«Um café com...» senta o Maisfutebol à mesa com figuras eminentes da nossa sociedade, nomes sem ligação aparente ao desporto, a não ser a paixão. A música, a literatura ou o cinema enredados nas quatro linhas de conversas livres e descontraídas. O primeiro convidado é Carlos Tê. Críticas e sugestões para pcunha@mediacapital.pt ou bmmr.externo@medcap.pt 

Não há muitos homens como Carlos Tê, um génio versátil. O letrista e escritor sente o mesmo natural à-vontade ao falar sobre o álbum mais recente de Chico Buarque ou sobre o penálti falhado há um par de semanas num qualquer relvado da liga portuguesa. 

Aos 64 anos, a alma gémea de Rui Veloso no mundo das canções aceita o desafio do nosso jornal e aparece à hora marcada na Marina da Afurada. Fala-se de futebol, claro, mas de outro futebol. Do futebol eternizado também nas palavras de Nilton Santos: «Eu sou amigo de infância de todas as bolas.» 

O que é o futebol para si?

Quase tudo. O meu pai jogou no Boavista. Só deixou de jogar quando eu nasci, por ordens superiores da minha mãe, ah ah ah ah. O futebol está comigo desde o berço, aparece na minha vida antes de tudo o resto: música, literatura e cinema. Eu nasci com a bola debaixo do braço e passava os meus dias de infância com a bola. 

Isso remete-nos para aquela famosa frase do Nilton Santos: «Eu sou amigo de infância de todas as bolas do mundo».

Essa frase é mágica e representa o meu futebol. Aproveitei essa imagem para uma peça que escrevi, «Um Fio de Jogo», e quero escrevê-la brevemente numa crónica minha. Nessa peça eu criei quatro personagens, mas faltava-me um ângulo principal. ‘Por onde vou pegar nisto?’ E um dia ouvi o Fernando Alves, na TSF, a declamar essa frase. Reformulei toda a peça para fazer da bola a nossa amiga de infância, confidente e cúmplice. O Nilton era o protetor do Garrincha e era conhecido como ‘A Enciclopédia’. Ele representa a entrada do futebolista negro no futebol brasileiro.

 

O cartaz da peça criada por Carlos Tê


O Carlos nasce em 1955 e cresce num período em que o FC Porto ganha poucas vezes. Teve uma infância e adolescência masoquistas no que ao futebol diz respeito?

Nada, o FC Porto não ganhava nada. Tive um crescimento totalmente masoquista. Na minha turma da primária, na zona da Pasteleira, havia só quatro portistas e o resto eram todos benfiquistas. Os dois títulos europeus do Benfica roubaram muitos jovens adeptos ao FC Porto. Mas eu resisti a essa eucaliptização encarnada. Era uma razia total. A rádio exercia sobre mim um enorme fascínio e eu mantive-me assim fiel ao FC Porto: via os jogos em casa nas Antas e os jogos fora na telefonia.

O FC Porto era o tal clube «complexado e regional» de que falava num texto?

Sim, sim, muito. Tive de esperar até 1978 e aos meus 22 anos para festejar um título de campeão nacional. Quando comecei a ter memória, por volta dos seis anos, o país era um sobrado benfiquista. Cobria o país inteiro. Mas as coisas mudaram, o FC Porto cresceu e passou a ser um gigante europeu.

O portismo foi-lhe passado pelo seu pai?

Sim, ele era o típico portista que acabou a jogar no clube mais perto de casa, no caso o Boavista. Sabia que no FC Porto seria rejeitado, ah ah ah. No Boavista ainda jogou com o Fernando Caiado e foi treinado por um argentino chamado Aljamín. Contava-me histórias magníficas. Um dia foi fazer um jogo de reservas a Olhão e o Boavista teve de alugar quatro táxis para transportar a equipa. Demoravam 12 horas para chegar ao Algarve, ah ah ah. Não havia autocarro para as reservas e lá iam onze gajos de táxi. Lembro-me muito bem de o meu pai me contar isto.

