O Maisfutebol desafiou os jogadores portugueses que atuam no estrangeiro, em vários cantos do mundo, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:
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Leia a apresentação de Barroca
«Olá mais uma vez a todos os leitores,
Na minha apresentação, expliquei que ao mesmo tempo que praticava futebol consegui também concluir a licenciatura em enfermagem. Este será portanto o tema central da crónica de hoje.
Antes, é importante referir que a licenciatura foi iniciada e concluída antes de chegar ao futebol profissional, sendo que no ano anterior de assinar pela Académica (época na qual representei o Tourizense na antiga 2ª Divisão B), cheguei mesmo a trabalhar e a jogar em simultâneo.
Os 1º e 2º anos de curso coincidiram com as épocas em que representei os júniores da Académica e depois o Vigor da Mocidade (clube dos arredores de Coimbra que na altura participava na III Divisão Nacional). Acabaram por não ser anos difíceis uma vez que foram essencialmente teóricos.
A parte mais dura foi não poder aproveitar a vida universitária tal como os meus colegas a aproveitavam. Mas os meus objectivos eram claros e para chegar ao profissionalismo tinha quer ser assim mesmo.
No meu 3º e 4º anos tudo mudou. Para além de serem anos curriculares que se baseavam em estágios, fui jogar para o U.D Tocha (3ª divisão Nacional), clube de uma vila que se situava a cerca de 35km de Coimbra.
O meu dia de estágio iniciava-se às 8h e terminava às 16h30/17h, fazendo o horário normal de enfermeiro durante toda a semana. Após sair do hospital ia para a escola fazer os trabalhos que tínhamos para entregar e por volta das 18h30 partia para a Tocha onde os treinos se iniciavam às 19h30. Normalmente chegava a casa por volta das 22h30.
Se nos primeiros meses o cansaço não era muito, com o passar do tempo o cansaço foi se apoderando de mim e não conseguia nem fazer um bom trabalho como aluno estagiário nem como futebolista.
Foi aqui que começaram a aparecer os primeiros pensamentos se tudo o que eu andava a fazer valia a pena, se todo aquele esforço não seria em vão. Até porque a 3ª divisão ainda estava muito longe dos campeonatos profissionais, e eu sabia bem que eram poucos aqueles que passavam de uma 3ª divisão para uma 1ª ou 2ª Liga.
Provavelmente o meu sonho de ser jogador profissional não passaria disso mesmo, de um sonho, e a vida tinha que continuar por outro lado. Mas é nestas fases que as pessoas que nos conhecem bem são fundamentais para não nos deixarem desviar muito do caminho previamente traçado, e nisso só tenho que agradecer aos meus amigos e à minha família, nomeadamente ao meu pai.
Depois de terminado o curso fui jogar para o Tourizense (2ª Divisão B) e ao mesmo tempo consegui arranjar trabalho. Posso dizer que me sentia realizado, sentia-me bem. No entanto, no final dessa época surgiu a oportunidade de assinar pela Académica e o meu principal objetivo foi então atingido. O meu trabalho como enfermeiro teve de ficar em stand-by.
Posso dizer que a minha vinda para o Servette, está um tanto ou quanto relacionada com todo este percurso, uma vez que quando terminei o contrato com a Académica a situação de empregabilidade em Portugal já não era famosa.
Assim sendo, quando emigrei, pensei que se as coisas não corressem bem a nível futebolístico, podia sempre agarrar-me à minha licenciatura por aqui.
Obrigado a todos os que me apoiaram nesta caminhada,
Até breve,
João Ferreira (Barroca)
Internacional
14 nov 2012, 14:19
Um guarda-redes-enfermeiro que arriscou seguir o sonho do futebol
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