Autores: Igor Boyko, Aleksey Ivanov e Yuriy Shevchenko*

Naquela noite fria de Março, Andriy Yarmolenko sentiu-se particularmente sombrio. O seu Dínamo Kiev sofreu para vencer o modesto Vorskla e ele jogou tão mal que foi substituído ainda na primeira parte. Tinha apenas 17 anos.

No momento da saída, foi bombardeado com perguntas. Ele não queria responder, mas o repórter insistiu. «Você deve responder, é um jogador de futebol, uma figura pública, portanto tem o dever de responder». Yarmolenko, sem tirar os olhos do chão, disse apenas: «Não, não sou jogador de futebol.»

Naquele momento, ele sentiu que não estava preparado para ser um jogador professional. Os adeptos do Dínamo concordariam com ele. Era a sua primeira época na primeira equipa e estava longe de convercer. Parecia ter cedido à pressão.



Dois anos mais tarde, Yarmolenko é a principal esperança da Ucrânia para o Euro2012. O Liverpool segue-se com atenção. Para quem foi apelidado de «novo Shevchenko» com 17 anos, esta foi uma viagem do céu ao inferno. Chegou lá e regressou ao céu.



A sua carreira tem sido assim. Aos 13, foi contratado pelo Dínamo Kiev. Um ano depois, porém, regressou ao seu Desna, sem conseguir corresponder às exigências físicas do clube da Premier League ucraniana. Voltaria a Kiev em 2006.

Naquele dia, o treinador do Dinamo estava a ser confrontado com perguntas estranhas na conferência de imprensa. Porque é que nunca apostou nos jovens, senhor Anatoliy Demiyanenko? De respente, o porta-voz Alexei Semenenko interrompeu a conversa e disse orgulhosamente. «Fui informado recentemente que, a 130 quilómetros de Kiev, os nossos olheiros descobriram um miúdo que já é chamado de novo Shevchenko».

O motivo de orgulho de Semenenko era Yarmolenko. Desde esse dia, até à sua estreia pela primeira equipa do Dínamo, o jovem foi chamado de «o miúdo a 130 quilómetros de distância.»

Curiosamente, a distância inicial era maior. Yarmolenko nasceu na Rússia, em St. Petersburgo. Os seus pais estavam a trabalhar lá mas regressaram à Ucrânia após o colapso da União Soviética. «Nasci lá quanto a cidade ainda se chamava Leningrado, mas lembro-me de pouco, vim com três anos para a Ucrânia e para mim só tenho uma nacionalidade. Nunca pensei em jogar pela Rússia.»

A primeira experiência no Dínamo não correu bem. «Penso que vim para Kiev demasiado cedo. Tinha saudades da família e achei que era demasiado fraco». Falhou aos 13, voltou aos 17.

Yarmolenko regressou como «segundo Shevchenko» mas essa comparação é consideravelmente injusta. Sheva é homem de área com instinto de golo, enquanto o jovem não é um matador puro, podendo jogar em todas as posições do ataque.

Perto do final da época 2007/08, Yuri Semin lançou Yarmolenko na primeira equipa. Na temporada seguinte, quanto o russo Valery Gazzaev assumiu o cargo, deu novo ânimo ao jovem e juntou-o ao regressado Shevchenko, contratado ao Chelsea.

Andriy Yarmolenko foi encarado por Gazzaev como um avançado com capacidade para jogar nos flancos. Os adeptos duvidaram. Contudo, o jogador passou a ser presença regular no onze do Dínamo e chegou rapidamente à seleção.

Mesmo com o regresso de Semin à equipa de Kiev, Yarmolenko continuou a crescer. O treinador deu-lhe ainda mais liberdade. Nos sub-21, Pavlo Yakovenko decidiu apostar no esquerdino para o lado direito. Com sucesso. Agora, é frequente assistiu à mesma experiência na seleção principal.

«Não quero ser o segundo Shevchenko. Quero ser Yarmolenko». O Euro2012 será uma excelente oportunidade para, aos 22 anos, apresentar o seu nome ao mundo.

* Igor Boyko, Aleksey Ivanov e Yuriy Shevchenko são jornalistas do football.ua/Football Style magazine. Este artigo está integrado na Euro2012 Network, uma cooperação entre alguns dos melhores meios jornalísticos dos 16 países participantes na competição.