A imagem percorreu o mundo e muita gente ficou surpreendida quando viu o treinador adjunto do Atlético Madrid a usar um exemplar de óculos da Google (a denominação oficial é Google Glass) durante o jogo com o Getafe. Soube-se depois que Germán «Mono» Burgos tinha acesso em tempo real a estatísticas do jogo.



O assistente de Simeone serviu de cobaia para uma experiência da Liga, em parceria com a empresa Mediapro e a Universidade Católica de Murcia, sendo que a intenção é disponibilizar os óculos e a aplicação «Mediacoach» a todas as equipas profissionais espanholas. O produto permite a análise do jogo em tempo real e a extração de dados de todos os jogos, próprios e dos adversários, sem perder atenção do desafio que se está a disputar.

As estatísticas estão divididas em quatro secções: gerais, construção de jogo, defesa e finalizações. A navegação é feita através de um simples gesto com o dedo, permitindo atualizações a cada 30 segundos. Os óculos terão armazenadas as estatísticas do jogo anterior sem necessidade de acesso à internet, mas para o funcionamento durante uma partida é preciso obter ligação via wifi ou Bluetooth.







«Os óculos são muito bons, muito úteis para os treinadores. Pode-se ver os detalhes do jogo em direto. Programa-se de antemão o que se quer ver e, depois, pode-se corrigir coisas», explicou Burgos no final da partida que o Atlético Madrid venceu por 2-0.

Esta é, porém, uma utilização muito básica de uma tecnologia com potencial e que pode ir muito mais além, podendos mostrar, por exemplo, repetições de jogadas em vídeo e dados mais completos sobre os jogadores. Neste aspeto há um clube bem mais avançado do que o Atlético Madrid. O Hoffenheim, da Liga alemã, já introduziu a utilização dos Google Glass na preparação das suas equipas, precisamente para perceber a que velocidade correm os atletas ou até a precisão do passe, fornecendo ao preparador físico elementos em tempo real. A informação é recolhida através de uma enorme plataforma, denominada SAP HANA, que recolhe dados dos atletas através da instalação de chips e outros dispositivos de monitorização de rendimento. O «Big Data» ao serviço do futebol.



A evolução da tecnologia neste campo é permitida pelo envolvimento da gigante informática SAP, cujo um dos fundadores (Dietmar Hopp) tem investido profusamente no clube para o tornar mais avançado tecnologicamente. Em 2000 o Hoffenheim militava na quinta divisão alemã, mas o investimento nos últimos anos foi notável e hoje é um dos clubes com maiores perspetivas de crescimento na Bundesliga, sendo apontado como um novo Borussia Dortmund em potência.

Para além da SAP HANA e do Google Glass, a equipa dispõe de uma outra ferramenta revolucionária, que permite o treino solitário do jogador em certas componentes, denominada footbonaut. Depois do Borussia Dortmund, o Hoffenheim foi o segundo clube no mundo a adotar este método e os jogadores não se cansam de o elogiar. Recentemente, até Scolari ficou admirado com inovação e admitiu que pode ser muito útil.



Claro que haverá sempre alguém a torcer o nariz a estas abordagens, mas é um facto que o futebol profissional tem de procurar novas formas de evoluir e a tecnologia pode ser um parceiro importante neste caminho obrigatório. Enquanto a liga inglesa já lucra com a introdução da tecnologia de golo para analisar casos de dúvida que os árbitros não conseguem ajuizar (e já foram muitos), muitos perdem tempo em conversas espúrias sobre os perigos que estas abordagens podem trazer ao futebol.

O comportamento dos céticos é apenas ridículo e atrasa a evolução natural. Os últimos a seguir estas abordagens serão sempre os mais prejudicados e quando lá chegarem já os Hoffenheims estarão muito mais à frente, testando as novas tecnologias e evoluindo em processos de treino, que inevitavelmente os vão conduzir aos títulos.

Os óculos de «Mono» Burgos dão-lhe estatísticas e no futuro próximo podem-lhe dar muitos mais dados, talvez não tão completos como os sugeridos pelo ilustrador Tim Bradford para o jornal «The Guardian».



«Um domingo qualquer» é um espaço de opinião quinzenal do jornalista Filipe Caetano