Nasceu numa casa onde se respirava futebol.

Totalmente. Cresci a ouvir histórias de personagens incríveis, quase lendárias. O meu pai falava-me do Nevoeiro, jogador do Leixões, com quem ele travava duelos terríveis. Aquela coisa muito masculina, de andar 90 minutos a dar pancada e no final abraçavam-se, ah ah ah. Coisas fabulosas. Essa é a minha infância, imagine a minha cabeça de menino a ouvir isto.

O que fez o seu pai depois de largar o futebol, por imposição da sua mãe?

Nunca mais esteve ligado ao futebol. Passou a trabalhar na indústria automóvel. Motorista, camionista, empregado de armazém em oficinas. Toda a minha família do lado do meu pai trabalhou nessa área. Fui o único a fugir a esse destino.

Nunca o tentaram levar para esse ramo profissional?

Não, a minha mãe e as minhas tias não permitiram. Comecei a trabalhar aos 13 anos numa oficina, sim, mas no escritório. Longe da ferrugem. Lá me arranjaram esse lugar. Depois, mais tarde, ainda fui funcionário do Banco de Portugal, sempre longe dos óleos e desperdícios.

E como faz a transição para o mundo das Letras?

Essa transição não foi imediata. Eu trabalhava e comecei a apaixonar-me pela música, ainda antes do 25 de abril. Fiquei viciado no rock anglo-saxónico e na poesia, era a minha busca pela salvação. Vivia num país esquecido e atrasado. A música era uma janela para o mundo, uma pequena cápsula para entrar num mundo ideal, de liberdade. Era um adolescente com os dramas típicos e na minha família não havia capacidade para comunicar comigo. O futebol era o único tema de conversa com o meu pai, até ele morrer. Não conseguia falar com ele sobre mais nada, zero. Mundos separados, opostos. O dele era marcado pela sobrevivência e o meu já aspirava a outras coisas, mesmo debaixo de uma ditadura.

Já era menos asfixiante.

Sim. Mas veja bem, eu acompanhei o meu pai ao hospital nos últimos dias dele, para os tratamentos, e parávamos no caminho para comprar um jornal desportivo. Na sala de espera do hospital era disso que falávamos, do futebol. ‘Olha este jogador foi para aqui, aquele vai para ali’. Passávamos horas nisso. Tirando o futebol… nada. Devo isso ao futebol, essa ponte de palavras.

Gosta mais de futebol ou do FC Porto?

São coisas diferentes. O FC Porto é o lado afetivo, do coração. O futebol é a antropologia analítica. Sigo muito o futebol cá e em Inglaterra. Adoro Inglaterra e sempre me debrucei muito sobre a cultura britânica. Um jogo da Premier League é sempre uma desculpa para estar no sofá. Não há regiões deprimidas em Inglaterra, há cidades capazes de suportar o clube local, vemos 30 mil pessoas num jogo do Championship. Um tipo de Bristol é do Bristol. É um fenómeno comovente. Os tempos de hoje são estranhos, mas a Inglaterra é um país notável. Gravei lá discos do Rui Veloso e dos Clã. É uma cultura de poucas palavras, straight to the point, funcional. Eles procuram a excelência a transmitem isso. Impressionou-me a ascensão e a queda do hooliganismo. Eu via no metro as paredes pintadas com «morte ao Tottenham» e ficava assustado. Era uma coisa tribal e eles libertaram-se disso, apesar de ser uma sociedade onde borbulha a violência. Na sexta à noite, nos pubs, há sempre alguma coisa violenta prestes a acontecer.    

 

Rui Veloso e Carlos Tê nos anos 70 (arquivo pessoal)


Viu muitos jogos em Inglaterra?

Nem por isso, a malta da música não alinhava muito. Fui uma vez a Craven Cottage, o estádio do Fulham, centenário. Exatamente como no século XIX, parado no tempo. É pegado ao estádio do Chelsea, é como daqui à Afurada, 200 metros. O Fulham é motivo de muitas piadas. Outro dia estava a ler a biografia do Ray Davies, cantor e compositor dos Kinks, e ele falava do fascínio pelos EUA. Há uma altura em que ele diz que chegou a pensar emigrar para lá, mas que não teve coragem. Sabe porquê?

