«Depois de um acidente na estrada, tem-se mais cuidado e, até, algumas dúvidas sobre a condução»

Rui Vitória manifestou a sua preocupação na ressaca da goleada em casa do Sp. Braga (4-0). Bluff, talvez. O Vitória manteve a tendência para o excesso de velocidade, a acutilância descoordenada, perigosa até, em busca do golo. Foi feliz. Marítimo por terra ao minuto 73, graças a Edgar. Castigo pesado para os insulares.

Os bons resultados do passado recente disfarçam a crise interna no V. Guimarães, englobando a indefinições diretiva e mesmo vencimentos em atraso. Não é fácil motivar um grupo nestas condições. «Caramba, é bom que todos tenham noção que as coisas têm sido complicadas.»

O aviso fica para memória futura. O resto é futebol. Mais um triunfo, quinto lugar a seis pontos e um Marítimo europeu vergado ao peso das evidências. Desfecho justificado pelo Vitória na reta final da partida, já depois do golo. O Sporting agradece.

Vitória sem freios

O treinador vitoriano terá descartado o limitador de velocidade. Com Urreta e Nuno Assis de volta ao onze, a formação minhota foi tudo menos um exemplo de ponderação e futebol pausado.

Pelo contrário. O Marítimo, esse sim, denotou a tranquilidade de equipa grande na posse de bola. Jogo de passes curtos e geométricos, garantindo ascendente nos minutos iniciais.

Na frente, força e irreverência africana. Heldon veio de Madagáscar, com James em ponte aérea, para ganhar a titularidade a Danilo Dias. Do outro lado, um Sami possante e desequilibrador, provocando alguns sobressaltos.

Ultrapassado o primeiro quarto-de-hora, o Vitória conseguiu assentar o seu jogo e intimidar o adversário. Conseguiu isso mesmo a alta velocidade, sem freios, postura típica e acutilante em busca da baliza contrária.

Faltaram oportunidades de golo a uma etapa inicial de relativo interesse. O Marítimo recuou no terreno sem esquecer o seu trio ofensivo, capaz de encetar planos maquiavélicos por conta própria. Em cima do intervalo, um par de exemplos concretos, sem o necessário sentido de baliza.

Marítimo ao lado da história

A etapa complementar soava a repetição, algumas promessas e golos nada, NDiaye antecipava-se a Pouga e evitava a irritação local, Toscano isolava-se a passe de Edgar e atirava para as nuvens, sem sentido, com a lástima de quem gosta de um espetáculo colorido, mexido, de desfecho inesperado.

Pedro Martins quer entrar na história do Marítimo e, em noite de regresso simbólico ao Berço, jogava com a derrota do Sporting em Setúbal. A formação insular precisaria apenas de um ponto para chegar ao quarto lugar.

Os madeirenses não disfarçaram essa preocupação. Respeitaram o adversário mas entraram melhor, saíram por cima ao intervalo e voltaram com a mesma disposição. A casa parecia deles, coisa madura, pensada, trabalhada. Faltava velocidade, apenas.

Golo em excesso de velocidade

Seria esse fator, precisamente, a resolver a contenda. O Vitória, que não sabe jogar de outra forma, carregou como se não houvesse amanhã. Tudo num ápice, um desafio à vista desarmada, toque de Alex, outro de Toscano, golo de Edgar.

Ao minuto 73, o Vitória fazia o mesmo que o seu homónimo de Setúbal e equilibrava a luta pelo quarto lugar. Sporting e Marítimo empatados na classificação. Mais que isso, o Guimarães reforçava até o seu estatuto nessa matéria, ficando a seis pontos da dupla.

Pressão final e inconsequente do Marítimo, escassez de oportunidades nesses focos de pressão e expulsão justa de Roberge, os vitorianos confortáveis na liderança, seguros, felizes até. Conduzam sem prudência. Têm qualidade para tal.