Guimarães não dormiu. Também não era para dormir; quando se espera 91 anos pela conquista de um troféu desta envergadura a festa têm é que ser da rija. E assim foi. Um sonho que há muito pairava na ânsia dos vimaranenses traduziu-se numa realidade difícil de descrever.

Os rostos carregados de lágrimas, logo após o apito final de Jorge Sousa, traduzem aquilo que para os adeptos do V. Guimarães significa a conquista da Taça de Portugal. «Já posso morrer descansado» foi uma frase diversas vezes ouvida ainda nas imediações do Estádio de Honra do Jamor. Um exagero é certo, mas que se compreende pelo calor do momento, e é também elucidativo do histórico momento.

Os 375 km entre Oeiras e Guimarães, que nem sempre se processam da forma mais confortável de autocarro, pareciam ter encurtado consideravelmente. «Não é preciso parar senhor motorista, só precisa de pôr o pé no travão quando chegar ao Toural. E se não se importar leve-me a geleira a casa, que isto agora é para durar», dizia um adepto na mata do Jamor.

O receio de não caber no Largo do Toural era real, a meias com o relato de que já ninguém arredava pé na principal praça vimaranense. De facto, o Largo do Toural foi pequeno para tanta sede de ver a Taça.

O aglomerar de pessoas obrigou a um forte contingente policial nas ruas de Guimarães, trânsito cortado nas principais artérias e uma preocupação imensa por parte das forças de segurança em assegurar que o amontoar de pessoas não começava logo na circular urbana de Guimarães.

Passava meia hora das duas da manhã quando a Taça finalmente pôs os olhos na multidão que há muito esperava. Milhares de bandeiras, um número incontável de pessoas envolvidas em fumos e artefactos pirotécnicos. Êxtase total, entre cânticos, cachecóis ao vento e mais lágrimas.

Afinal, há 91 anos que esperavam por um grande título para a Cidade-Berço. Outras gerações tiveram o sonho, mas apenas na sexta final o V. Guimarães conseguiu conquistar a Taça de Portugal.