na eliminatória. Félix, nesta quinta-feira menos exuberante do que noutras noites, falhou à boca da baliza pouco depois da hora de jogo, altura em que o campeão turco se libertou de conservadorismos.
Falhada a profilaxia do golo, as águias sofreram a partir daí. Aos 64 minutos, Gedson perdeu uma bola em zona proibida, Belhanda introduziu a bola nas redes de Vlachodimos mas estava em posição irregular.
Na Luz, a confiança inicial dava lugar a palpitações à medida em que se tornava óbvio que os anfitriões sentiam francas dificuldades para gerir o jogo com bola. Já perto do fim, novo calafrio na área encarnada: acabado de entrar, Emre Akbaba voltou a marcar, mas após fora de jogo tirado a Diagne. Não valeu.
O Benfica sai da Luz apurado para os oitavos de final da Liga Europa, mas depois de uma das exibições mais mundanas da nova era. Saber sofrer também é uma virtude, não é verdade?