Com a apresentação de Petit como sucessor de Rui Bento ficou consumada a quinta mudança de treinador na Liga portuguesa – e a segunda no Tondela, depois da saída de Vítor Paneira, em outubro.


José Viterbo- o primeiro a cair

Revendo o filme deste arranque de época, José Viterbo (Académica) foi o primeiro a cair, a 20 de setembro, logo seguido por Armando Evangelista (V. Guimarães) no dia seguinte. Num caso e noutro, as equipas subiram de rendimento, embora estejam ainda longe dos objetivos. Sob o comando de Filipe Gouveia, a Académica, que não tinha ainda qualquer ponto, embalou para uma sequência de sete jogos sem derrota, que se prolongou até ao último fim de semana, na Luz –ainda assim a equipa continua abaixo da linha de água. Já o V. Guimarães, que estava em 13º lugar à quinta jornada, subiu quatro posições sob o comando de Sérgio Conceição, mesmo tendo passado por uma sequência de quatro derrotas, que lhe custou o adeus às Taças.

Se Académica e V. Guimarães ganharam com as trocas, já a saída de Vítor Paneira do Tondela, a 6 de outubro, não trouxe qualquer benefício ao estreante na I Liga: Paneira saiu com 4 pontos em sete jornadas, Rui Bento conseguiu apenas um em cinco, acabando por deixar o cargo dois meses depois de o ter assumido. O seu sucessor, Petit, tem uma herança pesada entre mãos: não há memória, neste século, de uma equipa com 5 pontos nesta fase da época ter evitado no campo a descida de divisão. Petit, por sinal, tinha deixado o Boavista há apenas dez dias, sendo substituído por outra velha glória do clube, Erwin Sanchez que tem para já a tarefa de manter a equipa acima da linha de água.


Conceição- dobrou o cabo das Tormentas?

Tendo em conta que ainda estamos bem dentro da primeira volta e que o ano ainda não mudou, este é um indicador de que os clubes portugueses estão novamente mais sensíveis no gatilho: é preciso recuar até à temporada 2011/12 para se encontrar registo semelhante (seis mexidas) antes da passagem de ano. Não sendo uma regra absoluta, é um indício de que o número final de chicotadas poderá voltar a subir, depois de cinco temporadas a descer consecutivamente.

Mudanças de treinador na Liga até ao ano novo
2015/16: 5
2014/15: 2/8 no final da época
2013/14: 4/8*
2012/13: 3/9*
2011/12: 6/10*
2010/11: 5/10*
2009/10: 15/17*

* Liga com 16 equipas

A tendência recente dos clubes da Liga em deixarem de considerar os treinadores como elementos «descartáveis» numa estratégia de resultados imediatos tinha aproximado a competição portuguesa dos valores registados nas principais Ligas europeias – com a notável exceção da série A, onde a tendência para o chicote é um dado histórico que continua válido.

Na época em curso, a Itália volta a ser líder nas chamadas Ligas top-5: já se registaram seis mudanças de treinador em cinco clubes, com o Carpi a cometer a proeza de reintegrar um treinador que tinham despedido um mês antes.

Na época em curso, a Liga inglesa já regista um número anormalmente alto de chicotadas, com a saída, anunciada nesta quarta-feira, de Gary Monk do Swansea, a ser a quarta mudança desde o início de época. Uma delas – a troca de Brendan Rodgers por Jürgen Klopp, no Liverpool, teve ondas de choque por toda a Europa.


Klopp por Rodgers- chicotada de primeiro plano

Em Espanha os valores são, para já, idênticos aos de Inglaterra – quatro chicotadas em 20 equipas, com Nuno Espírito Santo (Valência) a ser uma das quatro vítimas. Mais conservadores, neste capítulo, são os campeonatos da Alemanha (três mudanças em 18 clubes) e, principalmente, da França (3 em 20). Estes números são confirmados se olharmos para a tendência dos últimos cinco anos, com a Itália sempre na frente e as equipas francesas sempre mais relutantes em mudar de treinador a meio da temporada.

Chicotadas nas principais Ligas nas últimas cinco épocas

ITÁLIA (65% de mudanças)
2010/11: 13 em 20 clubes
2011/12: 17/20
2012/13: 13/20
2013/14: 15/20
2014/15: 7/20

PORTUGAL (55%)
2010/11: 10/16
2011/12: 10/16
2012/13: 9/16
2013/14: 8/16
2014/15: 8/18

ALEMANHA (50%)
2010/11: 12/18
2011/12: 10/18
2012/13: 7/18
2013/14: 8/18
2014/15: 8/18

ESPANHA (42%)
2010/11: 8/20
2011/12: 10/20
2012/13: 9/20
2013/14: 4/20
2014/15: 11/20

INGLATERRA (31%)
2010/11: 5/20
2011/12: 4/20
2012/13: 6/20
2013/14: 10/20
2014/15: 6/20

FRANÇA (23%)
2010/11: 4/20
2011/12: 6/20
2012/13: 4/20
2013/14: 6/20
2014/15: 3/20

Se sairmos do universo das principais Ligas europeias, é difícil retirar às Ligas da Turquia e da Grécia o estatuto de rainhas da chicotada psicológica. Na Turquia, só na época em curso, já são oito as mudanças de treinador. E a Grécia, na época passada, protagonizou o invejável registo de 18 mudanças de comando técnico em 16 clubes, e isto se não considerarmos mais seis técnicos interinos que, no decorrer da época, foram sendo triturados pela máquina. Será pedir muito que esses tempos não voltem tão depressa ao futebol português?