Não.

‘Como é que eu ia matar as saudades dos domingos em Highbury a ouvir os adeptos do Arsenal?’. O futebol é isto, faz parte de nós. Isto é maravilhoso e estamos a falar de um grande escritor de canções.

O seu «Tê» tem a ver com essa ligação emocional a Inglaterra?

Nada, nada. Tem a ver com algo muito mais prosaico: «Tarado Musical». Eu tinha 12/13 anos e era um daqueles chatos que lia tudo o que havia. Comprava o New Musical Express, o Melody Maker, todas as novidades. Sabia tudo e dava grandes secas aos meus amigos. E foi assim que eles me apelidaram de «Tarado Musical». O resto caiu e ficou só o T de tarado. Que passou a ser Tê.

Há uns anos disse que o atrai muito o confronto do racional e do místico no futebol.

Muito. O lado racional e científico, a parte tática, o peso do treinador no banco. Adoro isso. O esquema escolhido para o jogo. A parte mística é o lado religioso, da superstição. O pessoal que salta antes de entrar, os que entram com um santinho no bolso e que partem uma perna quando o não levam, a camisola que tem de ser levada ao estádio, mesmo que esteja suja e suada. Tenho um amigo que não viu o FC Porto-Bayern em 1987 porque estava certo de que ia dar azar à equipa.

A final de Viena?

Sim, ele estava com esse feeling. Ainda hoje acredita que o FC Porto foi campeão europeu porque ele foi caminhar para um bosque. Pobre Madjer, ah ah ah ah.

O Carlos jogou futebol federado ou só na rua com os amigos?

Ainda joguei no Leixões, mas tinha um problema grave no septo nasal e isso limitava-me muito a respiração. Deixei. Ou melhor, nunca deixei porque joguei futebol toda a vida, mas só entre amigos e em torneios. Tinha uma competência enorme no jogo aéreo, uma noção especial para adivinhar esse tipo de lances. O tempo de salto é a medição entre o momento em que a bola é batida e o momento em que temos de apanhá-la lá em cima. Eu era fortíssimo nisso. Isso não se ensina, é instintivo. O Gomes fazia muito bem o salto à peixe e o Jardel era sublime no cabeceamento. A sensação de marcar um golo de cabeça é inexplicável.

É daí que lhe surge o verso «Voar como o Jardel sobre os centrais»?

Precisamente. Por essa minha capacidade de me antecipar e saltar melhor do que os outros. Imaginei-me a voar sobre os centrais e personifiquei-o no Mário Jardel. Sempre tive um prazer infantil de jogar com chuva e lama também. É uma espécie de regressão à infância. Quando a bola pinchava, o frenesim apoderava-se de mim. Adorava o chavascal, ah ah ah ah. A sensação de sair de um jogo desses, tomar duche e sair do balneário… sentimo-nos indestrutíveis.

VÍDEO: o «Jardel a voar sobre os centrais» de Carlos Tê

Aos 64 anos ainda joga?

Agora não, mas até há pouco tempo jogava com os filhos dos meus vizinhos. Batiam-me à porta a dizer que faltava um e nunca tive coragem de dizer que não. O puto que há em mim é assim.

A loucura que sente pelo futebol supera a que tem pela música e a literatura?

Mundos diferentes, sensações diferentes. Para jogar futebol sempre fui capaz de deixar tudo. É uma coisa física, animal. A escrita e a música são mais trabalhadas, pensadas, a recompensa surge mais à frente. No futebol a recompensa do prazer é imediata. É difícil explicar isto a quem não percebe de futebol. O futebol não é só para trogloditas. Quanto tinha 19/20 anos, o futebol era mal visto pela malta intelectual que me acompanhava, mas eu seguia tudo pelos jornais, meio às escondidas, era um criptoadepto, ah ah ah. Nessa fase o futebol era um guilty pleasure.

