O F.C. Porto ultrapassou em esforço uma deslocação minada de dificuldades e regressa a casa com uma única coisa em mente: tratar de preparar o champanhe para os festejos. Metê-lo no frigorífico e assegurar-se que está pronto para ser consumido. Ainda não é honesto agendar a festa do título, é verdade, mas convém começar a pensar nisso.
A vitória em Guimarães, num terreno com hostilidade a rebentar pelas costuras, perante um adversário aguerrido e um ambiente agressivo até dizer chega, dobrou o penúltimo cabo das tormentas até final da temporada. Sobra apenas uma deslocação difícil, aos Barreiros. Se a equipa não voltar a comprometer em casa, tem tudo para ser campeã.
Pela amostra desta noite, é pouco provável que comprometa. O F.C. Porto apresenta-se cada vez mais forte, na fase decisiva da época. Pode dar-se ao luxo de deixar de fora Lucho, Lisandro e Rodriguez, e continuar a vencer. Com dois golos de duas segundas escolhas, aliás: Mariano e Farias. Em dez minutos deram uma volta completa ao jogo.
O campeão está forte, portanto. Está pujante, está seguro, está um senhor. Somou a oitava vitória seguida fora de casa, somou mais de cinco meses sem perder e lançou pressão sobre os rivais de Lisboa. Nesta altura é claro como a água: uma escorregadela é o fim do sonho para Benfica e Sporting. O F.C. Porto assobia para o lado, claro.
Hulk, com um ar de Maradona
A vitória portista, já se disse atrás, foi arrancada em esforço. O V. Guimarães marcou cedo, logo aos 19 minutos, na segunda oportunidade de golo que teve. Rolando e Bruno Alves falharam, Roberto inaugurou o marcador. O Porto já mandava no jogo por essa altura, a partir do golo adversário tornou-se ainda mais dominador. Sabia o que queria.
Para tentar lá chegar, apoiava-se todo em Hulk. A pujança que os azuis e brancos mostram nesta fase tem muito a ver com o futebol produzido pelo fenómeno brasileiro. Está cada vez mais forte, mais confiante, mais eficaz. Houve alturas, sobretudo na primeira parte, em que Hulk sozinho lançava o pânico sobre a defesa do V. Guimarães.
O brasileiro fazia lembrar até Maradona no Mundial 86. Quem diz que um jogador sozinho não ganha um jogo, mente. Maradona ganhou um Mundial praticamente sozinho. Pois bem, esta noite Hulk parecia querer fazer a mesma coisa. Enchia o campo em fintas, aberturas, desmarcações, remates. O resto da equipa limitava-se a segui-lo.
O descaso e finalmente os golos
Embora o Guimarães tenha sido uma equipa muito competente, concentrada na defesa e preparada para sair rápida para o ataque, a verdade é que o F.C. Porto só não chegou ao intervalo a vencer porque Farias falhou por duas vezes à boca da baliza. O zero portista era um prémio para a competência do V. Guimarães, mas ameaçava ser temporário.
Era mesmo. Na segunda parte, o F.C. Porto deu a volta ao resultado cedo e partiu para a vitória. Curiosamente fê-lo em aproveitamento de duas falhas adversárias. Sabe-se que este campeão vive muito disso, do aproveitamento cirúrgico dos erros alheios. Empatou por Farias numa falha de Moreno, fez o segundo por Mariano numa falha de Milhazes.
Já agora uma curiosidade, o lateral vimaranense desconfiava ser um amuleto, sempre que era titular o V. Guimarães ganhava... afinal era engano. Como Rolando tratou de confirmar, aliás, já muito perto do fim. Depois de uma atrapalhação de Helton ter lançado o pânico na defesa portista. Nada que coloque em causa a vitória azul e branca.