O Maisfutebol desafiou os jogadores e treinadores portugueses que atuam no estrangeiro, em vários cantos do mundo, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:

NUNO MARQUES, NOTODDEN (NORUEGA)

«Olá de novo a todos os leitores do Maisfutebol,

Após uns meses de ausência, é com enorme satisfação que vos volto a escrever. Enquanto os principais campeonatos na Europa entraram para férias e recomeçaram novamente entre a data do meu último artigo e este que vos escrevo, o campeonato onde estou a competir terminou não faz mais do que duas semanas.

Neste período de sete meses muita coisa se alterou na minha vida, não só a nível pessoal, mas a nível académico e profissional.

A nível pessoal a minha vida foi abençoada com a chegada da Alice, a 6 de Maio, fazendo desta maneira companhia ao Duarte de 4 anos.

A nível académico iniciei em Agosto o Mestrado em Relações Internacionais numa das Universidades mais conceituadas na Noruega, a UMB. Após dois anos de Direito em Portugal, aprendendo na língua portuguesa, seguiu-se uma licenciatura feita em norueguês. Eis que não há duas sem três e agora estudo em inglês!

Foi de facto a nível profissional que a minha vida sofreu grandes alterações. No meu último artigo, eu tinha mencionado que tencionava jogar mais 5 ou 6 épocas mas esta semana tomei a decisão de ‘pendurar as luvas’. Aos 32 anos.

Tratou-se de uma decisão bastante pensada, nada fácil e muito triste, mas este é o momento ideal para terminar uma carreira profissional de 14 anos, dos quais 10 anos passados aqui na Noruega. Este é um país que a nível futebolístico está a anos luz de Portugal, mas que me deu todas as oportunidades que infelizmente nunca tive no nosso país.

Embora eu me sentisse muito motivado e provavelmente no auge da minhas qualidades como guarda-redes para jogar mais uns anos, dois fatores importantes contribuíram para esta decisão.

O primeiro foi o facto de ter sido admitido para trabalhar como consultor na Administração do Trabalho e Segurança Social Norueguesa (NAV). Para mim trata-se de um enorme orgulho esta oportunidade de trabalho. Isto significa que o trabalho, honestidade, humildade e respeito espelham bem a realidade norueguesa, não só a nível social mas a nível laboral. Em Portugal era impensável um ‘jogador da bola’ conseguir tal emprego. Esta é a realidade!

O segundo fator está relacionado com a dificuldade que eu teria em gerir o tempo para a família, trabalho, estudos e futebol. A família sempre veio e sempre virá em primeiro. Depois o meu futuro já desde há algum tempo que não passava pelo futebol, dai ter continuado neste clube desde 2008 para que pudesse preparar a minha visa pós-futebol.

Embora eu deixe de jogar a nível profissional, vou continuar ligado ao clube, o Notodden FK, como treinador de guarda-redes. Nas últimas duas semanas estive em diálogo permanente com o meu clube, que demonstrou um enorme respeito e profissionalismo pela minha decisão. Como tal, foi-me oferecido de imediato o cargo na equipa técnica.

E assim terminou um importante capítulo na minha vida. Um capítulo que começou em 1989 em Tomar pelas mãos do mister Marques Alves, continuou no Benfica entre 1997 e 2002, e terminou em 2013 na pataca cidade de Notodden. Dentro de poucos dias começa um novo capítulo na minha vida e tudo farei para que tenha o mesmo ou mais sucesso do que este último capitulo que acabei de terminar.

O ‘sucesso’ que acabei de referir aqui nada tem a ver com títulos coletivos ou individuais alcançados durante estes 14 anos, pois tive uma carreira bastante modesta com poucos títulos e muito menos tem a ver com contratos milionários, pois não fiquei nem milionário nem rico. 

Este ‘sucesso’ significa tudo aquilo que não se pode materializar, isto é, amizades, respeito e admiração que conquistei aqui na Noruega entre os noruegueses, mais concretamente na cidade de Notodden. 

Ao terminar este texto, queria deixar uma palavra de agradecimento a todos os que contribuíram, de maneira direta e indireta, ao meu ‘sucesso’ nos últimos 14. 

Não tendo espaço neste texto para individualizar, agradeço do fundo do meu coração, em primeiro lugar à minha família, depois aos amigos, colegas, jogadores, treinadores, diretores, adeptos, árbitros, adversários, jornalistas, etc.

Foram muitas as pessoas com quem me cruzei nestes anos e o que mais desejo é que estas mesmas pessoas se lembrem de mim, não como um bom guarda-redes que fui, mas sim pela pessoa que fui e sou, profissional a 100%, trabalhador, respeitador, humilde e educado.

Um grande abraço, e mais uma vez, obrigado a todos que contribuíram para que eu pudesse ter exercido uma das profissões mais gratificantes que existem no mundo.

Até sempre,

Nuno Marques»