Num jogo acidentado, que acabou com uma hora de atraso devido ao dilúvio de dimensões bíblicas que se abateu sobre Donetsk, a França pôs um travão ao sonho da Ucrânia, impedindo que a seleção organizadora se tornasse a primeira a garantir a passagem aos quartos de final. A vitória por 2-0 dos «bleus», com golos de Menez e Cabaye, na segunda parte, confirma que, apesar do duplo milagre de Shevchenko na vitória sobre a Suécia, na estreia, há uma distância grande a separar a Ucrânia, combativa e limitada, e as melhores seleções da Europa.

Fotos do dilúvio em Donetsk

Se o empate com a Inglaterra tinha defraudado algumas expetativas e deixado dúvidas sobre a real dimensão desta renovada seleção francesa, a forma como os «bleus» dominaram o jogo de Donetsk, confirmou o que se pensava antes do início do Euro. Laurent Blanc orienta um real candidato ao título, que assenta a candidatura no dinamismo de Ribéry e Nasri, excelentes animadores ofensivos, e que tem no médio de cobertura Cabaye uma das grandes afirmações individuais deste campeonato.

A confirmação de um candidato foi interrompida aos cinco minutos, com a tempestade de verão a tornar impossível a circulação de bola no relvado. 57 minutos depois, quando Bjorn Kuipers deu ordem para recomeçar o jogo, a máquina de tricotar francesa começou a trocar as voltas às camisolas amarelas e aos 50 mil adeptos frenéticos que as apoiavam. Só uma grande exibição de Pyatov, a negar o golo a Menez, por duas vezes, e a uma cabeçada do central Mexés impediu que o carrossel de passes da equipa francesa se traduzisse em vantagem no marcador ao intervalo.

Do outro lado, apenas uma fuga de Shevchenko inquietou Lloris, o que terá ajudado o técnico Blokhin a decidir-se por uma uma substituição ao intervalo, trocando o ineficaz Voronin por Devic. Os primeiros sinais foram positivos, com a Ucrânia a ameaçar Llorisa por duas vezes. Mas, ao mesmo tempo, a equipa abria espaços mais atrás, facilitando a cirúrgica troca de passes de Nasri, Ribéry, Benzema e companhia. Foi uma ação destas a permitir a Menez aparecer com espaço na meia direira, e a bater Pyatov com um remate cruzado (53 m), depois de tirar Selin do caminho. Acabou por ser uma noite feliz para o extremo dos «bleus», que mesmo em cima do intervalo tinha escapado a um segundo cartão amarelo que teria por certo mudado o filme do jogo.

Assim, quebrada a resistência, a França ficou com o jogo na mão e sentenciou-o três minutos depois, com Cabaye a aproveitar um passe fantástico de Benzema para bater novamente Pyatov. Cabaye, em grande, esteve perto de bisar com um remate da meia lua que esbarrou com estrondo no poste, antes de Blanc começar a gerir efetivos, fazendo descansar os autores dos golos e ainda o generoso Benzema, para um final de jogo tranquilo, assinalado pelas excelentes trocas de bola dos franceses. Algo que neste Europeu, até ao momento, só encontrou paralelo no massacre da Espanha sobre os modestos irlandeses.

Este resultado deixa a França no comando do grupo D, mas com tudo em aberto para o último dia, confirmando-se que a segunda jornada chega ao fim sem equipas apuradas. Um sinal de competitividade de uma prova que, nesta sexta-feira, ganhou mais um candidato de corpo inteiro.