Lembra-se do dia em que o FC Porto é campeão em 1978, após 19 anos de espera?

Claro, como se fosse ontem. Primeiro há o empate contra o Benfica, com um golo do Ademir já perto do fim. Depois ganhámos ao Sp. Braga por 4-0 na última jornada. Foi uma explosão, um alívio, o fim de uma espera.

A coluna de opinião do Carlos n’O Jogo chama-se «Folha Seca». É uma homenagem ao futebol brasileiro?

Adoro o futebol brasileiro e adoro esse nome. Há quem diga que a folha seca foi inventada por um jogador brasileiro nos anos 60 porque ele tinha um problema num pé e marcava os livres com os dedos dobrados. Era isso que dava esse efeito à bola. Mas lembro-me do Flávio, um avançado do FC Porto nos anos 70, que já rematava assim também. O António Oliveira também rematava assim. Achei piada à expressão.

Consegue eleger o craque da sua vida?

Difícil, difícil… um deles tem de ser o Teófilo Cubillas. Maravilhou-me no FC Porto, era uma máquina. Admirei também jogadores como o Jaime Pacheco, jogadores à Pedroto, coletivos. O FC Porto deve muito ao Pedroto e a esse tipo de jogadores a sua afirmação internacional. Jaime Pacheco, Quim, André, deram imenso ao FC Porto. Hoje olho para o Mattheus Uribe e vejo um médio assim. É uma das grandes contratações dos últimos anos. Prefere apagar-se para pegar na equipa ao colo. Os jogadores hoje olham para o umbigo, o futebol caminha para um star system e todos querem dar o salto rapidamente. Só ouço falar em rampas de lançamento e trampolins. Madjer, Futre e Juary brilharam porque existiam os Andrés e os Jaimes.

E o Pedroto é o treinador que mais representa o «ser Porto» para si?

Sim, mas não só ele. O Pedroto representa a saída da província, do enclave regional. O Artur Jorge simboliza a projeção no mundo. Ambos transformaram o clube e a cidade, o espírito coletivo. Ainda outro dia ouvia o Rodolfo Reis a contar uma história incrível sobre o Pedroto.

Vamos a isso.

Há um penálti contra o Sporting e é o Oliveira que vai marcá-lo. Mas, antes, o Pedroto chama o Romeu ao banco e diz-lhe: ‘olha, o guarda-redes vai defender e a recarga vai ser feita naquela zona tal, vai para lá e aproveita’. O Oliveira remata, o guarda-redes defende e o Romeu marca na recarga. Ah ah ah ah, como não amar o futebol? Isto é só feeling, só intuição.

Já viu o FC Porto ser duas vezes campeão da Europa.

Muito mais do que alguma vez sonhei. Ah, estava-me a esquecer do José Mourinho, outro treinador obrigatório na história do clube. É um treinador em vias de extinção, capaz de travar batalhas com jogadores em prol da equipa. Ele fez uma equipa extraordinária com jogadores razoáveis. Hoje os jogadores não ligam nada à figura paterna do treinador. Chegámos ao ponto em que os futebolistas têm um secretário pessoal. Lembro-me do caso do Gabigol, no Benfica.

Consegue escolher entre o FC Porto de 1987 e o de 2004?

A equipa de 87 tinha mais qualidade individual. Madjer, Futre, Juary, Gomes, um rematador como o Sousa, o Celso. O FC Porto tinha excelentes batedores de livres, algo que estranhamente se perdeu. A equipa de 2004 tinha um sobredotado chamado Deco. Um sobredotado que foi criado pelo Fernando Santos e depois pelo José Mourinho. O resto era malta com qualidade, mas operária também, capaz de dar o litro. O Deco foi o último grande 10 do Porto e um dos melhores que vi a jogar em Portugal.

Quem vê no FC Porto atual capaz de ser o líder do balneário?

