Se nada de estranho suceder, Portugal terá três treinadores portugueses na fase final do Mundial 2014. Nunca foram tantos. Com o auxílio do Centro de Estudos do Futebol da Universidade Lusófona, analisamos a nacionalidade dos treinadores nos últimos 46 anos de história do Campeonato do Mundo.

Eis o principais pontos de interesse.

1. Treinadores portugueses

Paulo Bento, Fernando Santos e Carlos Queiroz. Três de uma vez. Tantos como em toda a história dos Mundiais. O primeiro treinador de nacionalidade portuguesa foi José Torres, no Mundial 86 (México). Seguiu-se António Oliveira, em 2002, e Carlos Queiroz, em 2010. Nas duas primeiras Portugal caiu na fase de grupos. Ambos os desaires tiveram problemas graves à mistura e as histórias de Saltillo e Macau ainda hoje se contam. Em 2010 a seleção portuguesa passou a fase de grupos, mas tombou logo a seguir, perante a poderosa Espanha. A relação entre o treinador e o grupo também não foi exemplar.

Este será o primeiro Mundial em que dois treinadores portugueses estarão à frente de seleções de outro país. Fernando Santos na Grécia, Carlos Queiroz no Irão. Queiroz é, de resto, o primeiro treinador português a estar em duas fases finais de Mundiais.

De acordo com Jorge Castelo, nos últimos anos Portugal «exportou mais de 200 treinadores», por razões «económicas e de mercado», diz, «mas também porque lhes reconhecem qualidade». 

É difícil prever se este fenómeno irá continuar. Os franceses já foram muito fortes e entretanto perderam influência para, nomeadamente, Holanda e Alemanha. A procura internacional também é influenciada pela projeção do campeonato interno e pelos resultados da seleção nacional. E Mourinho? Castelo acha que não influencia as escolhas para seleções (Fernando Santos e Carlos Queiroz, por exemplo, até são mais velhos), «mas influencia as opções de clube», considera. 

2. O poder alemão

A Alemanha será o país com mais treinadores na fase final. Isto, claro, se nada se alterar (e às vezes altera...). Para já são cinco. Portugal aparece logo a seguir, ao lado de Argentina e Colômbia. Curiosamente, a seleção de Falcao é liderada por um argentino. Coisas.

A Alemanha teve sempre pelo menos um treinador nas fases finais, de 1966. Faz sentido, uma vez que seleção germânica é presença garantida e sempre candidata ao título. Em 1970, 1986, 2002 e 2006 já foram dois. Em 2010 o número subiu para três e no Brasil o domínio será deles.

3. Tantos brasileiros

Os treinadores brasileiros têm sido os preferidos nos últimos 46 anos. Em treze edições, apenas em cinco houve um único técnico daquele país sentado no banco. Se tudo decorrer como previsto, 2014 será uma dessas ocasiões. Luiz Feliz Scolari, que dirige o escrete, será o treinador brasileiro.

O máximo de técnicos brasileiros (quatro) num Mundial aconteceu nas edições de 1998 e 2006 (Scolari, à frente da seleção portuguesa, foi um deles). Em 1966 houve dois: um deles foi Otto Glória, que dirigiu Eusébio e companhia, em Inglaterra, naquela que continua a ser a melhor campanha de sempre.

O aumento do número de seleções nas fases finais não fez crescer o número de treinadores da América do Sul. As percentagens mantiveram-se.

Quando não estão à frente de seleções da América do Sul, os treinadores desta região trabalham sobretudo nos países árabes e em África.

4. Preferência por europeus

Já vimos que o Mundial 2014 terá cinco treinadores alemães, mais três portugueses e dois franceses. No total serão 20 treinadores europeus. Em outros anos até já foram mais, mas o essencial não se alterou: são sempre o maior contigente, como se pode ver na imagem.

Os treinadores de origem europeia são os que têm maior percentagem (entre 60 e 75 por cento) de participação nas fases finais analisadas. O aumento do número de seleções (16, depois 24, a seguir 32) não alterou esta dinâmica. Eles são os preferidos, o que obviamente não estará dissociado do facto de o contingente europeus de seleções ser o mais elevado.

Sem grande novidade, as seleções que mais recrutam fora do seu continente são as asiáticas e africanas.

Quando treinam fora da Europa, fazem-no sobretudo em África (55 por cento), Ásia (26 por cento) e América (17 por cento).

No entender de Jorge Castelo, esta preferência sucede por haver a perceção de que o futebol europeu é «mais evoluído, embora admita que os empresários também poderão desempenhar um papel». Castelo acrescenta um dado: « Não será por acaso que existem mais treinadores europeus a deslocarem-se para o continente americano (7) do que ao contrário (2)». Alias, recorda, «de todas as selecções europeias só Portugal teve dois treinadores da América do Sul». Otto Glória e Scolari.

5. Globalização dos treinadores

Desde 1966 que aumenta o número de treinadores de outra nacionalidade à frente de seleções presentes na fase final de Mundiais: dez 13 por cento para os 47 por cento de 2006 e 2014.

Só Alemanha, Itália, França, Brasil e Argentina tiveram sempre, entre 1966 e 2014, um treinador nacional.

Em 2014, estes serão os países com selecionadores da mesma nacionalidade: Coreia do Sul. Brasil, Argentina, Argentina, Alemanha, Bélgica, Uruguai, Holanda, Itália, Inglaterra, Portugal, Bósnia, Croácia, França, Gana, Nigéria e México.

As seleções com treinadores de outra nacionalidade: Irão, Colômbia, Suíça, Grécia, Rússia, Chile, Costa do Marfim, Equador, Argélia, Camarões, Estados Unidos, Costa Rica, Honduras, Japão e Austrália.

Jorge Castelo dá o exemplo português. «Nos últimos dez anos a FPF investiu na formação de treinadores, reformulando os cursos», explica. Saíram desses cursos «cerca de 200 treinadores  UEFA-Adv e 200 UEFA-Pro». Desses, «apenas 10 a 20 por cento ficaram em Portugal, a grande maioria encontrou trabalho em clubes no estrangeiro».