Campo emprestado, um relvado de futebol. Há bola, mas não é redonda. As balizas habituais, com uns paus ao alto a fazer a marcação dos mais de três metros de altura. E fita-cola no chão, muita mesmo, a acrescentar as «linhas de fundo» de um desporto que poucos conhecem, menos percebem e pelo qual raros se interessam. Em Portugal.
Falamos de futebol americano, de uma tarde diferente que o Maisfutebol acompanhou no domingo. Três horas de contacto físico, de disputa guerreira, com muitos gritos pelo meio. O jogo disputa-se em duas metades de 40 minutos, mas o relógio pára a cada falta, a cada pausa. O tempo arrastou-se no Campo dos Trabalhadores da Câmara Municipal do Porto. Três dúzias de rapazes praticam o desporto da sua preferência (ou da sua corpulência) como se não houvesse amanhã. Nove contra nove, como manda a Liga Ibérica. Uns por cima dos outros, um aparente «tudo ao molho e fé em Deus», mas há regras, há estratégia neste jogo.
A ementa do dia foi o (quase) clássico Porto Renegades-Lisboa Navigators, um jogo ao estilo das rivalidades norte-sul, uma partida de gosto invicto e importância capital. Também há fãs de um outro futebol no nosso país, verdadeiros adeptos dos «Três pontos para o País de Gales», em que se trocam golos por pontos, em que se trocam simpatias por lutas corpo a corpo. Em que se ultrapassam as fronteiras lusas, por inexistência de competição, para ir mostrar as garras ao país vizinho que acolheu e agradece a presença portuguesa no seu campeonato nacional.
Crescimento sustentado
«Começámos a jogar há dois anos e meio, profissionalmente. No ano passado decidimos entrar para a liga espanhola, também de acordo com o convite que nos foi feito pela federação vizinha. Em Portugal não há competição, é por isso que jogamos em Espanha», explica ao Maisfutebol Daniel Correia, fundador e presidente dos Renegades nortenhos. O desporto não tem visibilidade suficiente no nosso país, mas está a ganhar raízes. «Está claramente em crescimento, felizmente. Já há vários projectos de novas equipas. Fala-se de futebol americano em Évora, Setúbal, Coimbra.»
A liga espanhola de futebol americano tem duas divisões, como nos explicou Juan Ortiz, capitão dos Navigators. O primeiro nível conta com 12 equipas, o segundo com nove. A turma de Lisboa é a «melhor equipa portuguesa» e mostra-se já ao nível das «profissionalíssimas» espanholas. «Contamos este ano só com vitórias, estamos em primeiro lugar e com presença assegurada nos Play-offs», confidencia o número três dos Navigators, após mais um excelente resultado. 0-46 foi quanto ficou este clássico de bola oval, com os festejos finais a pertencerem aos visitantes lisboetas.