Quando pensamos em padres, t-shirt, calções e sapatilhas não serão as primeiras ideias que nos vêm à mente, mas foram muitos os que estiveram assim vestidos entre 26 fevereiro e 1 de março, em Celje, na Eslovénia, no campeonato da Europa de futsal de padres.

Não fosse o nome, «Champions Clerum», e ninguém diria que em campo estavam sacerdotes. No jogo, a batina dá lugar ao equipamento com as cores nacionais e também há lugar a uns lances mais quentes e até alguns pedidos ao divino nos momentos dos penaltis.

Em 2012, Portugal sagrou-se campeão da Europa, mas na edição deste ano, não passou do 5º lugar. O craque da equipa lusa, o padre Marco Gil, capitão da seleção portuguesa, falou ao Maisfutebol sobre este campeonato e sobre como é ser padre e jogar futsal.

«Alguma falta de vontade»

«Este ano ficámos em 5º lugar. É verdade que também apareceram mais equipas, foram 13, e, como nós fomos campeões no ano passado, as equipas também se fecharam mais a jogar contra nós. Mas, além disso, a preparação das outras equipas é completamente diferente da nossa», começou por explicar o capitão português.

E quais são as diferenças? «Por exemplo, a Polónia treinava três vezes por semana. Isso é impensável para nós. Em Janeiro e Fevereiro ainda conseguimos treinar ao domingo à noite e à segunda-feira, mas antes disso, não», frisou.

O padre Marco Gil admite que as mudanças na equipa também possam ter dificultado o rendimento. «Temos dois ou três jogadores que nunca tinham competido. Além disso, somos quase todos do norte, mas desta vez tínhamos um jogador que tinha de vir de Évora», lembra, mas não muito convencido que tenha sido esse o fator decisivo para a classificação menos conseguida. «Na Croácia, por exemplo, havia um jogador que tinha de fazer 600 quilómetros para ir treinar. As dificuldades não são só nossas, é preciso depois é ter vontade e paixão para as superar», frisou.

E faltou essa vontade à equipa portuguesa? «Faltou um pouco», admite. E dá um exemplo de superação. «A Polónia, que venceu a prova este ano, teve sérios problemas para se apurar para a final. A três minutos do fim, o jogo estava 0-0, mas acabaram por conseguir marcar dois golos».

«Este campeonato mudou», explica. «No início, há seis anos, o mais importante era a participação, mas agora é a competição. Isto já não é um passeio».

«Também somos homens»

E essa parte agrada ao craque da equipa nacional. «Sempre joguei futebol e adoro a competição. Participo todos os anos no torneio da minha terra e gosto de ganhar. Gosto daquilo que faço, sinto uma enorme paixão».

E nem o facto de serem sacerdotes muda a postura em campo. «Dentro de campo não deixamos de ser padres, mas também somos homens. Ninguém vai jogar para perder e claro que às vezes há discussões, conflitos, mas se não tivéssemos essa paixão, o que íamos lá fazer?», questiona. «O importante é que no final nos cumprimentamos e fica tudo resolvido», assegura.

Marco Gil admite que este gosto pelo futebol

até «facilita a relação com os jovens e com as crianças» nas paróquias onde é colocado. E desafiar os paroquianos para uma partidinha? «Continuo a jogar todas as sextas-feiras com um grupo de agora ex-paroquianos», conta.

«Às vezes, até um pedido a Deus»

E em campo, usa a ligação a Deus, no momento dos penaltis, por exemplo? «Nós vencemos o campeonato no ano passado nos penaltis, e este ano perdemos a passagem às meias-finais nos penaltis. Claro que temos que confiar nas nossas capacidades, mas às vezes não conseguimos deixar de pedir: Oh senhor, podias dar uma ajuda agora», confessa.

E com ou sem ajuda divina, o padre Marco Gil diz que não tenciona deixar de jogar tão cedo, nem de representar a seleção. «Já estou nisto há seis anos e dá muito trabalho. Às vezes a minha mãe pergunta-me se vale a pena. É difícil explicar aos outros porquê, mas é porque tenho uma grande paixão pelo futebol», garante.