O Maisfutebol desafiou os jogadores e treinadores portugueses que atuam no estrangeiro, em vários cantos do mundo, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal. Neste domingo, apresentamos um texto especial. Desafiámos um treinador a explicar como acompanhou o Benfica-FC Porto à distância:

PAULO MORGADO, TREINADOR DO MANAUS FUTEBOL CLUBE (BRASIL)

«Hoje estive a acompanhar o Benfica-FC Porto na casa onde moram os meus jogadores, aqui em Manaus, na Amazónia. A internet costuma funcionar melhor lá na casa. Sempre que posso, acompanho os jogos do futebol português, sobretudo os do Benfica, e não tenho problemas em admitir: sou doente pelo Benfica.

Quando a minha filha nasceu, trouxe-lhe uma camisola do Benfica e uma babete. Quero que ela seja a primeira amazonense do Benfica. Assim, quando vejo jogos com ela, coloco o meu cachecol e nela a babete, para dar sorte. Desta vez isso não aconteceu, fui para a casa dos jogadores e tive de levar com eles, por assim dizer, porque torceram pelo FC Porto só para me chatear.

Por aqui, a internet nem sempre tem muita velocidade. Fui acompanhando o jogo pela internet mas sempre com a rádio ligada, para não perder nada. Na casa moram cerca de quinze jogadores mas tanto falei deste jogo que, mesmo sendo dia de folga, ficaram seis ou sete a ver o clássico comigo. Então, era por assim dizer um benfiquista contra seis ou sete portistas de ocasião.

Foi bonito ver as homenagens ao Eusébio. Aliás, os brasileiros tem acompanhado tudo o que tem acontecido após a sua morte, o que também demonstra o carinho que todos sentiam por ele.

Quanto ao jogo, penso que a grande vantagem do Benfica foi marcar cedo. Dessa forma, a estratégia do Jorge Jesus resultou em pleno com o Benfica a passar a apostar em transições rápidas, onde é realmente perigoso. Aí sentiram-se alguns problemas do FC Porto, sobretudo no seu meio-campo.

Os jogadores do Manaus Futebol Clube que viram o clássico comigo gostaram do encontro, e acharam que o Benfica jogou muito bem. Eu até nem acho que tinha assim uma exibição tão boa, mas a vitória foi justa. Sem o golo cedo, penso que seria apenas a diferença mínima no marcador. Assim, o Benfica ficou mais confortável no jogo.

Fala-se que Matic vai sair mas não podemos dramatizar. Há ano e meio, foram Javi Garcia e Witsel, numa altura em que se achava que o Benfica não conseguiria encontrar soluções. Sei que é difícil, sobretudo em janeiro, mas o Jorge Jesus, que tem alguns defeitos, é muito forte em trazer ao de cima a qualidade de alguns jogadores que tem no plantel.

Se Matic sair mesmo, gostaria que fosse a grande oportunidade para Ruben Amorim. Foi meu jogador e é um amigo. Penso que tem qualidade para isso e teria o espaço para se afirmar por completo do Benfica e ter mais oportunidades de vir ao Brasil. Fico a torcer por isso.

Entretanto, o Campeonato do Mundo aproxima-se e foi com muito orgulho que recebi, após o sorteio, um convite da seleção portuguesa para acompanhar a comitiva na visita a Manaus. Por sorte o clima estava ameno e não assustou o nosso selecionador Paulo Bento que, num dia normal, iria sentir os normais 36 graus mas com uma sensação térmica de 46. Por vezes o problema não é o calor mas sim os níveis de humidade muito elevados.

Foi uma visita rápida. A comitiva chegou num domingo de noite, pernoitou no hotel onde vai ficar nos dias que antecedem o jogo com os Estados Unidos da América, na segunda-feira de manhã visitou o estádio (que ainda está por concluir) e depois do almoço seguiu para São Paulo. Julgo já ter feito a minha parte e ter contribuído para um mundial memorável da nossa seleção.

Pela primeira vez, troquei o frio do natal português pelos 40 graus de Manaus. Apesar de já trabalhar no futebol brasileiro há três anos nunca tinha passado o natal longe de Lisboa. Desta vez passei junto da minha filha que é amazonense e que tinha acabado de completar um ano de idade.

Neste momento já estou em pré época a trabalhar para conquistar mais um título no Brasil. Estou muito confiante no valor do plantel que tenho e sinto que vamos fazer um campeonato surpreendente. Conseguimos manter uma base dos jogadores que nos acompanharam no título da segunda divisão e conseguimos reforços em posições-chave.

As saudades de Portugal são muitas, por vezes dou comigo a sonhar com um arroz de pato e um pastel de Belém…

Um abraço a todos os leitores,

Paulo Morgado»