Val Teixeira nasceu em Lisboa, no ano da graça de 1977, e tem uma história feita de muitas curvas. A carreira, essa, foi praticamente toda cumprida nos Estados Unidos, mas apenas por um daqueles infelizes acasos que na altura o chatearam. Em Portugal deixou os momentos mais gloriosos.

Começou a jogar no Amora com seis anos e fez toda a formação no clube da margem sul: numa altura em que o Amora era um histórico do futebol luso. Foi chamado à equipa nacional, quando Carlos Queiroz comandava todo o edifício das selecções jovens, e chegou a vestir a camisola do Benfica.

Pelo caminho foi tocado pelo dedo de Jorge Jesus. «Estava nos juniores quando ele treinava a equipa sénior, que jogava na Liga de Honra. Jorge Jesus costumava ir ver os treinos dos juniores e chamou-me para um jogo de apresentação do Cova da Pidade.» Foi a estreia de Val Teixeira nos seniores.

Para o actual treinador do Benfica sobram elogios. «Notava-se que é grande treinador, com muitos conhecimentos. Colocava a equipa a jogar numa táctica muito arrojada. O Amora tinha um central muito bom, que era o Quim, e Jorge Jesus fazia uma táctica ofensiva, com três defesas. Era ousado.»

O Benfica no caminho...

Val Teixeira deu nas vistas no Amora e ganhou direito de ir para o Benfica. «O treinador era o José Morais. Trabalhei com grandes promessas, por exemplo o Maniche ou o Veiga. Eram jovens que iam dar jogadores, notava-se. Foi aí que abri os olhos e percebi que o futebol podia ser o meu futuro.»

A vida corria-lhe bem, portanto, quando a notícia caiu como um raio: a família ia mudar-se para o lado de lá do Atlântico. «Os meus pais estavam desde 1984 à espera da licença de trabalho nos Estados Unidos, que chegou em 1994. Por isso venderam a casa e começaram uma vida nova.»

Val Teixeira tinha 17 anos e ficou desfeito. «As coisas corriam bem em Portugal: Jorge Jesus tinha-me dado confiança e estava no Benfica. Não queria ir, mas não tinha onde ficar.» Agora, outros 17 anos depois, confessa pensar no que teria sido dele se tivesse ficado. «Foi uma pena vir para aqui.»

... e a ignorância dos americanos

Para aqui, claro, é para os Estados Unidos. Onde Val Teixeira encontrou uma realidade muito diferente. «As pessoas não sabem o que é o futebol», conta. «Até vão aos estádios três ou quatro vezes, porque é um hábito, e os jogos têm boas assistências, mas os adeptos não têm noção do que é o futebol.»

Nos Estados Unidos fez carreira em quatro clubes e em todos eles encontrou a mesma realidade. «Só se manifestam quando há um golo. Não aplaudem um bom passe, ou uma boa recepção, como acontece na Europa, porque não têm noção do que é o toque de bola. Só percebem o óbvio: os golos.»

Apesar disso, elogia, dedicou a vida ao futebol e ganhou independência financeira à custa disso. «Muitas vezes falo com amigos meus em Portugal que dizem que têm quatro ou cinco meses de salários em atraso e não sabem como vai ser a vida deles. Aqui isso não existe: pagam sempre a horas.»

Pelo meio experimentou o futebol inglês. «Foi espectacular.» Jogava no Crystal Palace Baltimore, foi chamado pelo Crystal Palace e acabou no Chesterfield. «Inglaterra é uma loucura», diz. «Não se pode se sair à rua, os adeptos querem falar, tirar fotos... No início gostava, mas sou reservado e cansei-me.»



Por isso voltou aos Estados Unidos para representar o Real Maryland. Onde ainda joga, aliás. Aos 34 anos, porém, diz que a carreira está a acabar: mas o futuro vem aí e diz ser sorridente. Fundou uma escola de futebol, a Portuguese Soccer Touch, e treina duas equipas universitárias de futebol feminino.

«Vou falar com José Morais para ir estagiar com Mourinho no Real Madrid e continuar a aprender. O futuro passa por ser treinador aqui. Há cada vez mais miúdos a jogar à bola, o futebol é o desporto mais praticado na rua e dentro de alguns anos os Estados Unidos vão ser uma potência.»