Há pelo menos três razões para alguém que não seja adepto de Barcelona ou Real Madrid desejar que chegue depressa o dia em que as duas equipas encherão mais um estádio.

1. O conjunto de bons jogadores é tão elevado que a probabilidade de aqueles 90 minutos se tornarem memoráveis é alta.

2. A rivalidade entre os dois emblemas é de tal forma evidente que a probabilidade de haver problemas é alta.

3. A qualidade Messi e Ronaldo é de tal modo superior à generalidade da espécie humana que a probabilidade de eles o demonstrarem, mais uma vez, é alta.

Claro que as pessoas que salivam com a segunda opção gostam pouco de futebol, pelo menos como eu o vejo. Limitam-se a ver no jogo um caminho curto para o lado errado, para a confusão, para o combate estéril mas apesar de tudo digno de encher páginas e motivar comentários.

O Barcelona-Real Madrid deste domingo teve uma dose mínima de problemas. Quer dizer, se ignorar que se gritou pela independência da Catalunha tudo foi relativamente sereno.

O jogo teve, antes de tudo, duas equipas. Primeiro o Real, depois o Barcelona.

A seguir apareceram os génios. Também aqui pela mesma ordem. Primeiro o português, o de branco, Ronaldo. Depois o argentino, o grená, Messi.

Um e outro fizeram todos os golos.

Primeiro uma movimentação inteligente, um remate sem piedade, sereno, forte, indefensável. A seguir um golpe de miúdo esperto, a aproveitar o desequilíbrio do rapaz forte que também falha. Mais tarde o livre direto. O pé esquerdo, o contacto amigo com a bola, a queda vertiginosa na rede. E por fim o passe no único espaço possível e a finalização fria, científica, de quem não hesita.

O mundo já tinha o que gritar, saíram as fotografias de Messi e Ronaldo.

No final, Mourinho sintetizou bem o que se passara: um jogo de futebol em que dois extra-terrestres foram autorizados a usar cartão de jogador da federação espanhola. Tito revelou-se apenas indelicado, pequeno, ainda adjunto. Não foi seguramente pelo sucessor de Guardiola que este Barcelona-Real Madrid ficou memorável.