Provavelmente, a partida de futebol mais pequena de sempre. Um minuto mais quatro de descontos. De um lado o Inter de Milheirós, do outro o Vila FC, duas equipas da 2ª divisão distrital da AF Porto.

À partida, tudo parece normal. O relvado sintético de São Pedro de Fins está iluminado, chega o jipe carregado com cinco GNR, as equipas preparam-se para o aquecimento. Aparece também o trio de arbitragem, cumprem-se todos os trâmites na organização de um jogo de futebol.

A bilheteira abre uma hora antes do apito inicial. Cada ingresso custa três euros. Cinco adeptos aparecem e compram o respectivo bilhete. Vêm de Vila Nova de Gaia e acompanham a formação visitante.

21 horas. Pontapé de saída. Ritmo lento, pausado, respeitador. Nenhum dos conjuntos arrisca.

21 horas e um minuto. Jogo parado. O árbitro assistente corre a levantar a placa de descontos.

21 horas e cinco minutos. Apito final, tudo acabado.

O árbitro sai a mancar. Contraiu uma entorse no tornozelo. Ele e os assistentes são os únicos a regressar ao balneário. O Inter e o Vila decidem aproveitar a noite e fazem um treino de conjunto entre si. Logo depois do jogo oficial. O que teve um minuto mais quatro de descontos.

Cinco GNR para cinco adeptos e cinco minutos de bola

Vamos perceber os contornos de tudo isto. Como é que um jogo oficial dura somente cinco minutos? Os elementos dos dois clubes apressam-se a explicar. Em versões ligeiramente diferentes.

Da parte do Inter conta-se que no jogo realizado há dois meses, um suplente do Vila entrou em campo para celebrar um golo e acabou a agredir um adversário. As escaramuças generalizaram-se e o árbitro suspendeu a peleja aos 89 minutos. Daí ter sido necessário cumprir o tempo em falta.

Do lado do Vila, o tal suplente invadiu o terreno do jogo, sim, mas para abraçar um colega. A agressão terá sido perpetrada por um atleta do Inter.

À falta de imagens, sobram as palavras e o resultado da altura: 2-2. Certa, certa, é também a dor de cabeça que esta espécie de jogo causou aos dois emblemas. Principalmente a quem teve a incumbência de o organizar.

«O Inter é um clube pobre. Para cinco minutos tivemos de pagar o policiamento [cinco guardas, cerca de 200 euros], mais taxas de jogo, luz, água e aluguer do campo, pois estamos em casa emprestada», explica ao Maisfutebol Arménio Sousa, dirigente dos maiatos.

Mas podia ter sido ainda pior. «A associação marcou inicialmente isto para as 15 horas. Imagine se tivéssemos de pedir aos nossos atletas para faltarem ao trabalho para virem jogar cinco minutos.»

Não há heróis, mas faz-se história

A noite está agradável. Nos balneários predomina o odor a bálsamo. Os dois técnicos estão tranquilos, ainda que esperançados num golpe de surpresa ao adversário.

Afinal, como se prepara uma partida que dura, recordemos, um minuto mais quatro de descontos?

«Creio que a história está feita. Vamos entrar tranquilos, com fair-play e concentrados, a ver o que dá. No futebol há quem marque dois ou três golos em cinco minutos», diz-nos Edmundo Duarte, treinador do Vila FC.

Joaquim Canário, técnico do Inter, acredita numa alegria. «Vamos atacar e tentar surpreender, como fazemos sempre na parte final de cada jogo. A diferença aqui é que as equipas estão fresquíssimas e muito sólidas, mesmo no período de descontos.»

O 2-2 com que se começa não ata nem desata. A toada é salomónica, relaxada. Há um treino longo para cumprir logo a seguir.

Ninguém se atreve a ser herói, apesar de todos inscreverem o nome na história. Este foi, certamente, o mais curto jogo de todos os tempos.