As responsabilidades vão sendo atribuídas de lado a lado enquanto os confrontos se sucedem. A situação na Ucrânia continua tão instável quanto violenta. Kiev e a Rússia vão trocando acusações sobre a culpa dos acontecimentos que têm colocado frente a frente os defensores do governo ucraniano e os militantes pró-russos. Os últimos fizeram 46 mortos e dezenas de feridos.

Tudo está em jogo na Ucrânia. Já nada se consegue dissociar do estado em que vive o país. Um país em que já não há meio termo. Ou se está pelo governo de Kiev. Ou se é pela integração russa. E já nada fica de fora. Como também não tem ficado o futebol.

As claques dos clubes que disputam o campeonato local também passaram a tomar parte no conflito existente tomando uma posição nacionalista: antes de cada jogo as fações afetas ao seu clube marcham em conjunto numa demonstração de unidade nacional.

A 28 de abril, por exemplo, foram as claques do Metalist e do Dnipro a fazerem-no antes de as duas equipas jogarem em Kharkiv. Nessa altura, já houve confrontos com uma fação de 300 militantes pró-russos. Do embate entre adversários políticos resultaram 14 feridos.



Nesta sexta-feira foi (ainda) mais grave. Muito mais grave; pelos números que já se referiu. E o episódio sangrento voltou a te um dos seus pontapés de saída – pois que foram vários, claro – no futebol. Desta vez foi o jogo entre o Chornomorets e de novo o Metalist que levou as claques dos clubes a marcharem juntas antes do encontro.

Eram cerca de mil adeptos os que reuniram umas horas antes do jogo e se dirigiram ao estádio. Foram esperados por cerca de 200 apoiantes de Moscovo. E foram atacados. O relato dos que aconteceu, como conta cada fonte, já é conhecido. O «Kiev Post» faz um relato pormenorizado da sucessão dos acontecimentos.

Os militantes pró-russos foram armados atacar os nacionalistas. Houve troca de agressões, arremesso de pedras, de petardos... «Tudo o que aconteceu foi como num filme de terror. Nunca esperámos uma emboscada em tal escala e que a polícia nada fizesse», declarou Nadiya Yashan ao «The New York Post».

E houve também tiros. E foi quando houve a primeira morte, de um adepto de futebol, que a violência aumentou até ao que se viu. Os pró-russos são acusados de dispararem armas de fogo, mas o seu número mais reduzido não conseguiu enfrentar os nacionalistas; que depois foram atrás deles, que os perseguiram, até estes não terem fuga.

E tudo acabou, como se sabe, no edifício dos sindicatos, em Odessa. Onde o prédio ficou em chamas, onde as críticas à reação tardia da polícia se dividiram com as críticas à fraca resposta dos bombeiros, onde também os nacionalistas terão acabado por tentar salvar pró-russos aprisionados entre o fumo e as chamas.



Sabe-se que não havia um derramamento de sangue tão grande em Odessa desde 1918, na sequência da revolução bolchevique. Sabe-se também que na cidade portuária o russo é língua oficial. Sabe-se que uma manifestação destas dos adeptos pode ser alvo de ataque da outra parte. Sabe-se que o campeonato da Ucrânia continua já na próxima quarta-feira, com mais um jogo do Metalist Kharkiv; desta vez, em Sebastopol...