Há poucos dias, Yuriy Vernydub orientava os moldavos do Sheriff Tiraspol, no Municipal de Braga. Agora, o treinador ucraniano voltou ao seu país e juntou-se ao exército para combater a invasão das tropas russas.
Deixou Portugal até à Roménia e prosseguiu de autocarro até Tiraspol, de onde saiu para, 11 horas depois, chegar à Ucrânia e alistar-se no exército.
«Ao voltar para casa, vi muitos homens fortes a deixar o país. Se eles voltarem, ficarei feliz. Eu entendo que eles partiram com as suas famílias para a Moldávia e Roménia. Senti naquele momento que não posso fazer a mesma coisa. As pessoas próximas a mim ainda me tentaram impedir», revelou à BBC.
Por esta altura, Vernydub diz não estar «muito longe do conflito» - cerca de 120 quilómetros - nem com medo, até porque tem experiência militar.
«Eu estive no exército quando era jovem, era obrigatório ir durante dois anos. Mas foi numa unidade para desportistas. Durante dois meses, fomos instruídos na teoria e depois aprendemos a usar uma arma. Mas isso foi há muito tempo. Não posso dizer que tenho dificuldade em usar armas de fogo, sei como usá-las», explicou.
«Agora estão a instruir-nos. A cada minuto estamos prontos para ir aonde nos mandam. Ainda não usei a minha arma, mas estou pronto, sempre. A qualquer momento.»
O técnico do Sheriff confessou que não compreende a posição do presidente russo, Vladimir Putin, nem as intenções desta ofensiva militar.
«Eu entendo que muitos dos cidadãos russos não percebem o que está a acontecer. Na Rússia, as coisas são mostradas de maneira bem diferente do que são. Dizem que estão a libertar-nos. Mas de quê? Disseram que somos fascistas, nazistas... Não consigo nem encontrar palavras para descrever o que estão a fazer. Eles estão a atacar casas de civis, mas apenas dizem que atingiram a infraestrutura militar. Eles estão a mentir», vincou.
«Não tenho dúvidas de que a Ucrânia vencerá esta guerra. Não consigo pensar em mais nada. Tenho a certeza disso. Esta tragédia iuniu-nos como nação.»
Vernydub mostra ainda admiração e «respeito» pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. «Não importa o que digam sobre ele. Eu votei nele. As pessoas chamavam-lhe de palhaço, mas ele mostrou que é um verdadeiro líder. É honesto. Ele também cometeu erros, mas é normal que todos cometam erros. Posso imaginar como é difícil liderar um país. Não tenho dúvidas de que é um bom homem. Temos um presidente que agirá de maneira correta. Acredito nele.»
«Acho que a paz só acontecerá quando vencermos. As exigências da Rússia são impossíveis de alcançar. Não vamos ficar parados. Há necessidade de diálogo, mas não vamos satisfazer os seus ultimatos. Vemos as negociações e espero que eles tenham cérebro suficiente para parar esta guerra. Em primeiro lugar, espero que as crianças e as mulheres não morram mais. Esta é a coisa mais importante.»
Mas, em tempos de guerra, não esquece a grande paixão que deixou para trás: o futebol.
«Eu ainda penso em futebol a toda a hora. O futebol é a minha vida. Desde criança comecei a jogar, fui jogador profissional, depois tornei-me treinador. Tenho a certeza que continuarei a ser treinador e ganharei troféus. Pensar em futebol me motiva. O futebol é a minha vida. Espero que esta guerra não dure por muito tempo. Vamos vencer e voltarei ao meu trabalho que tanto gosto», rematou.