Albergaria é uma terra de sportinguistas. Não é de hoje, aliás: há quase um século que é assim. A ligação da cidade com o Sporting vem dos anos trinta do século passado. A partir daí arrastou-se como se arrastam os brasões: passado de geração em geração.

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Na altura cada família tinha cinco filhos e os pais obrigavam todos os cinco a ser do Sporting . Já pode imaginar como isto era...», conta ao Maisfutebol o presidente José Pinho.

A origem da paixão de Albergaria pelo verde e branco encontra-se em longas noites: dormidas que incluíam um jantar e um passeio pelo jardim.

«Havia um senhor aqui de Albergaria que era diretor do Sporting e de cada vez que o Sporting vinha jogar ao norte ficava a dormir na Estalagem Alameda. Os jogadores ficavam por aí, jantavam, depois iam dar um passeio pelo jardim no centro da localidade e conviviam com as pessoas», acrescenta Albérico Madaíl, homem da cidade e depositório de muitas histórias.

Há até quem se lembre ainda das noites em a equipa de ciclismo parava em Albergaria para descansar da Volta a Portugal. Era uma animação na localidade: um Sporting, uma estalagem, várias noites de conversa com as pessoas da terra nos bancos do jardim.

Por isso, e porque a legião sportinguistas aumentava a cada nascimento 
na  cidade, Albergaria decidiu que devia ter o Sporting na pele.

O Sport Clube de Albergaria, o primeiro clube da terra, mudou para Sporting Clube de Albergaria e passou a vestir de verde e branco. Filiou-se ao Sporting Clube de Portugal em 15 de Janeiro de 1930 e recebeu o número de filial número 40.



«Era uma homenagem das pessoas ao clube. Tinha uma grande rivalidade com o Arregaça Futebol Clube, que vestia de azul e branco como o FC Porto. Já não sou desse tempo, mas cresci a ouvir as histórias desses confrontos.»

Ambos, Sporting de Albergaria e Arregaça, acabaram antes do Alba nascer, mas a verdade é que o Alba nasceu como Sporting: Sporting Clube Alba. Hoje é Sport Clube Alba. Nunca vestiu de verde e branco, mas trouxe o Sporting no nome.

O Sporting anda sempre nas conversas de Albergaria, como pode perceber-se. Agora, em vésperas do Alba se deslocar a Alvalade, mais do que nunca.

«É uma euforia na cidade. Anda tudo louco», conta Renato Valente. «Mais de metade das pessoas da localidade são sportinguitas. Dizem que Albergaria vai em peso para Alvalade.»

Foram reservados quarenta autocarros, mas não há certeza que se consigam enchê-los a todos.

Renato Valente vai no autocarro da equipa: tem 24 anos, é extremo esquerdo e vai ser titular. Anda feliz da vida, claro. «Como sportinguista assumido é um privilégio imenso ir jogar a Alvalade.»

Tem outra curiosidade: é irmão de Diogo Valente, extremo esquerdo da Académica, que há menos de dois anos deixou o Sporting em lágrimas com uma assistência que foi meio golo. Ganhou a linha de fundo e cruzou a meia altura. Marinho só teve de empurrar para golo ao segundo poste, na tarde em que a Académica invadiu o Jamor para levantar a Taça de Portugal.



Será este um tónico para Renato Valente imitar o irmão?

« Acredite que já pensei muitas vezes como seria se vivesse o que o meu irmão viveu nesse jogo», responde Renato Valente. «Vou perguntar-lhe como ele fez...»

«Desta vez vou jogar a extremo esquerdo, que é a posição dele, e devo enfrentar o Cedric, que jogou com ele em Coimbra. Vou ter de saber quais são os pontos fracos do Cedric para explorar.»

Renato Valente confessa de resto que não sentiu nenhum remorso por torcer pela vitória da Académica contra o Sporting no Jamor, e seguramente não vai sentir agora.

«Vamos a Alvalade para tentar impor o nosso ritmo e fazer uma surpresa. Mas vamos sobretudo para nos divertir, fazer um jogo bom e tentar deixar contentes as pessoas de Albergaria. É gente de bem, que merece uma alegria.»

Gente de bem, claro. Ou não fosse a maioria sportinguistas como ele.

«Esta é uma grande oportunidade. Estive dois anos parado por causa de uma lesão, mas o futebol é a minha paixão e a minha vida. Tenho a esperança que este jogo seja o início de algo muito bom para mim. Quero chegar a patamares mais elevados.»

Domingo, às 18 horas, em Alvalade, chega essa oportunidade.

Frente ao verde e branco que tantas vezes encheu Albergaria de cor.