O Pepe. Claramente. Mas teve de sair e voltar. O FC Porto deve muito a tipos como ele, mas já antes devia ao Jorge Costa e ao Fernando Couto. Os dirigentes passaram a acreditar que podem vender e comprar à vontade, sem manter o vínculo emocional com os futebolistas. Isso impressiona-me porque as pessoas que decidem sabem que é assim.

Qual é o jogo da sua vida, o que mais mexeu consigo?

Além das finais europeias, claro, há dois jogos inesquecíveis contra o Dínamo Kiev em 1987. O Dínamo era fortíssimo e essa eliminatória é uma coisa do outro mundo. O FC Porto respondeu sempre com qualidade contra uma equipa que era a seleção da URSS. Aí o FC Porto já era um grande europeu, já não cedia à contrariedade, sentava-se em cima da besta e tomava conta do destino. Também me marcou muito um FC Porto-Panathinaikos, nas Antas, em 2003. O Porto perde e o Mourinho diz à malta para ter calma. Fomos ganhar a Atenas e chegámos à final.

Alguém do mundo da música e das Letras o acompanhava ao futebol?

Não, nisso era solitário, ah ah ah, essa malta ligava pouco à bola. Eu sempre fui versátil e transito entre os vários grupos. Tanto falo com um guarda-freios sobre futebol, como falo de literatura com um génio qualquer. Sempre adorei cadernetas de cromos e criei na minha mente nomes que, possivelmente, nunca vi a jogar ao vivo. Posso dizer-lhe que sei de cor e salteado a equipa do União de Tomar que um dia veio roubar um título ao FC Porto. O FC Porto estava à frente do campeonato e eu ia sempre às Antas. ‘É este ano’, dizíamos todos. Mas empatámos contra o União de Tomar e a Académica, com penáltis falhados. O primeiro pelo Valdemar e o segundo pelo Nóbrega. Memórias traumáticas, comigo atrás da baliza. Aparecia sempre a tremedeira.

Voltemos à música. Não há muitas canções boas sobre futebol. Concorda?

Completamente. Talvez por preconceito. Dou o exemplo da minha peça «Um Fio de Jogo». O pessoal do teatro não foi porque era sobre futebol e as pessoas do futebol não foram porque era teatro, ah ah ah ah ah.    

E o seu Juninho Paranapanema tinha lugar neste FC Porto?

Ah ah ah ah, boa pergunta. Criei essa personagem porque representa muito do que é futebolista brasileiro. Vinha cheio de superstições, de origem humilde. Era o espírito errante do futebol, capaz de se transfigurar. Lembro-me sempre do Nilton Santos a falar do Garrincha. O Mané toureou o Nilton e ele no final do primeiro treino foi ter com o treinador aos berros: ‘contrata esse cara, estou farto de ser toureado’. O Juninho é um bocado isso, esse espírito simplório e talentoso.

O Garrincha representa esses futebolistas todos.

Há um livro chamado «Veneno Remédio», do José Miguel Wisnik, que tem uma história maravilhosa sobre o Garrincha. No dia da final do Mundial de 1950, a do trauma do Maracanazo, o Pelé acaba o domingo a chorar, entra em depressão, perde a cabeça. O Garrincha? Passa a tarde a apanhar passarinhos e quando chega a casa vê toda a gente a chorar. ‘Que foi, pessoal?’. ‘O Brasil perdeu a final, Mané’. ‘Só isso? Nossa, que susto!’. O Mané não ligava puto. Para ele o futebol era só curtição, não era digno de sofrimento. O futebol do Garrincha era a bossanova dos relvados: o aproveitamento dos tempos mortos.

O Carlos é mais «Messi e Ronaldo» ou «Messi ou Ronaldo»?

Messi e Ronaldo. É a mesma coisa do que escolher entre Beatles e Rolling Stones, Chico Buarque ou Caetano… quero é os dois! Recuso esse julgamento maniqueísta, Bem versus Mal. Podia até ser Messi-Ronaldo-Neymar, mas o Neymar é da geração-Pogba, da cultura pop. A cabeça não lhe permite a transcendência. Há armadilhas e o Neymar não sabe resistir-lhes. É pena.