O Maisfutebol desafiou os jogadores e treinadores portugueses que atuam no estrangeiro, em vários cantos do mundo, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:

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Leia a apresentação de Jorge Rodrigues

JORGE RODRIGUES, NOMME KALJU (ESTÓNIA):

«Olá a todos,

As férias acabaram e já voltei à Estónia, onde vou passar o natal, cheio de energia para uma longa pré-época, que durará três meses. Estão menos 10 graus e há muita neve por todo o lado. A primeira semana de treinos foi num indoor de relvado sintético, ginásio e por duas vezes correr na neve! Com a roupa adequada, aguenta-se bem.

Mas desta vez vou recordar a minha passagem pela Tailândia, onde tive o prazer de viver durante algum tempo com o Zezinando em Bangkok e treinar à experiência no Muang Thong United que era treinado pelo mister Henrique Calisto (muito famoso por lá).

Estive na Tailândia dois meses, em período experimental, e vivi momentos bastantes enriquecedores. Desde andar nos tuc tuc (um táxi-mota com atrelado) no meio de um mar de gente, numa cidade que nunca dorme, até sentir aquela mistura de cheiros exóticos de comida nas ruas por onde se passa.

Os treinos eram sobretudo fora da cidade de Bangkok, em centros de estágios que estão situados em zonas rurais. Lembro-me que numa das viagens, após uma tempestade, tivemos de esperar cerca de 20 minutos por um lagarto gigante que estava a atravessar a estrada. Eu não gostei nada mas para eles era algo normal.

Havia calor intenso e muita humidade durante o dia. Por isso, treinávamos a partir das 18 horas. As melgas não nos largavam e, após ser bem picado no primeiro treino, aprendi a usar o repelente.

Os relvados sempre altos e as condições climatéricas desgastavam-me. Chegava a casa, jantava e ia direito para a cama. Acordava e comia ovos estrelados com arroz e galinha. Era o que havia no menu! Para eles, só há pequeno almoço e jantar, o que para mim não chegava.

Os estádio estavam sempre cheios, com claques muito organizadas e com convívio imenso entre os adeptos dos clubes.

Mas o episódio que mais me marcou foi uma viagem que fiz de Chiangmai, no norte da Tailândia (onde estava a treinar à experiência) para Bangkok. O empresário disse-me às 22 horas que eu teria de estar em Bangkok às 15 horas do dia seguinte. Havia um clube que queria assinar contrato comigo.

Eram 10 horas de viagem de autocarro! Ainda procurei um avião mas nada. Corri para a estação e consegui lugar porque o motorista se atrasou. Quando entrei para ocupar o meu lugar, fiquei espantado ao ver galinhas em gaiolas, muitas crianças ao colo e claro pouquíssimo espaço. Mas estava tão cansado dos treinos que adormeci em dez minutos.

Estava a dormir calmamente até que fui acordado por uma galinha a esvoaçar na minha cara! Despertei com um susto, depois eram crianças a chorar, um alvoroço para apanhar a galinha e colocá-la na gaiola, um calor infernal (não havia ar condicionado), eu cansado dos treinos e viagens, etc. Nesse momento, senti-me mesmo um cidadão do mundo.

Lá cheguei a Bangkok, treinei no Thai Honda e correu bem. Contudo, era o último dia de inscrições e o processo não ficou pronto a tempo. Assinámos um pré-acordo para janeiro mas, pouco depois de deixar a Tailândia, recebi este convite para jogar na Estónia, onde estou com prazer. De qualquer forma, não esqueço essas experiências!

Até breve,

Jorge Rodrigues»