Antes de tudo mais, perdoem-me e desenganem-se aqueles que, sabendo que sou repórter desportivo, esperam de mim o gosto pela discussão das táticas do futebol e assuntos afins. Não sou assim. Gosto do Desporto pelo espectáculo que é ou que deve ser. Só. Isso basta-me.

Dito isto, avanço para o que me traz aqui. Neymar. E Futebol Americano. Ambos. Sim, assuntos totalmente diferentes mas ambos. Mas acima de tudo Neymar. Embora comece pelo Futebol Americano.

Este fim-de-semana, aconteceu aquele que, provavelmente, será o melhor «touchdown» de sempre na NFL (National Football League ¿ a liga mais importante de Futebol Americano do mundo). O salto mortal de Jerome Simpson (dos Cincinnati Bengals - se não viu, veja, que vale a pena!...) para marcar frente aos Arizona Cardinals é qualquer coisa de quase normal. Sim, no Futebol Americano TUDO é espectáculo. Desde a conferência de imprensa de antevisão a um qualquer jogo da jornada, passando pelas variadíssimas entrevistas dos jogadores (qualquer um que os meios de Comunicação Social peçam ¿ e não só os que clubes/equipas designem para falar à imprensa) antes, durante e depois os jogo. Enfim. Na NFL, onde «correm» tantos ou mais milhões do que no Futebol («Soccer»), o público é quem mais ordena e o Desporto praticado, dentro e fora de campo, é «propriedade» do adepto e não do dirigente, da super-estrela da equipa ou do mero «falaremos-se-ganharmos-e-não-falaremos-se-perdermos, a não ser que seja para falar mal do árbitro». Desporto é espectáculo. Ponto.

Agora Neymar. O miúdo do Santos é uma lufada de ar fresco naquilo que é (ou deve ser) o espectáculo do Futebol, na minha opinião. O estilo e bom gosto do corte de cabelo é duvidoso, evidentemente. Se é bom jogador já todos percebemos que é. Mas acima de tudo, Neymar um rapaz bem disposto, que tem inequívoco gozo naquilo que faz e cuja alegria é tão contagiante que as imagens que vamos vendo dele com os colegas no clube e na selecção brasileira fazem jus àquilo que Neymar parece ser, neste momento, para o Futebol mundial. Gozo puro. Prazer. Espectáculo.

(Antes de continuar, uma palavra de apreço à Santos TV, o canal multimédia do «Peixe», pelo acesso que nos dá ao ambiente vivido, por exemplo, no balneário da equipa. Mesmo que sejam só uns poucos segundos, é MUITO mais do que estamos habituados a ver no Futebol europeu, já para não falar do português)

Neymar é aquilo que não vemos nem em Ronaldo, nem em Messi, nem em Xavi e, vá, que vemos um pouquinho em Iniesta, porque este último tem uma curiosíssima relação com o fãs no Facebook mas longe do que Neymar mostra ao mundo ou do que «terceiros» (bem os hajam!) mostram ao mundo, de Neymar.

O jovem «prodígio» brasileiro é visto constantemente nos «bastidores» a dançar, cantar, mandar mensagens para uma câmara... tanto quanto a marcar golos de que dificilmente nos esqueceremos. E ainda «tempera» tudo isto com uma admissão de humildade após a derrota de 4-0 frente ao Barcelona na final do Camp. Mundial de Clubes da FIFA. Mesmo que não pareça, tudo isto que Neymar faz é espectáculo. No fundo, é (só) isto que o verdadeiro adepto da bola quer. Ser entretido, sem dramas (de «vida ou morte» ou de outro género qualquer). Ver bola bem jogada, bem tratada e, se possível, bem falada.

Por muito que se queira, nem Ronaldo, nem Messi, nem Xavi o conseguem fazer/mostrar consistentemente, devido ao peso das estruturas que os amparam/detêm. Iniesta consegue um bocadinho. E Neymar consegue-o com aparente facilidade. E isso só faz bem ao Futebol, no seu todo. Digo eu.

Nesse sentido, preocupa-me, sinceramente, que ande meio mundo a falar de Neymar e do que deve fazer no futuro mais ou menos próximo.

( continuação)